Ucrânia rejeita ultimato russo para cidade de Mariupol
A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, rejeitou o ultimato russo e exigiu de Moscou a abertura de corredores humanitários
A Ucrânia rejeitou nesta segunda-feira (21) o ultimato russo para entregar a cidade portuária cercada de Mariupol, enquanto na capital Kiev um bombardeio matou pelo menos seis pessoas.
No plano diplomático, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que visitará a Polônia na sexta-feira para abordar a crise provocada pela invasão russa da Ucrânia.
A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, rejeitou o ultimato russo e exigiu de Moscou a abertura de corredores humanitários para facilitar a saída de 350.000 pessoas bloqueadas na cidade.
"Não se pode falar de entregar entregar armas. Já informamos a parte russa", declarou ao jornal Ukrainska Pravda.
"É uma manipulação deliberada e uma autêntica tomada de reféns", acrescentou.
A Rússia anunciou no domingo à noite um ultimato às autoridades ucranianas para que as forças de Mariupol se rendessem antes das 5H00 (3H00 de Brasília).
"Pedimos às unidades das Forças Armadas ucranianas, batalhões de defesa territorial e mercenários estrangeiros que interrompam as hostilidades, deponham suas armas", disse Mikhail Mizintsev, comandante do Centro Nacional de Controle de Defesa da Rússia.
Mariupol, um porto estratégico no sudeste da Ucrânia, é um dos principais alvos dos ataques russos. A cidade representa uma conexão entre as forças russas na península da Crimeia e os territórios sob controle russo no norte e leste da Ucrânia.
Mariupol sofreu intensos bombardeios russos desde o início da invasão, em 24 de fevereiro.
O diplomata grego Manolis Androulakis, que estava na cidade durante alguns bombardeios, falou sobre a situação trágica.
"Mariupol entrará para a lista lista de cidades do mundo completamente destruídas pela guerra, como Guernica, Stalingrado, Grozny ou Aleppo", declarou à imprensa no aeroporto de Atenas.
"Vieram nos exterminar"
Em uma mensagem de vídeo, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acusou a Rússia de bombardear uma escola de Mariupol que abrigava centenas de refugiados.
"As forças russas vieram nos exterminar, matar", disse.
Este foi o mais recente ataque potencialmente devastador contra um refúgio para civis. Na semana passada, um teatro - onde, segundo as autoridades, havia mil deslocados - foi atacado e centenas de pessoas continuam desaparecidas.
Na madrugada de segunda-feira, um bombardeio na capital Kiev atingiu um centro comercial e matou pelo menos seis pessoas.
O local foi atingido por uma bomba potente que destruiu os veículos estacionados e deixou uma cratera aberta de vários metros de comprimento diante do prédio de 10 andares.
Toda a ala sul do centro comercial foi destruída, assim como uma academia no estacionamento.
Diante da intensificação da ofensiva de Moscou, Zelensky voltou a sugerir uma conversa direta com o presidente russo, Vladimir Putin.
Após uma mensagem ao Parlamento de Israel, o presidente ucraniano agradeceu o primeiro-ministro Naftali Bennett por tentar atuar como mediador nas negociações.
"O primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, tenta buscar um caminho para a negociação com a Rússia e nós o agradecemos (...) Pode ser em Jerusalém, é um bom local para encontrar a paz", declarou Zelensky.
Biden na Polônia
A Casa Branca anunciou no domingo que o presidente americano, Joe Biden, viajará na sexta-feira à Polônia para uma reunião com o colega polonês Andrzej Duda.
"O presidente abordará como os Estados Unidos respondem junto com nossos aliados e sócios à crise humanitária e de direitos humanos criada pela guerra injustificável e não provocada da Rússia contra a Ucrânia", afirmou a secretária de imprensa do governo americano, Jen Psaki, em um comunicado.
A visita à Polônia acontecerá após uma escala na Bélgica para uma reunião com os líderes da Otan, do G7 e da União Europeia.
Ao mesmo tempo, autoridades de Turquia, onde delegados da Rússia e da Ucrânia estão negociando, afirmaram que os dois lados estão próximos de um acordo para acabar com o confronto.
Mas Zelensky parece impor algumas condições.
"Não é possível simplesmente exigir que a Ucrânia reconheça alguns territórios como repúblicas independentes", declarou ao canal CNN. "Temos que pensar um modelo no qual a Ucrânia não perca sua soberania, sua integridade territorial".
O conflito provocou uma crise de refugiados de proporções históricas, afetou a economia global e recebeu fortes críticas em todo o mundo.
Mísseis hipersônicos
As forças russas têm usado cada vez mais mísseis de longo alcance, enquanto na frente de batalha suas tropas enfrentam uma dura resistência ucraniana e, segundo alguns relatos, enfrentam uma escassez de armas e materiais.
O ministério russo da Defesa russo anunciou no domingo que disparou mísseis hipersônicos "Kinzhal" ("punhal" em russo), que destruíram um depósito de combustível na região sul de Mykolaiv.
No sábado, o ministério informou que usou o armamento para destruir um depósito de armas próximo da fronteira da Ucrânia com a Romênia, mas o Pentágono questionou a versão russa.
Em Chernihiv, cidade cercada, o major ucraniano Vladislav Atroshenko afirmou que dezenas de civis morreram em um bombardeio contra um hospital.
As condições humanitárias são cada vez piores nas regiões de língua russa do sul e leste da Ucrânia, assim como no norte, perto de Kiev.
Quase 10 milhões de ucranianos fugiram de suas casas - um terço deles para o exterior -, segundo a ONU.
Eles fogem de combates que, segundo Zelensky, mataram 14.000 soldados russos. O presidente ucraniano afirmou que o número "continuará aumentando".
A Rússia não atualiza o balanço de vítimas desde o início de março. A Ucrânia anunciou a morte de 1.300 soldados.
Kiev não divulga dados de baixas civis, apenas que 115 crianças faleceram na guerra.
Impacto econômico
A guerra russa gerou uma onda sem precedentes de sanções ocidentais contra Putin, seu entorno e empresas russas.
A França anunciou no domingo que apreendeu 920 milhões de dólares em bens de oligarcas russos em seu território.
O conflito complicou o ambiente econômico mundial já difícil, pois a Rússia é um grande exportador de petróleo, gás e produtos básicos, enquanto a Ucrânia é um importante fornecedor de trigo.
Os preços dos produtos básicos dispararam, gerando mais inflação, destaca a economista chefe do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, Beata Javorci.
"Mesmo se a guerra terminar hoje, as consequências do conflito serão sentidas nos próximos meses", completou.