Grito dos Excluídos faz 29ª caminhada no Recife
Passeata reúne pautas identitárias e representações políticas
O 29º Grito dos Excluídos, tradicionalmente realizado no Dia da Independência do Brasil, tomou as ruas do centro do Recife nesta quinta-feira (7). Com o tema “Você tem fome e sede de quê? Vida em primeiro lugar”, a caminhada é organizada pelo Fórum Dom Helder Câmara e reúne frentes populares e representações sociais e políticas.
A concentração aconteceu no Parque Treze de Maio, em frente à Câmara Municipal do Recife, no bairro da Boa Vista, área central da cidade. Antes da saída, os participantes se juntaram para pintar faixas e camisas.
Segundo Marcus Silvestre, um dos organizadores do evento, o momento inicial, chamado de Mística, é para aprofundar e entender a subjetividade da manifestação. “A Mística, para nós, é muito importante porque é aquela linguagem subjetiva, aquela linguagem espiritual que todo ser humano tem. Todo ser humano tem um lado do simbólico, do sentimental, do afetivo, da ligação com o mundo”, explica Silvestre.
Marcus Silvestre. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Nas ruas desde 1995, o Grito faz um contraponto histórico ao grito de independência dado por Dom Pedro, em 1822. Outra personagem presente na caminhada, desde 2005, é Waldir Ferreira, que é integrante da organização e vê a necessidade de olhar para os excluídos e excluídas como uma luta constante. “Ainda há muito por fazer nesse novo governo, que pegou o Brasil praticamente destruído. E o tema [do Grito dos Excluídos] desse ano é ‘você tem fome e sede de quê?’, porque a população brasileira é privada de suas necessidades básicas, como transporte, saúde, educação, moradia”, afirmou.
Waldir Ferreira. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Mesmo sendo uma iniciativa de frentes religiosas, o Grito dos Excluídos recebe e celebra a diversidade, independente de religião. A ligação da história do movimento com o tema deste ano se dá pela conexão individual com os problemas coletivos. “A gente vive em conexão com a natureza, a gente vive em conexão com as outras pessoas, a gente precisa de uma convivência social, de uma convivência política, de uma convivência econômica, de uma convivência ambiental, e principalmente, uma convivência afetiva. Porque a gente sabe que se a pessoa não está bem afetivamente, ela não vai estar bem fisicamente, ela não vai estar bem mentalmente, ela as vezes até não consegue produzir para seu próprio sustento porque ela não está bem afetivamente”, destaca Marcus Silvestre.
Marco democrático
Sendo este o primeiro ano do terceiro mandato do governo Lula (PT), um dos pontos levantados na passeata foi a situação democrática do país nos últimos anos. “É uma alegria receber as pessoas em um ambiente mais democrático, num ambiente em que a gente possa respeitar as diferenças, qualquer tipo que seja. Então, este ano, após passarmos seis anos de uma situação conflituosa com a democracia (...), graças à sabedoria do povo brasileiro, de um modo geral, nós viramos essa página”, pontua.
Apesar de compreender as vitórias no campo democrático, Silvestre questiona a eficácia de algumas conquistas. “Nós temos uma independência formal do país, mas será que o país é realmente independente, no contexto mundial? Será que o país tem políticas públicas que façam com que o seu povo se sinta soberano, se sinta dono dessa terra?”, indaga o militante.
“Eu até me emociono porque a gente vê a situação das pessoas que moram na rua, por exemplo. Aí nós temos problemas de saúde mental, nós temos problemas de dependência de drogas, nós temos problemas de desemprego, nós tempos problemas de moradia, problemas de educação. Então, tudo isso resulta numa grande exclusão social que nosso país, infelizmente é um país campeão, é um país que a gente tem uma quantidade muito grande de pessoas que são excluídas, mas elas não são excluídas só do mercado de trabalho, do mercado de consumo. Elas são principalmente excluídas das decisões. Então, as pessoas não têm acesso a decidir as coisas através do Estado. Então o 7 de setembro é uma escolha em torno disso, se o nosso país é realmente soberano. A gente defende a paz, a gente não defende a guerra em hipótese alguma, exceto a rebeldia que o ser humano tem que fazer diante da injustiça. A gente admite a revolta do ser humano diante da injustiça”, afirma.