Fundador de escola para meninas é detido no Afeganistão
A missão pediu às autoridades afegãs que 'expliquem onde ele está, os motivos da detenção e que proporcionem acesso a uma representação legal e contato com sua família'
O fundador de uma escola para meninas no Afeganistão foi detido em Cabul, informou nesta terça-feira (28) a ONU, que pediu às autoridades do governo Talibã que expliquem as razões da detenção.
"Matiullah Wesa, diretor da PenPath1 e defensor da educação para as meninas, foi detido na segunda-feira", publicou no Twitter a Missão das Nações Unidas no Afeganistão.
A missão pediu às autoridades afegãs que "expliquem onde ele está, os motivos da detenção e que proporcionem acesso a uma representação legal e contato com sua família".
O governo Talibã proibiu no ano passado as mulheres de frequentar o Ensino Médio, o que transformou o Afeganistão no único país do mundo que proíbe a educação das meninas depois do ensino fundamental.
Um irmão de Wesa confirmou a detenção e disse que aconteceu na segunda-feira à noite, quando ele saía de uma mesquita.
"Matiullah havia terminado suas orações e deixava a mesquita quando foi detido por alguns homens em dois veículos", disse Samiullah Wesa à AFP.
"Quando Matiullah pediu para ver os documentos de identidade dos homens, eles o agrediram e o levaram à força", acrescentou.
A organização fundada por Matiullah, que faz campanha por escolas e distribui livros nas áreas rurais, se dedicado a divulgar a importância da educação para as meninas entre os líderes dos vilarejos.
Mesmo com a proibição do ensino para as mulheres, Wesa prosseguiu com as visitas a regiões remotas para buscar apoio entre os moradores.
"Estamos contando horas, minutos e segundos para a abertura das escolas para as meninas. O dano que o fechamento das escolas provoca é irreversível e inegável", tuitou Wesa na semana passada, quando começou o ano letivo mo Afeganistão.
"Encontramos com os moradores e vamos seguir com nossa proposta, caso as escolas continuem fechadas", completou.
O regime Talibã impõe uma interpretação severa do islã desde que retornou ao poder, em agosto de 2021, quando as forças dos Estados Unidos e da Otan, que apoiaram os governos anteriores, deixaram o Afeganistão.
Os líderes talibãs, que também vetam o ensino universitário às mulheres, afirmam que as escolas para mulheres devem reabrir as portas após o cumprimento de algumas condições.
Eles dizem que não têm dinheiro nem tempo para adaptar os programas escolares de acordo com os preceitos islâmicos.
O regime Talibã fez promessas similares durante seu primeiro governo, de 1996 a 2001, mas as escolas para meninas nunca reabriram as portas nos cinco anos.
Analistas acreditam que a ordem contra o ensino para as meninas veio do líder supremo do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada, e de seus conselheiros ultraconservadores, que expressam ceticismo sobre a educação moderna, em particular para as mulheres.
Além de gerar indignação internacional, o fechamento das escolas provocou críticas dentro do movimento, com alguns funcionários de alto escalão do governo de Cabul contrários à decisão.
No Afeganistão, um país profundamente conservador e patriarcal, as atitudes em relação à educação feminina mudam lentamente nas áreas rurais, onde suas vantagens são reconhecidas.