Papa se reúne com deslocados internos no Sudão do Sul
Encontro acontecerá neste sábado
O papa Francisco se reúne neste sábado (4) com deslocados internos do Sudão do Sul, depois de exortar os líderes a dar um "novo salto" aos esforços de paz neste empobrecido país africano devastado por lutas pelo poder.
Acompanhado por líderes das Igrejas da Inglaterra e da Escócia, representantes das outras duas confissões cristãs do Estado mais jovem do mundo, o pontífice destacou em discurso às autoridades de Juba, a capital, que o caminho "tortuoso " da paz não pode mais ser adiado.
Este país de 12 milhões de habitantes, de maioria católica, conquistou em 2011 a independência do Sudão, de maioria muçulmana, após décadas de conflito. De 2013 a 2018, uma guerra civil entre apoiadores dos líderes Salva Kiir e Riek Machar deixou 380.000 mortos.
Apesar de um acordo de paz assinado em 2018, a violência persiste e o país registrou 2,2 milhões de deslocados em dezembro, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha).
O papa argentino, muito empenhado na defesa dos migrantes, se reunirá com alguns deles na tarde deste sábado.
O papa chegou em uma cadeira de rodas e em meio a canções à Catedral de Santa Teresa pela manhã.
Cerca de 4.000 pessoas, segundo as autoridades, reuniram-se desde cedo para esperar o sumo pontífice no pátio da catedral, muitas delas agitando bandeiras nacionais, em clima de festa.
"Viemos aqui para receber suas bênçãos. É tudo uma questão de paz. O papa Francisco não pode nem andar, mas vem encorajar nossos líderes", disse à AFP John Makuei, 24 anos, que chegou antes do amanhecer para não perder esse "dia histórico".
"Estou muito feliz", disse Adongpiny Harriet, 36 anos, enxugando o suor da testa depois de dançar em frente à catedral. "Esta é a primeira vez que vejo o papa em meu país. Me sinto muito privilegiada!"
No final do dia, o papa fará seu terceiro e último discurso do dia durante uma oração ecumênica. Ao seu lado estarão o Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, chefe espiritual da Igreja Anglicana, e Iain Greenshields, a personalidade mais importante da Igreja da Escócia.
- "Basta de destruição" -
Na sexta-feira, o santo padre exortou as autoridades deste país de 60 grupos étnicos, atormentado pela fome e pela miséria, a tomar medidas concretas.
"As gerações futuras honrarão ou apagarão a memória dos vossos nomes com base naquilo que agora fizerdes", advertiu Francisco às autoridades.
"Basta de sangue derramado, basta de conflitos, basta de violências e recíprocas acusações sobre quem as comete, basta de deixar à míngua de paz este povo dela sedento. Basta de destruição, é a hora de construir", clamou Francisco.
A Igreja Católica preenche um vazio em áreas sem serviços governamentais e onde os trabalhadores humanitários costumam ser vítimas de ataques ou mortos violentamente.
A ONG Human Rights Watch pediu aos líderes religiosos que pressionem dirigentes do Sudão do Sul a "resolverem a atual crise de direitos humanos do país e a impunidade generalizada".
"A visita do papa chega em um momento oportuno (...) Pedimos aos líderes e ao povo do Sudão do Sul que atendam a seu apelo por paz e estabilidade duradouras", tuitou Workneh Gebeyehu, secretário-executivo da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD).
Após seu encontro com o papa, o presidente Salva Kiir anunciou um decreto para o indulto de 71 presos, 36 deles condenados à morte, mas sem dar mais detalhes.
"Quando pousou em Juba, todos nos sentimos abençoados. Sua presença nos trará uma paz duradoura", disse Gladys Mananyu, 62 anos, depois de ver o papamóvel passar.
Em 2019, um ano após a assinatura do acordo de paz, Francisco recebeu os dois inimigos, Salva Kiir e Riek Mashar, no Vaticano e se ajoelhou para beijar-lhes os pés, suplicando que fizessem as pazes.
O Sudão do Sul é a segunda e última etapa desta terceira viagem de Francisco pela África subsaariana.
A jornada começou na terça-feira na República Democrática do Congo (RDC), onde condenou as ações de grupos armados durante décadas, que deixaram centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados.
Esta viagem deveria ter sido realizada em julho de 2022, mas foi adiada por problemas no joelho de Francisco.