África do Sul segue desigual após vinte anos do Apartheid

Mesmo vencendo as útlimas eleições, partido criado pelo líder sul-africano, o CNA, ainda é visto com desconfiança

por Alex Ribeiro sab, 10/05/2014 - 06:09
Divulgação Nelson Mandela faleceu no fim do ano passado Divulgação

Há 20 anos a África do Sul passou por uma mudança significativa no sistema político. Em 1994, o país africano elegeu Nelson Mandela como o primeiro chefe de Estado negro. A sua posse pôs fim ao sistema Apartheid, um regime de segregação étnica, adotado por 46 anos, onde a minoria branca governava a sociedade sul-africana.

“Existe uma grande importância em relação à luta dele pelos direitos humanos na África do Sul. Desde a prisão até a sua morte no ano passado, Nelson Mandela foi capaz de fazer com que os sul-africanos e outros Estados do continentes enxergassem a questão racial não apenas pelo lado político, mas especialmente pelo cultural”, explicou o professor de história, Diogo Barreto.

De acordo com a a doutoranda em relações internacionais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Juliana Vitorino, o Apartheid foi, possivelmente, o único caso de segregação étnico-racial institucional que conhecemos. "Ele (o Apartheid) consistia, basicamente, na perpetuação de uma lógica herdada da colonização, dando benefícios políticos, econômicos e sociais à minoria branca dá África do Sul. As regras segregacionistas consistiam, basicamente em limitar o acesso e presença dos negros nos diferentes âmbitos da vida social, pois ficaram proibidos de ocuparem certos postos de trabalho, de escolher livremente seu lugar de moradia e de participar de atividades econômicas rentáveis", relatou a acadêmica.

"Esse sistema acabou provocando e incitando muita violência e um forte movimento de resistência, que teve Nelson Mandela em suas filas. É justamente nesse contexto de luta social que ele acaba preso e volta a vida pública para continuar a luta por uma África do Sul livre e reconciliada", completou.

Nelson Mandela subiu ao poder em 1994 pelo CNA (Congresso Nacional Africano). Nas eleições da última quarta-feira (7), na própria África do Sul, o partido também saiu vencedor do pleito. As quintas eleições gerais do país vai ajudar o atual presidente, Jacob Zuma, a ficar a frente do Estado sul-africano por mais cinco anos. O majoritário é acusado de realizar práticas corruptas, além de não ajudar no desenvolvimento econômico do seu país.

“A permanência da CNA é importante e simbólica, porque o partido representa exatamente a construção de uma África do Sul mais igualitária e inclusiva. Mas, ao mesmo tempo, foram governos que empacaram em problemas sociais, ainda por serem resolvidos”, analisou Juliana Vitorino.

“Podemos considerar ainda a importância da BRICS (agrupamento econômico composto por Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul) que aparece como grande estratégia para incremento do comércio e pelo estabelecimento de uma agenda diferenciada no sistema internacional”, disse.

De acordo com a internacionalista, ainda hoje a África do Sul luta por igualar os padrões de vida entre brancos e negros. "Provavelmente, essa é ainda uma das grandes dívidas. Persistem o desemprego e a desigualdade de renda, tendo uma vasta população negra que vive na pobreza", concluiu.

 

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