Agricultura familiar avança em Salvaterra, no Marajó
Atividade ajuda na redução do uso de produtos químicos, diminuição de queimadas e fortalece economia local
Nos últimos anos, o Brasil esteve à frente do ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2010 e 2019, 56 mil pessoas foram intoxicadas com esse tipo de produto. A agricultura sustentável é uma alternativa no desenvolvimento da produção agrícola. Ela respeita o meio ambiente e, ao mesmo tempo, garante viabilidade financeira.
O Pará é o maior produtor abacaxi do Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No município de Salvaterra, no arquipélago do Marajó, está a terceira maior produção de abacaxi do Estado. Mas o município ganha outro foco: o cultivo de alimentos sem agrotóxicos, por meio da agricultura familiar sustentável.
Foi pensando no bem-estar da família que há cinco anos o autônomo José Luiz Silva começou a plantar cheiro-verde, couve e pimentinha verde para consumo. "É prazeroso você plantar e comer o que você plantou. Não tem coisa melhor na vida do que isso. E a gente vê a necessidade aqui no município. Às vezes queremos um cheiro-verde e não tem. A gente também não sabe da procedência. O que eu planto, eu sei que eu posso comer tranquilo porque eu não uso agrotóxico", relata o agricultor salvaterrense.
A produção que antes era voltada para consumo familiar hoje abastece cerca de dez fruteiras e três açougues. José Luiz ressalta a importância de uma associação para a atividade no município. "Se a gente tivesse uma associação, onde todo mundo aprendesse essas técnicas, porque cada um sabe um pouquinho, podíamos nós mesmos fazer essa entrega de cheiro-verde, de couve, de cebolinha, de toda as hortaliças, sem vir da Ceasa", enfatiza.
Hellen Freire, tecnóloga de alimentos, afirma que a união de políticas públicas e as ações individuais são fundamentais para melhorar a qualidade da dieta do brasileiro. "É inevitável nós não pensarmos na quantidade de pessoas doentes em decorrência da má alimentação, e isso vem aumentando no nosso país a cada ano que passa. Isso acarreta, também, não apenas prejuízos com gastos públicos com tratamentos médicos, por exemplo, mas também a queda da qualidade e da expectativa de vida do brasileiro em geral", avalia.
A tecnóloga explica que fazer uma horta em casa é mais simples do que muitos imaginam. "Ela pode ser feita em um vaso ou até mesmo em garrafas recicláveis, organizadas em uma horta vertical ou horizontal, e pode aproveitar o espaço ocioso que cada um tem em sua casa. A ideia principal é que, independente do espaço disponível, qualquer pessoa possa fazer a horta em casa, seja ela em um jardim ou até mesmo uma sacada", conclui.
De acordo com o IBGE, a agricultura familiar é responsável por 80% da mandioca, 69% do abacaxi e 48% do café e da banana e 42% do valor da produção do feijão - principais alimentos consumidos no Brasil. Cerca de 23% da área voltada para propriedades agrícolas no Brasil corresponde à agricultura familiar. Outros quase 70% são da agricultura comercial.
O cultivo de alimentos orgânicos é um dos motivos fundamentais para a melhoria de vida do produtor rural e, com a agricultura orgânica, ocorre a conservação da fertilidade do solo. Essa atividade possui inúmeros benefícios, explica a tecnóloga de alimentos Hellen Freire. "A redução da poluição ambiental, que é um dos assuntos mais discutidos hoje em dia no mundo; a manutenção do bem-estar animal, quando se trata de produto de origem animal; e além de todas essas outras vantagens que foram citadas, também ocorre a promoção da biodiversidade - através da conservação do solo e a ausência de agrotóxicos, ajudando na preservação de pássaros, insetos e outros animais da região", diz.
Por Even Oliveira (sob supervisão e acompanhamento de Antonio Carlos Pimentel).