Mototaxista negro tira calças para provar que não furtou

Episódio aconteceu no supermercado Guanabara da Penha, no Rio de Janeiro

qua, 11/01/2023 - 19:09
Reprodução O mototaxista processou a rede de supermercado Reprodução

O mototaxista negro identificado como Alex Silva Pereira, de 33 anos, foi acusado de ter furtado uma picanha no supermercado Guanabara da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e precisou abaixar as calças para “provar” que não furtou a peça de carne. O episódio aconteceu na véspera do Réveillon, no último dia 31. 

Alex afirmou ter sido vítima de racismo e preconceito pela equipe de segurança da rede de supermercados. Ele não conseguiu apresentar a nota fiscal da compra de R$ 366,87 da picanha para a celebração da festa de fim de ano com os colegas do ponto de mototáxi porque a abordagem foi muito rápida. O valor foi pago em duas partes, uma em dinheiro e outra em cartão de débito. “Por eu ser da comunidade, eu acho que sim, isso conta muito. Nós somos muito destratados pela nossa aparência. Estou revoltado, eu tô indignado com isso, cara. Não estou conseguindo trabalhar. Aonde eu passo as pessoas perguntam: ‘o que você estava roubando lá, cara?”, relatou. 

O mototaxista abriu um processo contra o supermercado pela abordagem constrangedora. Mesmo com a repercussão do caso nas redes sociais, ele disse não ter recebido nenhum apoio da empresa. “Ninguém me deu nenhum tipo de apoio, uma desculpa. Um perdão. Foi um mal entendido, entendeu? Foi isso que mais me indignou”, lamentou.  “Chegaram segurando a minha capa de chuva. Levantando e falando para mim: ‘Tira pra fora o que você roubou lá dentro, rapaz. O que tá debaixo dessa roupa aí? Vambora, a câmera já mostrou tudo’. Aí eu falei: calma aí, cara. Não é dessa forma não. Bom dia”, relatou ao g1. 

O advogado de Alex, Gilberto Santiago pediu uma indenização para reparar os danos e quer que o supermercado peça desculpas públicas pelo constrangimento do cliente. “O racismo carrega esse estigma de você ser negro, pobre, morar em comunidade, e se entende que a pessoa seria um criminoso”, afirmou Gilberto.

“Eu não quero ser tratado dessa forma, porque eu procuro andar certo. Tenho dois filhos, um de nove anos e um filho de três anos. Me perguntaram: ‘Esse vídeo aí, papai. O senhor estava roubando carne?’”, disse. 

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De acordo com o g1, o supermercado Guanabara informou que os funcionários que aparecem no vídeo foram desligados. Disse, ainda, que eles não pediram que Alex tirasse a roupa, o que é ilegal e vedado pela Constituição, como colocou a rede. 

O estabelecimento informou que tentou fazer contato com o cliente, mas que não foi possível por não haver registro da ocorrência na loja. Alex, por sua vez, disse ter pedido ajuda aos funcionários para fazer a ocorrência, mas todos deram as costas. 

A empresa disse repudiar e não tolerar qualquer forma de discriminação. 

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