Marina critica o "Brasil" apresentado por Dilma em Davos

A socialista também comenta a reforma ministerial, chamando-a de redistribuição de cargos políticos

por Giselly Santos sex, 31/01/2014 - 14:42
Cleiton Lima/LeiaJáImagens/Arquivo Marina também criticou alguns itens colocados como prioridade pelo Governo Federal Cleiton Lima/LeiaJáImagens/Arquivo

A ex-senadora Marina Silva (PSB-AC) criticou, nesta sexta-feira (31), o “Brasil” apresentado pela presidente Dilma Rousseff (PT) no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Em artigo, publicado pela Folha de São Paulo, da socialista faz duras críticas ao modelo de gestão da petista e ironiza alguns itens colocados como prioridade do Governo Federal, entre eles a educação. Marina faz questão de pontuar o índice de analfabetismo nacional, a queda dos investimentos no Ministério da Educação e o cancelamento da Conferência Nacional de Educação.

Além disso, a socialista também menciona a reforma ministerial, que acontece atualmente nas pastas da gestão petista. Para ela a ação é apenas para a redistribuição de cargos políticos. “Longe de significar novo planejamento de metas de longo prazo, (a reforma) reduz-se a uma redistribuição de cargos com o curto prazo eleitoral. Desse modo, a distância entre o Brasil e Davos só aumenta”, diz o texto.

Veja o artigo na íntegra:

Distância

O Brasil fica longe de Davos. Mais que nos mapas, a distância pode ser medida no discurso da presidente Dilma Rousseff no Fórum Econômico Mundial que aconteceu na semana passada na bela e fria estação suíça. Todos concordamos com suas palavras: a educação tem importância estratégica para reduzir a desigualdade social e, ao mesmo tempo, alicerçar uma economia do conhecimento com tecnologia e inovação. Por isso, a educação está entre as prioridades, junto com a infraestrutura, o planejamento urbano, a estabilidade econômica e outras grandes questões definidoras do desenvolvimento do Brasil.

Cinco dias depois, a Unesco divulgou relatório que coloca o Brasil –entre 150 países pesquisados– em 8º lugar no número de analfabetos adultos. Eram 13,2 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais em 2012, segundo o IBGE. É quase impossível reduzir a taxa de analfabetismo entre adultos, de 8,7% naquele ano, para os 6,7% fixados nas metas da ONU para o ano que vem.

Ontem, lemos nos jornais: os investimentos do Ministério da Educação caíram 13% de janeiro a novembro de 2013 em relação ao mesmo período do ano anterior. O noticiário nos avisa também que a equipe econômica estuda reduzir ainda mais o orçamento da pasta para que o governo recupere a credibilidade perdida desde que foram revelados seus artifícios contábeis para fechar as contas no fim do ano.

Os especialistas indicam o contrário, a necessidade urgente de o Brasil aumentar os investimentos que hoje são de R$ 5 mil para cada aluno da educação básica. Em países ricos, esse valor é três vezes maior. Que não chegássemos a tanto, mas diminuir as verbas da educação é ir em direção oposta.

Para completar, no mesmo dia do discurso em Davos, o governo anunciou o cancelamento da Conferência Nacional de Educação (Conae), que aconteceria em fevereiro, a tempo de pressionar o Congresso na tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE), que voltou para a Câmara dos Deputados depois de modificado, para pior, pelo Senado. Sob protesto dos movimentos de defesa da educação, a Conae ficou para novembro, depois da Copa e das eleições, e o PNE, que deveria ter sido aprovado há três anos, vai atrasar mais um.

É impossível tornar consequente o discurso da presidente enquanto perdurar uma ideia fisiológica e patrimonialista de governabilidade, segundo a qual um ministério pode ser fatiado e distribuído entre partidos aliados. Uma reforma ministerial, mesmo diante de prioridades inegavelmente estratégicas e eloquentemente discursadas, longe de significar novo planejamento de metas de longo prazo, reduz-se a uma redistribuição de cargos com o curto prazo eleitoral. Desse modo, a distância entre o Brasil e Davos só aumenta.

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