Por que o termo "Dia do índio" é errado?

Este é o primeiro 19 de abril em que o Brasil celebra o "Dia dos Povos Indígenas" ao invés do "Dia do Índio"

por Victor Gouveia qua, 19/04/2023 - 09:32
Marcelo Camargo/Agência Brasil Jovem indígena acessa redes sociais no computador Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em um processo de empoderamento e luta por espaços na sociedade, os povos indígenas defendem a extinção de termos pejorativos que se convencionaram através da didática estereotipada das escolas. Pela primeira vez, o Brasil comemora o Dia dos Povos Indígenas. Antes, 19 abril marcava o "Dia do Índio", expressão inadequada, que reforça estigmas e invalidam a pluralidade das etnias. 

Até a Constituição Federal de 1988, integrantes desses povos eram invisibilizados e sequer podiam mover uma ação judicial. Apesar de certas conquistas nas últimas décadas, o entendimento sobre os povos originários segue proposto de forma genérica. Na busca pela individualização entre um mar de diversidade cultural, um passo importante foi dado em julho de 2022, quando a lei que alterou o nome da comemoração foi aprovada. 

Esqueça o que aprendeu na escola

O coordenador da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Sarapó Pankararu, explica que o termo "índio" foi dado pelos invasores portugueses e que outros termos como "tribo" também são errados.  

"Aldeia a gente até aceita porque nós consideramos como as localidades existentes dentro da etnia. Por exemplo, quando tratam "aldeia Pankararu" para nós é errado. Pankararu é uma etnia, um conjunto de aldeias, uma nação indígena", ensina o representante. 

Presentes no imaginário popular como selvagens sem roupa e sem capacidade para lidar com a tecnologia do mundo “civilizado”, Sarapó atribui essa percepção ultrapassada ao processo de aprendizagem e aponta que as escolas ensinam algo que não corresponde à realidade.  

"Na minha visão, é importante respeitar os termos, mas também entendemos que o estado não sabe respeitar, não divulga, não acrescenta nos livros, não contam nossas realidades [...] Por isso, a sociedade não conhece e trata da forma dos livros e da forma que ensinam", observou. 

Poder público mais atuante

Como representante do Apoinme, após quatro anos submetidos aos desmandos de Jair Bolsonaro, ele não esconde a importância da volta de Lula à Presidência. "Lula pelo menos convidou os povos para participar do governo, garantindo o protagonismo indígena. Estamos assumindo postos que sempre foram ocupados por pessoas externas, que não tinham conhecimento da nossa realidade. Hoje, depois de 523 anos de invasão, é a primeira vez que ocupamos e participamos do governo", comemora. 

Ainda assim, cobra os governos federal e estaduais a adotarem ações mais efetivas sobre a demarcação e doação de territórios, bem como atenderam às reinvindicações por políticas públicas em todo o país, seja para valorização da cultura ou pelo reconhecimento da categoria de professores indígenas.  

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