Direito ao aborto é analisado no Kansas
Os moradores do Kansas votarão na terça-feira (2) para decidir se retiram, ou não, o direito ao aborto da Constituição deste estado tradicionalmente conservador
Nas ruas de Leawood, próspera cidade do Kansas, inúmeras faixas eleitorais adornam os jardins: o estado se prepara para a primeira votação importante sobre o aborto desde que a Suprema Corte dos Estados Unidos anulou o direito federal à interrupção da gravidez.
Os moradores do Kansas votarão na terça-feira (2) para decidir se retiram, ou não, o direito ao aborto da Constituição deste estado tradicionalmente conservador.
Aqueles que querem a mudança - partidários do "sim" - afirmam que ela permitiria aos legisladores regular a interrupção legal da gravidez sem interferência da Justiça.
"Restaura nossa capacidade de conversar", diz Mackenzie Haddix, porta-voz do movimento "Value Them Both", uma entidade que busca acabar com a proteção constitucional decorrente de uma decisão de 2019 da Suprema Corte deste estado.
A proibição do aborto não é o objetivo oficial da campanha desta entidade.
Vários apoiadores do "sim" veem essa posição como o primeiro passo para que a assembleia estadual, controlada pelos republicanos, proíba essa prática, como já fizeram oito estados em todo país desde a decisão de junho da Suprema Corte de anular sua decisão histórica de 1973 no caso Roe vs Wade.
"Decisões sobre nosso corpo"
Os defensores do "não" observam com ansiedade os estados vizinhos de Missouri e Oklahoma, que impuseram restrições quase totais. O primeiro, por exemplo, proíbe até o aborto em casos de estupro, ou incesto.
No Kansas, um congressista conservador local apresentou um projeto de lei este ano que contempla a proibição do aborto sem exceção, seja por estupro, incesto, ou para proteger a vida da mãe.
Até agora, o aborto é legal no Kansas até 22 semanas de gravidez. Menores precisam de autorização dos pais.
"Em última análise, a emenda tira esse direito à autonomia pessoal", comenta Ashley All, porta-voz da campanha pelo "não" na Kansas Constitutional Freedom (KCF).
"Tomar decisões sobre nossos corpos, nossas famílias, nosso futuro sem interferência do governo é um direito", alegou.
A votação coincide com as primárias do Texas e será a primeira vez que os americanos se pronunciarão sobre o aborto após a decisão da Suprema Corte.
Outros estados, incluindo Califórnia e Kentucky, votarão a questão em novembro, juntamente com as eleições parlamentares de meio de mandato ("midterms"), durante as quais republicanos e democratas esperam unir seus apoiadores em torno do aborto.
Anne Melia, voluntária na campanha em favor do direito ao aborto da KCF, visitou Leawood na quinta-feira (28) para defender sua causa.
"Não acho que o governo deva dizer às mulheres o que fazer", afirmou a ativista de 59 anos.
Vida desde a concepção
Christine Vasquez, de 43 anos, diz que pensa em votar "sim", com a esperança de poder decidir no futuro sobre o aborto.
"Votarei para que não haja aborto. Acredito que a vida começa na concepção", declarou à AFP.
Neste contexto, o país estará atento no Kansas na terça.
Os democratas são, em grande parte, favoráveis ao aborto, enquanto os conservadores desejam impor obstáculos, ou até mesmo proibir sua prática.
A realidade política no Kansas é, no entanto, complexa.
Desde 1964, o Partido Republicano venceu as eleições presidenciais, ou seja, 15 disputas seguidas. Mas o condado mais populoso do estado elegeu uma democrata, Sharice Davids, à Câmara de Representantes em 2018; e a governadora, Laura Kelly, é democrata.
Sobre o aborto, uma pesquisa de 2021 da Universidade estadual Fort Hays revelou que menos de 20% dos cidadãos do Kansas consideram que o aborto deve ser ilegal em casos de estupro, ou incesto. E metade dos entrevistados acredita que o estado não deve legislar sobre as circunstâncias, nas quais as mulheres podem abortar.