Mulheres lutam contra a 'desinformação de gênero'

Mulheres em todo o mundo estão lutando contra falsidades que reforçam estereótipos sobre sua inteligência ou eficiência

qui, 23/03/2023 - 13:00
Tobias SCHWARZ, Odd ANDERSEN, CHRIS DELMAS, Fabrice COFFRINI, Ludovic MARIN, Diego OPATOWSKI Na imagem (no sentido horário) a congressista dos EUA, Nancy Pelosi; a ministra de Exteriores alemã, Annalena Baerbock; a ex-primeira-dama dos EUA Michelle Obama; a ex-primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern; a primeira-dama francesa, Brigitte Macron, e a ucraniana, Olena Zelenska Tobias SCHWARZ, Odd ANDERSEN, CHRIS DELMAS, Fabrice COFFRINI, Ludovic MARIN, Diego OPATOWSKI

Fotos falsas mostrando a primeira-dama da Ucrânia tomando sol de topless, legendas incorretas difamando feministas paquistanesas por "blasfêmia", vídeos em câmera lenta mostrando um falso estado "bêbado" da democrata Nancy Pelosi. Toda uma avalanche de desinformação paira sobre as mulheres na esfera pública.

Os pesquisadores dizem que a “desinformação de gênero” – quando o sexismo e a misoginia se cruzam com notícias falsas online – visa manchar as reputações de mulheres em todo o mundo, minar sua credibilidade e, em muitos casos, prejudicar suas vidas.

Os verificadores de fatos da AFP desmascararam mentiras contra mulheres na política ou vinculadas a políticos proeminentes, incluindo campanhas online com informações falsas ou imagens manipuladas com conteúdo sexual.

No ano passado, uma foto falsa da primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, sem sutiã em uma praia em Israel, viralizou no Facebook e atraiu fortes críticas. Uma análise da imagem feita pela AFP mostrou que a mulher na foto era, na verdade, uma apresentadora de TV russa.

A ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, e a atual francesa, Brigitte Macron, também foram alvo de postagens falsas alegando que nasceram homens, provocando uma avalanche de insultos e comentários transfóbicos.

Jacinda Ardern, da Nova Zelândia, que anunciou sua renúncia como primeira-ministra em janeiro, também enfrentou uma enxurrada de desinformação.

“As mulheres – especialmente aquelas em posições de liderança e visibilidade – são um alvo excessivo de desinformação online”, escreveu Maria Giovanna Sessa, pesquisadora do EU DisinfoLab, em um relatório no ano passado.

- "Efeito assustador" -

Outra tática que disparou o alarme em 2020 foi um vídeo em câmera lenta da democrata Nancy Pelosi, então presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. O efeito a fez enrolar as palavras e dar a falsa impressão de estar bêbada.

"Baseadas em estereótipos sexuais e divulgadas por má-fé, as campanhas de desinformação de gênero têm um efeito assustador sobre as mulheres que visam", disse Lucina Di Meco, especialista em igualdade de gênero e coautora de um estudo publicado no mês passado.

A desinformação geralmente gera "violência política, ódio e desencoraja mulheres jovens a considerar uma carreira na política", de acordo com o estudo intitulado "Monetizando a misoginia".

Nas táticas de desinformação, as mulheres na política são muitas vezes estigmatizadas como não confiáveis, muito emotivas ou promíscuas para cargos públicos.

Quando a atual ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, estava concorrendo à chancelaria em 2021, ela foi alvo de desinformação que lançou dúvidas sobre se ela estava preparada para o cargo.

Uma dessas campanhas apresentava imagens de uma modelo nua, simulando que fosse a política, e sugeria que ela havia sido trabalhadora do sexo.

A desinformação de gênero representa uma ameaça à segurança nacional, pois pode ser explorada por estados autocráticos para tentar influenciar o exterior, de acordo com vários pesquisadores.

Também pode ser usada para subjugar a oposição.

“Quando há líderes autocráticos no poder, a desinformação de gênero é frequentemente usada por atores alinhados ao Estado para minar a oposição de mulheres líderes e também os direitos das mulheres”, alerta Di Meco em seu estudo.

- "Ataques à dignidade" -

Mulheres em todo o mundo estão lutando contra falsidades que reforçam estereótipos sobre sua inteligência ou eficiência.

Em 2021, viralizou nas redes sociais que a atiradora esportiva egípcia Al-Zahraa Shaaban havia sido excluída das Olimpíadas de Tóquio por ter atirado em um árbitro. Isso gerou uma onda de comentários ridicularizando as mulheres e questionando suas habilidades esportivas.

Questões também foram levantadas contra seu envolvimento nas forças armadas após a queda no ano passado de um caça F-35 em um porta-aviões dos EUA no Mar da China Meridional. Publicações falsas atribuíram o acidente à primeira mulher do mundo a pilotar um F-35, mas o piloto envolvido era um homem.

Essas falsidades humilhantes podem ter um efeito silenciador sobre as mulheres, dizem os pesquisadores, pois elas são levadas a se autocensurar e até evitar profissões dominadas por homens, até mesmo cargos políticos.

Em 2020, dezenas de legisladores dos Estados Unidos e de outros países enviaram uma carta ao Facebook, que, junto com outras plataformas, é obrigado a dispor de amplificação algorítmica de conteúdo odioso e falso contra mulheres.

Em um comunicado, o Facebook admitiu na época que o abuso online de mulheres era um "problema sério".

"Não se engane, essas táticas, usadas em sua plataforma para fins maliciosos, buscam silenciar as mulheres e, em última análise, minar nossas democracias", disse a carta.

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