Documentário mostra a realidade da violência obstétrica

Jornalista paraense Denise Soares apresenta relatos de experiências traumáticas nos momentos pré e pós-parto para informar mulheres e alertar a sociedade

qui, 16/03/2023 - 15:37
Divulgação Documentário de Denise Soares será exibido nesta sexta-feira Divulgação

Em “A dor do parto que eu não tive”, a jornalista paraense Denise Soares se une a outras mulheres para compartilhar relatos dolorosos e despertar a sociedade para o grave problema da violênia obstétrica. O documentário será lançado em duas sessões, nesta sexta-feira, 17, e no sábado, 18, no Teatro do Shopping Bosque Grão Pará, em Belém.

O documentário “A dor do parto que eu não tive” aborda uma experiência vivida pela própria Denise, com depoimentos de outras três mulheres vítimas da violência obstétrica. Denise conta que, como jornalista, sentia que precisava fazer algo para dar voz a quem passou por essa mesma experiência.

“Vejo o documentário como projeto social, mesmo. Uma oportunidade de fortalecer o pedido de transformação na assistência às gestantes do nosso Estado. Muita gente já colaborou com essa causa antes de mim e já avançamos muito, é verdade, mas tem muita coisa que precisa mudar. E eu quero somar e enfatizar a necessidade de mudança”, disse.

Nas redes sociais, a jornalista fez o primeiro depoimento sobre a experiência que viveu, semanas após o parto. Ao compartilhar sua história, deparou com inúmeras mulheres que também vivenciaram essa dor. Em uma série de "desabafos" em seu perfil, Denise conta que percebeu que tantas outras mulheres tiveram roubadas sua dignidade e autonomia em um momento único e de extrema vulnerabilidade.

“Depois de expor meu relato de parto na Internet, muitas mulheres compartilharam comigo que também foram vítimas. Fui guardando os contatos. Quando vi, tinha uma verdadeira rede de apoio virtual, que me ajudou muito no processo de ressignificar o trauma. Quando decidi fazer o documentário pensei em reunir alguns relatos e contribuições de profissionais da saúde e do Direito que trabalham em prol da humanização para impulsionar a conscientização a respeito do tema”, contou Denise sobre o processo de produção do conteúdo audiovisual, principalmente da etapa de escolha das personagens.

Para a jornalista, práticas obstétricas ainda adotadas por alguns profissionais de saúde são contrárias ao que hoje recomenda a ciência e desamparam as mulheres, "com atitudes que nos levam a questionar e combater o modelo abusivo de atendimento, seja no SUS ou rede particular". O documentário propõe um olhar para a humanização a partir das perspectivas e experiências profissionais de outras mulheres que lutam contra a violência obstétrica.

Na sua produção, Denise busca destacar a violência obstétrica como um tema de interesse social e saúde pública, não apenas do público feminino. “É importante falar sobre o assunto não apenas para levar informação e conscientizar, mas para cobrar ações efetivas de autoridades e instituições capazes de garantir a proteção da mulher e combater a violência obstétrica. É inaceitável que as condutas violentas sejam aceitas em maternidades e hospitais”, finalizou.

Violência obstétrica no Brasil

Dados apresentados na pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, da Fundação Perseu Abramo, mostram que uma em cada quatro mulheres já sofreu violência obstétrica no Brasil - o que representa 25% das mulheres do país. No entanto, não existem leis federais no Brasil sobre o que configura ou não violência obstétrica.

Cerca de 18 Estados e o Distrito Federal possuem algum tipo de legislação sobre o tema: oito sobre violência obstétrica e dez sobre parto humanizado. O Pará está fora da lista.

Alguns Estados determinam pagamento de multa quando há registro de violência obstétrica, conforme definido em dispositivo legal. É o caso do Paraná, que prevê o pagamento de cerca de R$ 100 mil.

Serviço

O lançamento do documentário “A dor do parto que eu não tive” ocorrerá em duas sessões: sexta-feira, 17, às 19h30, e sábado, 18, às 20h30, no Teatro do Shopping Bosque Grão Pará. As reservas estão esgotadas.

Por Gabriela Gutierrez (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

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