Cesta básica mais cara pesa no bolso do paraense

Consumidores têm que desembolsar mais da metade de um salário mínimo para comprar o necessário, mostra pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

qua, 08/12/2021 - 13:23

 

O consumidor paraense tem que pagar mais da metade de um salário mínimo para adquirir a cesta básica, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A alta no preço da alimentação não é de agora: em outubro, a cesta básica custou R$ 538,44 aos moradores de Belém. Um ano atrás o valor era R$ 15,00 mais barato.

A diferença, que para alguns pode parecer irrisória, é um alerta aos efeitos das políticas públicas do Governo Federal como a Política de Preços de Paridade de Importação (PPI), também conhecida como paridade com o dólar. Essa medida, estabelecida em 2016 por Michel Temer e mantida durante o mandato de Jair Bolsonaro, aumentou o preço de diversos itens, afetando principalmente o bolso da população mais vulnerável.

“Se eu faço a paridade com o dólar, mesmo sendo autossuficiente em petróleo, eu estou equiparando o preço do barril nacional na flutuação do dólar. Assim, eu garanto a remuneração dos grandes acionistas e empurro o aumento do preço pro consumidor”, explicou o professor mestre em economia João Cláudio Arroio. Segundo o economista, isso acontece porque o valor dos combustíveis é embutido no preço de todos os produtos, inclusive os da cesta básica, já que a maior parte do transporte no Brasil é feito através da malha rodoviária.

O efeito disso é o aumento contínuo no custo da alimentação, que atinge mais fortemente as pessoas de baixa renda. “Mesmo com os auxílios chegando à população, dependendo do valor, chega defasado, porque a velocidade de reajuste é tamanha que nós estamos voltando ao tempo em que havia a prática de remarcação semanal de preços. Isso infelizmente está virando uma realidade no país”, afirmou o técnico de pesquisa do Dieese Everson Costa.

Com o dinheiro apertado, muitas famílias tiveram que diminuir o consumo para garantir a comida na mesa. “A gente precisou ajustar a nossa vida em função do aumento do preço dos produtos. Deixamos de comprar alguns alimentos para dar prioridade para o básico”, contou Lívia Alfaia, moradora da região metropolitana de Belém.

Além da dieta, a rotina também mudou. “Tínhamos passeios em família pra lanchar, passávamos finais de semana fora, mas nós precisamos cortar isso para que tivéssemos recursos para manter a nossa alimentação. Nós sentimos muito, porque esses momentos eram a nossa higiene mental, nossa recreação, mas a gente precisou se adequar”, disse.

Desemprego e depressão

De acordo com o professor Arroio, houve uma queda na renda das famílias desde 2016 e isso se refletiu também no aumento do desemprego. “O quadro é de depressão econômica. Não há estímulo ou segurança pro investidor de que ele vá ter retorno do seu investimento e com isso ele não consegue gerar emprego. Isso castiga a massa de trabalhadores, os setores mais populares da sociedade”, explicou.

O resultado é a diminuição da qualidade de vida do brasileiro. “O impacto da inflação na sociedade é enorme e gera desde a redução do acesso à alimentação até a perda da segurança, porque é exatamente em cima da fragilidade social e econômica das pessoas que a criminalidade, particularmente o crime organizado, vai entrar nas periferias, nos colégios, nas classes médias, para poder crescer e faturar ainda mais”, esclareceu o professor.

Há também um efeito no nível de capacitação dos profissionais, devido ao corte em áreas como lazer, cultura e educação. “Isso gera profissionais menos capacitados, diminuindo a produtividade no futuro próximo”, prevê Arroio. “É preciso reverter esse quadro porque ele nos enfraquece, nos divide, nos leva a perder qualidade de vida, segurança e conforto", finalizou o economista.

Por Sarah Barbosa e Erick Caldas.

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