População e coletivos participam do Grito dos Excluídos
Articulações relembram a importância da caminhada no Dia da Independência
O Recife foi um dos palcos do 29º Grito dos Excluídos, nesta quinta-feira (7), realizado tradicionalmente no Dia da Independência do Brasil, como forma de protestar contra as desigualdades sociais no país. A caminhada é marcada pelo encontro de diversos coletivos populares que levantam bandeiras pela defesa de diferentes frentes.
Participação popular ocupa passeata
Além dos coletivos e agrupamentos reunidos, muitas pessoas compareceram por conta própria, para dar apoio às causas levantadas no Dia da Independência. É o caso do casal Marcelo Khan, 57 anos, e Lucia Silva, 58, moradores do bairro de Campo Grande, Zona Norte do Recife. Mesmo estando sempre presente em outras manifestações populares, esta é a primeira vez de Marcelo na marcha do Grito dos Excluídos. “É importante, é necessária. A gente passou por um período muito obscuro, tá na hora das pessoas realmente darem valor a isso, se juntar em prol [de combater] essas distorções sociais, tentar um mundo mais equânime”, afirmou Marcelo.
Marcelo Khan é servidor público, e participa do Grito dos Excluídos pela primeira vez. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Lucia Silva diz que a participação em manifestações populares é importante para agregar conhecimento e consciência política, e é assim que busca educar seus filhos. “É a primeira vez que eu to participando desse evento, mas eu já quis participar outras vezes, porque eu acho importante essa consciência política dessa classe trabalhadora, que luta, que só [o presidente] Lula, que nos representa, que a gente possa conseguir coisas melhores pro trabalhador e pro pobre”, afirmou ao LeiaJá.
Lucia Silva acredita na conscientização política. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
A assistente administrativa ainda ressaltou a importância da participação em família, para ensinar seus valores aos filhos. “Eles são totalmente que nem nós somos, da classe trabalhadora, que lutam, batalham como nós, para gente ser um país melhor. Todos os pais deveriam ter essa consciência política e incutir isso na cabeça dos filhos desde pequenos, para que eles possam ter consciência política”, disse.
Mulheres Indígenas
Uma das representações presentes este ano foi a Articulação de Mulheres Indígenas em Contexto Urbano (Amicupe), para mostrar a realidade do povo indígena no estado. É o caso de Iraci, do Povo Xucuru do Ororubá, que participa da caminhada para dar visibilidade à situação vivida historicamente pelos povos indígenas. “Essa articulação é muito importante porque a gente tá na luta, e é na luta mesmo que a gente consegue vencer. Estamos representando nossos parentes que estão na aldeia, que está aqui em Recife também, é um prazer imenso estar aqui, lutando pelos nossos direitos”, afirmou.
Iraci, da etnia Xucuru do Ororubá. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Iraci reforçou que o Povo Xucuru segue firme, mesmo diante do julgamento de uma ação rescisória, realizado na última quarta-feira (6), contra um pedido de reintegração posse de uma região do território indígena feito por fazendeiros. “O que a gente pensa a respeito, e o que a gente torce, é que no final vai dar tudo certo, já deu certo. Como nosso cacique [Marcos] diz: ‘Avante! Diga ao povo que avance! Avançaremos!’. Então estamos esperando, e vamos alcançar sim, porque o nosso território é sagrado, é mãe da mainha, e o nosso [Cacique] Xicão nos deixou essa missão, que nos dá o direito de estar aqui, reivindicando por ele também, e pela nossa aldeia”, declarou.
Bases consolidadas na religião
O Grito dos Excluídos surgiu dentro de um contexto religioso, após uma reunião na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Diante do seu histórico, a maioria dos coletivos presentes no movimento são de frentes religiosas, como a Rede Um Grito Pela Vida, representado na passeata pela Irmã Pascoalina, organizada pela Conferência dos Religiosos do Brasil. Irmã Pascoalina compartilhou o sentimento de participar da caminhada. “Para mim é uma alegria muito grande, me sinto pessoa integrada da comunidade, me sinto responsável pelo bem, pela paz, pela vida do nosso país, do nosso povo”.
Irmã Pascoalina, representante da Rede Um Grito Pela Vida. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Frente Favela Brasil
Dentro do contexto de representatividade urbana, o coletivo Frente Favela Brasil em Pernambuco também esteve presente, sob a representação de um dos articuladores no Recife, Tales Pedrosa. “É importante que o movimento continue sempre na rua. A gente voltou para um governo de frente ampla, que olha mais por essa área, mas é preciso que a gente continue pautando e sendo presentes nesses movimentos, porque os problemas ainda persistem”, declarou.
Tales Pedrosa, articulador do Frente Favela Brasil em Pernambuco. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
“A gente precisa ainda ocupar muitos espaços, voltar. Porque a gente tá num momento de fase, de reconstrução, então é importante buscar e pautar o que a gente precisa, o que é prioridade pra gente. Porque é sempre importante olhar pelo lado da interseccionalidade. A gente observar quais são as necessidades de cada específico, e a partir daí construir políticas públicas importantes, e o Grito dos Excluídos é historicamente o momento em que as pessoas podem botar sua voz e buscar ser ouvidas”, finalizou Pedrosa.