Saiba mais sobre o sínodo do futuro da Igreja

Durante dois anos, os quase 1,3 bilhão de católicos em todo o mundo foram convidados a expressar sua visão da Igreja e de temas da atualidade

seg, 02/10/2023 - 09:51
Tiziana FABI Oração ecumênica liderada pelo papa Francisco na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 30 de setembro de 2023 Tiziana FABI

O papa Francisco abrirá na quarta-feira (4), no Vaticano, a 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, ponto alto de uma extensa consulta mundial sobre o futuro da Igreja Católica que terminará em 29 de outubro.

Confira abaixo cinco pontos sobre o evento:

- Consulta -

Durante dois anos, os quase 1,3 bilhão de católicos em todo o mundo foram convidados a expressar sua visão da Igreja e de temas da atualidade. O processo foi lançado pelo papa Francisco, que deseja implementar um funcionamento menos piramidal na Igreja Católica.

"É um grande espaço de reflexão da Igreja, sobre sua maneira de ser e de proceder", resume o secretário especial da assembleia, o padre italiano Giacomo Costa.

Para "ter um momento de discernimento mais importante", o papa decidiu dividir a assembleia do sínodo em dois tempos, com uma segunda sessão plenária em outubro de 2024.

- Violência sexual, LGBT+ e mulheres -

Em um documento de trabalho publicado em junho, o Vaticano apresentou as questões que serão discutidas: acolhimento de pessoas LGBT+ e de pessoas divorciadas, poligamia, padres casados, o lugar das mulheres na Igreja, violência sexual, entre outros.

Esta é a primeira vez que o Vaticano aborda tantas questões sensíveis de forma tão aberta.

"Há questões sobre as quais todos já concordamos, como o lugar das mulheres na Igreja, que deve ser repensado. Mas como? E, depois, há outras questões, sobre as quais não estamos de acordoo. É preciso perguntar a teólogos, especialistas, sociólogos", explica Giacomo Costa.

Uma atenção especial será reservada à delicada questão do acesso das mulheres às funções de diácono, até agora reservadas aos homens, ou à ordenação de homens casados, tema sobre o qual o papa recuou em 2019.

- Voto das mulheres e laicos -

O sínodo é uma instituição consultiva criada pelo papa Paulo VI em 1965 no âmbito do Concílio Vaticano II que se reúne regularmente em assembleias.

Depois dos sínodos sobre a família (2014 e 2015), a juventude (2018) e a Amazônia (2019), Francisco deu um passo histórico na Igreja Católica e pela primeira vez permitirá o voto das mulheres e laicos não consagrados.

"É uma mudança total em relação a Paulo VI. Desta vez, convoca-se o povo de Deus, e não os representantes", comenta um observador do Vaticano em entrevista à AFP.

"Entre os bispos, existe uma cultura eclesiástica. Com os laicos, isto não funcionará: eles não se contentarão com boas palavras. Haverá exigências sobre o procedimento, sobre a vontade de mudar, sobre a eficácia", acrescenta.

- Uma agenda carregada -

Durante quatro semanas, os 464 participantes, 365 deles com direito a voto, se reunirão diariamente no Vaticano, divididos em grupos de reflexão em cinco idiomas (inglês, italiano, espanhol, francês e português). Entre eles, há 54 mulheres.

Os trabalhos serão divididos em quatro módulos.

Destaca-se a participação de dois bispos chineses no contexto da delicada relação entre a Santa Sé e a República Popular, que se baseia em um acordo secreto assinado em 2018 sobre a nomeação de bispos.

O sínodo começará e terminará com uma missa presidida pelo pontífice na Basílica de São Pedro e será marcado por momentos de oração. O Vaticano decidiu limitar as comunicações sobre o conteúdo das discussões neste período.

- Risco de divergências -

A assembleia permitirá calibrar o equilíbrio de forças dentro da Igreja em relação aos desafios da instituição. A posição do clero alemão, radicalmente diferente da opinião do Vaticano, será acompanhada de perto.

A Igreja provocou uma disputa com Rom, ao exigir que o papa "reexaminasse" a questão do celibato dos sacerdotes e da ordenação das mulheres.

"No sínodo não há lugar para ideologia", alertou Francisco no início de setembro. No domingo (1º), o papa insistiu na importância do diálogo e de "caminhar juntos".

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