Período de chuvas expõe pontos de alagamento em Belém

Limpeza de canais e educação ambiental não são suficientes para acabar com o problema, diz especialista

qui, 23/03/2023 - 15:49

Nos primeiros meses do ano, Belém vive o tradicional inverno amazônico, marcado pelas chuvas intensas. Nessa época, é possível ver, pelas ruas da capital paraense, os danos causados pelos temporais: vias alagadas, canais e bueiros transbordando e casas tomadas pela água.

Em 2023, segundo a Secretaria de Meio Ambiente (Semma), as chuvas vão superar um total de 250mm. Com a maré alta, os impactos são ser ainda maiores.

Na última terça-feira, 14, foi registrado o maior volume pluviométrico na Região Metropolitana de Belém, desde o dia 1º de março. Em toda a cidade foram registrados vários pontos de alagamento.

O urbanista Júlio Lima explica que esses impactos são resultado de uma combinação de fatores. “As áreas permeabilizadas vêm aumentando nos últimos anos com a pavimentação da cidade e com cada vez menos vegetação e edificações altas. Para atender um modelo de ocupação, que visa à disponibilização de terra para o capital imobiliário, é preciso avançar na retirada de vegetação e trabalhar em um sistema de macrodrenagem composto por canais, inclusive alguns cobertos por vias, outros abertos com vias laterais e o sistema de microdrenagem, as valas das calçadas”, explicou Júlio.

Por meio de nota, a prefeitura de Belém informou que os serviços de limpeza e dragagem dos 65 canais existentes em Belém são realizados com frequência. Além disso, diariamente, são feitas a limpeza manual e a desobstrução da rede de microdrenagem.

Júlio pontua que a constante expansão da cidade não respeita as condições geográficas da região. Ele diz que, além da limpeza de canais e educação ambiental promovida pela prefeitura, seria necessária a implementação de sistemas que respeitem a natureza.

Nas redes sociais, após um longo dia de chuvas, trânsito e canais transbordados, o Secretário de Habitação de Belém, Rodrigo Moraes, comemorou a redução dos prejuízos. Segundo ele, a ação da prefeitura teria sido fundamental para o avanço. 

“Uma cidade como Belém, cortada por igarapés, maré alta e uma chuva igual à de hoje com certeza terá pontos de alagamento", escreveu. Segundo ele, os alagamentos na cidade caíram "drasticamente, fruto da ação preventiva, microdrenagem e limpeza dos canais".

A estudante Luana Gomes, moradora do bairro da Batista Campos há 24 anos, diz que na região onde mora os belenenses não vivenciam as melhoras pontuadas pelo secretário. "Em todos esses anos que eu vivo aqui, nenhum serviço que foi feito ajudou a melhorar a situação. Não posso dizer que não houve limpeza nos esgotos e canais aqui pela redondeza, mas não adiantou muito. Sinceramente, parece que a cada chuva só piora”, disse.

Ela conta o número de vezes que teve sua casa alagada nos dias de forte chuva. “A minha vida inteira foi assim: sempre que chove, a rua fica cheia. Este ano [2023], tivemos que tirar água de dentro de casa duas vezes. Ano passado, foram três vezes. A gente espera que todo ano melhore, ou que pelo menos diminua, mas só piora”, lamenta a estudante.

Por Gabriela Gutierrez e Beatriz Moura (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

 

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