Uma em cada cinco crianças vive na pobreza em países ricos

Entre os períodos 2012-2014 e 2019-2021, o número de crianças em situação de pobreza diminuiu cerca de 8% nos cerca 40 países da União Europeia e da OCDE analisados

qua, 06/12/2023 - 07:23
JEFF PACHOUD Famílias e membros do Coletivo pela Solidariedade entre mulheres sem-teto ocupam centro cultural da associação em Villeurbanne, centro da França, em 9 de novembro de 2023 JEFF PACHOUD

Apesar de uma melhora nos últimos anos, mais de 69 milhões de crianças vivem na pobreza nos 40 países mais ricos do planeta, ou seja, mais de uma criança em cada cinco vive nesta condição, segundo um relatório do Unicef publicado na noite desta terça-feira (5).

Entre os períodos 2012-2014 e 2019-2021, o número de crianças em situação de pobreza diminuiu cerca de 8% nos cerca 40 países da União Europeia e da OCDE analisados.

Isto representa "cerca de seis milhões" de crianças que superaram a pobreza, segundo o informe do Unicef Innocenti, braço de pesquisas do Fundo das Nações Unidas para a Infância.

Mas no final de 2021, "ainda havia mais de 69 milhões de crianças pobres" nestes países, segundo o informe.

Com uma pobreza infantil de 35%, a Colômbia destacou-se como o país com a pior taxa de pobreza neste segmento da população, seguida de Turquia (33,8%), Romênia (29%), Espanha (28%), México (27,3%), Estados Unidos (26,6%) e Chile (21,6%) no período 2019-2021. Com 9,9%, o aluno exemplar foi a Dinamarca, seguida de Eslovênia (10%), Finlândia (10,1%), República Tcheca (11,6%) e Noruega (12%).

"Mais que dinheiro"

"A pobreza vai além da falta de dinheiro", adverte o informe.

"Para a maioria das crianças, isto representa um risco de crescer sem alimentos nutritivos, sem roupas, material escolar ou calefação suficiente", comenta Bo Viktor Nylund, do Unicef Innocenti, alertando para os riscos à "saúde física e mental".

O Unicef se baseia na "pobreza relativa", que corresponde a 60% da renda média nacional, frequentemente usada pelos países desenvolvidos para delimitar a linha da pobreza.

O informe reforça a necessidade de se criar ferramentas de proteção social específicas para garantir o bem-estar das crianças e a "vontade política" dos governantes.

É que tirar os menores da pobreza não é uma consequência automática da riqueza de um país.

Apesar da melhora geral observada na última década, há diferenças entre os países. A principal é que os que "mais conseguiram reduzir a pobreza infantil não são nem os mais ricos, nem os que mais cresceram", destaca o informe.

De fato, desde 2012, os reveses mais importantes foram observados em países ricos como Reino Unido, onde a pobreza infantil aumentou 19,6%, Islândia (+11%) e França (+10,4%).

E os que mais a reduziram foram Polônia (-37,6%), Eslovênia (-31,4%), Letônia (-31%) e Lituânia (-30,6%).

Nos Estados Unidos, o número de menores vivendo na pobreza diminuiu 6,7%, embora mais de uma criança em cada quatro viva na pobreza relativa - o dobro da Dinamarca no 2019-2021, um país com renda per capita similar.

O maior risco de pobreza infantil assombra as crianças de famílias monoparentais, as pertencentes a minorias e as de migrantes.

Nos Estados Unidos, por exemplo, 30% das crianças afro-americanas, 29% das nativas americanas e 22% das hispânicas vivem abaixo da linha nacional da pobreza, contra 10% das crianças brancas não hispânicas.

Na UE, uma criança filha de pais não comunitários tem 2,4 vezes mais probabilidades de ser pobre do que uma filha de pais europeus.

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