Comissão esclarece caso de bomba no aeroporto do Recife
Na ocasião também foi entregue a certidão de óbito retificada de Odijas Carvalho
O mistério sobre a explosão de uma bomba no Aeroporto dos Guararapes no dia 25 de julho de 1966 foi revelado nesta terça-feira (10). A versão real sobre o caso foi apresentado pela Comissão da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC) na sede provisória do governo, no Centro de Convenções em Olinda.
Com a presença do governador Eduardo Campos (PSB), deputados estaduais e secretários além de familiares e uma da vitimas acusada pelo crime, o coordenador geral da CEMVDHC, Fernando Coelho, explicou a inocência do ex-deputado federal Ricardo Zarattini e do professor Edinaldo Miranda. "Sabíamos que era injusto, mas até agora não tínhamos nenhum documento oficial. Conseguimos então o documento que reconhece a parte do Estado e a não participação de Zarattini e Edinaldo", contou.
Tomando a palavra para tratar do fato, o ex-parlamentar Ricardo Zarattini fez questão de homenagear o líder estudantil Odijas Carvalho pela Comissão da Verdade entregar também no evento, o atestado de óbito reficado. “Agradeço a presença de todos e neste momento, numa só voz, gostaria que todos fizessem uma homenagem a Odijas”, iniciou Zarattini gritando em seguida em tom forte “Odijas presente”. O ex-deputado também contou que até a aeronáutica o condenou pela bomba e, inclusive, foi acolhido por Dom Hélder Câmara quando fugiu, mas apesar das acusações desejou continuar perseverante. “Vamos à luta”, concluiu.
Após investigações, à Comissão da Verdade identificou que a bomba do Aeroporto dos Guararapes foi colocada por Raimundo Gonçalves de Figueiredo, pertinente ao Centro Militante da Ala Vermelha do PCdoB. Também compareceu ao evento a filha de Edinaldo Miranda, o segundo acusado de ter colocado a bomba.
Certidão de óbito - Durante o evento a CEMVDHC também entregou ao governador e familiares do Líder estudantil de Agronomia da Universidade Rural de Pernambuco e militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Odijas Carvalho de Souza, a certidão de óbito retificada com a verdadeira causa da morte da vítima.
No documento foi exposto que houve homicídio por lesões corporais múltiplas decorrentes de atos de tortura, emitido no Cartório Registro Civil da Graça 60 Distrito Judiciário da Capital (Recife).
Emocionada, a viúva de Odijas, Maria Yvone Loureiro, que também foi presa na época do crime, agradeceu o trabalho realizado pela Comissão da Verdade e fez questão de frisar que seu esposo lutava por ideais e não abriu mão em nenhum segundo de buscar isso. “É uma emoção muito grande. Desde que saí da prisão eu passei 20 anos sem conseguir falar sobre isso. Ele teve a vida ceifada aos 25 anos, e na época eu tinha 23”, relembrou, descrevendo Odijas como uma pessoa heroica, terna, mas também animado e apreciador de música.
Mesmo com a apresentação dos dois importantes documentos, Fernando Coelho garantiu não parar os trabalhos. “Nós vamos continuar investigando e temos já milhares de documentos coletados em relação à opressão daquela época”, prometeu.
Fechando os discursos oficiais, o governador Eduardo Campos disse ser “difícil estarmos tratando de duas pessoas que foram réus sem crime”, e avaliou a situação como um resgate dos fatos. “A gente percebeu que este ato é um resgate (...). É a verdade que se sabe e que não se comprovava e permite fazer o reconhecimento do Estado brasileiro de como Odijas foi morto, tocado por aquilo que já sabíamos”, disse Campos, pontuando posteriormente a revelação da bomba no Aeroporto dos Guararapes.
Morte - Odijas morreu em 08 de fevereiro de 1971, nas dependências do Hospital da PMPE, no Recife. O atestado divulgado durante a ditadura indicou embolia pulmonar (morte natural), assinado pelo médico Ednaldo Paes Vasconcelos. O caso dele é um dos 51 que compõem a lista preliminar de mortos e desaparecidos políticos pernambucanos e que são alvo de análise da CEMVDHC.