Exumação de Jango pode ser abertura para outras reparações

Para historiador, morte do ex-presidente pode estar envolvida com a Operação Condor

sex, 15/11/2013 - 09:04
Marcello Casal Jr./Agência Brasil Ex-presidente foi recebido com honras militares nesta quinta (14) Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A exumação do corpo do ex-presidente João Goulart pode dar início a outras “reparações” na história recente do País. A investigação da sua morte – ele faleceu em dezembro de 1976 durante exílio na Argentina, supostamente de ataque do coração – foi solicitada pela sua família. Os parentes acreditam que o ex-majoritário foi envenenado. Segundo o historiador Diogo Barreto, os militares provavelmente estão envolvidos no caso de “Jango”.

“Tem muita gente com medo da exumação de Goulart. Ela provavelmente vai comprovar que ele foi assassinado na Operação Condor (ação conjunta das ditaduras instaladas no Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai). Existem hipóteses que a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek , Carlos Lacerda e do próprio João Goulart teria sido planejadas. A ideia de matar Jango existia na época que ele iria tomar posse no lugar de Jânio Quadros que saiu do poder, mas com uma manobra política isso foi evitado”, explicou o acadêmico.

“Muito do que se tem hoje de produção acadêmica sobre João Goulart mostra essa hipótese (que ele foi assassinado), que Jango não queria dar um golpe comunista. Na verdade, os militares rotularam bastante a imagem de Goulart para chegarem ao poder. Ele se aproximou dos países ditos de esquerda, mas isso não quer dizer que ele iria implantar isso no País. Ele queria era fazer uma política de legalidade”, completou.

De acordo com Barreto, as reformas da base propostas por João Goulart teve o apoio da classe trabalhadora, o que acabou mexendo com os interesses de uma parte da representação política do País. “No discurso que ele fez em 1963 ele foi ovacionado pela classe trabalhadora. Isso incomodou muita gente, inclusive os militares. O engraçado é que antes do golpe de 1964, ele estava convicto que não aconteceria nada com ele. Inclusive,  Luis Carlos Prestes  afirmou na Rádio Nacional que não haveria golpe”, lembrou o historiador.

Nesta quinta-feira (14), o corpo do ex-presidente João Goulart foi homenageado com todas as honras de um Chefe do Estado, após 36 anos de sua morte, em Brasília. Na cerimônia estavam presentes a presidente Dilma Rousseff (PT), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a família de Jango.

A líder petista depositou, junto com a viúva de João Goulart, Maria Thereza, uma coroa de flores brancas na urna com os restos mortais do presidente. A esposa de Jango recebeu a bandeira brasileira que estava em cima da urna com os restos mortais do ex-majoritário. 



Ao final, a urna foi levada pela Polícia Federal para o Instituto Nacional de Criminalística, onde será feita a coleta das amostras necessárias para a realização da perícia.

COMENTÁRIOS dos leitores