Marina diz que não pediu favores para tratar doença
A socialista rebateu afirmações de um jornalista que a intitulou de "ingrata" em uma revista de circulação nacional
A ex-senadora Marina Silva (PSB) rebateu no facebook, nesta segunda-feira (9), as declarações de um jornalista que segundo ela teria apontado a "falta de gratidão" aos atendimentos recebidos em alguns hospitais públicos quando descobriu que estava doente, por causa da contaminação que sofreu com mercúrio em 1990. Segundo a ex-senadora, o tratamento na rede privada foi pago por ela e as consultas feitas pelo médico David Capistrano, ex-secretário de Saúde e ex-prefeito de Santos, não resultaram no diagnóstico da doença.
Marina frisou ainda que o tratamento feito por ela no no Massachusetts General Hospital, em Boston, pago pelo Senado, enquanto ocupava uma cadeira na Casa pelo PT, foi baseado no "princípio da isonomia", já que a Mesa Diretora teria autorizado o pagamento das despesas de um outro senador, na época. De acordo com a socialista não houve nenhum "favor" prestado, mas "um direito dos cidadão".
Para a ex-senadora, ter "ideias próprias e não ser submissa às ordens de quem se julga dono do Estado" não é pressuposto de ingratidão, como elencou o jornalista, que segundo Marina deixou de cumprir a regra básica do bom jornalismo a apuração.
Confira o comentário na íntegra:
Na edição desta semana da revista “Carta Capital”, o jornalista Mauricio Dias dedica uma página para apontar a falta de gratidão que, segundo ele, caracteriza minha pessoa. Num texto cheio de inverdades sob o título “Um Retrato de Marina”, cita dois episódios ocorridos no período em que eu sofria os malefícios da contaminação por mercúrio, na década de 1990. Bastaria o jornalista, ao menos, ter me ligado para que eu esclarecesse as situações citadas. Não o fez – o que é estranho e me faz suspeitar de suas reais intenções –, por isso devo eu mesma relatar os fatos para repor a verdade.
Em 1991, quando passei a ter desmaios, tremores, crises alérgicas e outros padecimentos, passei a morar na casa da minha sogra, no bairro do Boqueirão, em Santos (SP), em busca de serviço médico especializado que não encontrava no Acre. Durante um ano e oito meses, fiz uma infinidade de exames no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, todos bancados por mim, sem que os médicos chegassem a um veredito sobre as causas de minha enfermidade. Ao ler um artigo numa revista médica sobre as consequências da presença de mercúrio no sangue, que provocava sintomas semelhantes aos meus, procurei o autor do texto que, então, me indicou dois especialistas no assunto, os doutores José Maria de Melo Barros de Santos, já falecido, e Efraim Osvalde, de São Paulo. Foram os dois que tomaram a iniciativa de enviar amostras de meu cabelo a um laboratório nos Estados Unidos, exames pagos novamente por mim e que confirmaram a presença de mercúrio em níveis elevados.
Não é verdade, portanto, que o diagnóstico da presença da substância “só foi dado a partir da perícia médica de David Capistrano Filho”, ex-secretário de Saúde e ex-prefeito de Santos, como diz Mauricio Dias. Reconheço ter recorrido muitas vezes às Policlínicas da cidade litorânea criadas por Capistrano, mas sempre por meio de agendamentos feitos por telefone ou, em crises mais agudas, recorrendo ao pronto-socorro, comportamento de qualquer cidadão que precisa de atendimento no serviço público.
Em 1997, já senadora pelo PT e ainda sofrendo da contaminação por mercúrio, fui aconselhada a fazer tratamento no Massachusetts General Hospital, em Boston. Sabedora de que o Senado havia pago as despesas de um tratamento nos Estados Unidos do senador Flaviano Melo, que havia sofrido um derrame, pedi ao líder de nossa bancada, Eduardo Suplicy, que solicitasse à Mesa que procedesse da mesma maneira em relação a meu caso. Não foi feito nenhum favor, apenas aplicou-se o princípio da isonomia.
Aprendi, como se dizia no PT daquela época, que o acesso aos serviços de saúde não são favores, mas um direito dos cidadãos. Agora dizem que é “ingratidão” ter ideias próprias e não ser submissa às ordens de quem se julga dono do Estado.
É esse preconceito que Mauricio Dias dissemina ao deixar de cumprir regra básica do bom jornalismo, promovendo um desserviço aos leitores de “Carta Capital” e ao debate democrático.