Boris enfrenta crise no início do congresso conservador
A grande reunião dos conservadores, que no ano passado não aconteceu de modo presencial em consequência da pandemia, tem como sede a cidade de Manchester, uma região que tradicionalmente vota no opositor Partido Trabalhista
O talento do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, para o escapismo político será testado no congresso anual do Partido Conservador, que começa este domingo (3), em plena crise de abastecimento devido à pandemia e ao Brexit.
A grande reunião dos conservadores, que no ano passado não aconteceu de modo presencial em consequência da pandemia, tem como sede a cidade de Manchester, uma região que tradicionalmente vota no opositor Partido Trabalhista.
Depois de arrebatar da esquerda boa parte dos redutos operários nas legislativas de 2019, com a promessa de "tornar realidade o Brexit", Johnson, de 57 anos, que discursará na quarta-feira para os militantes, deve agora convencer os eleitores sobre as vantagens da saída da União Europeia.
No momento, os efeitos do Brexit parecem apenas estar agravando algumas das consequências da pandemia, sobretudo a dificuldade para encontrar caminhoneiros - faltam até 100.000 em todo o país - para reabastecer os supermercados e os postos de gasolina.
Os motoristas britânicos enfrentaram durante 10 dias filas intermináveis nos postos, uma consequência de um movimento de pânico provocado pela notícia de que algumas redes enfrentavam escassez diante da falta de caminhoneiros para transportar o combustível a partir dos pontos de armazenamento.
Muitos deles, procedentes especialmente do leste da Europa, retornaram a seus países devido à pandemia e agora as novas regras de imigração pós-Brexit dificultam a chegada de outros.
"No momento não há uma visão pós-Brexit", considera Tony Travers, diretor do Instituto de Assuntos Públicos da London School of Economics. Ele destacou que "os conservadores devem cumprir suas promessas".
Especialmente porque entre a opinião pública parece estar diminuindo o efeito do sucesso da campanha de vacinação contra o coronavírus, que conseguiu fazer as pessoas esquecerem a errática política de saúde de um dos países europeus mais afetados pela pandemia, com mais de 136.000 mortes.
No sábado, Boris Johnson expressou sua determinação a "reconstruir melhor" o país após a pandemia, apesar dos problemas de abastecimento.
"Não resistimos à covid-19 para voltar à mesma situação de antes", declarou Johnson.
Depois de destacar que seu governo cumpriu a promessa de concretizar o Brexit e que a administração conseguiu vacinar a maioria da população, ele prometeu "decisões ousadas" para responder às prioridades dos britânicos, como emprego, segurança e mudança climática.
"Tudo isto mostra que cumprimos com a nossa palavra e agora é o momento de ir mais longe. Não apenas para recuperar, mas para reconstruir melhor", afirmou.