Lula se despede do "filho político"
Apesar de adversários no pleito, Eduardo e Lula ainda nutriam amizades
A sensação de que a disputa maior é das ideias e não das pessoas ficou aparentemente clara durante o velório do ex-governador Eduardo Campos (PSB), neste domingo (17), em frente ao Palácio do Campo das Princesas, no Recife. Entre os políticos que estiveram no local prestando as últimas homenagens ao pernambucano o ex-presidente Lula (PT) e a presidente Dilma Rousseff (PT) foram os que mais chamaram a atenção, pois os dois configuravam o campo opositor ao do socialista na disputa presidencial.
Lula e Dilma chegaram juntos ao local, para participarem da missa de corpo presente de Campos, alguns populares ao visualizar os petistas ensaiaram umas vaias, que não ganhou força. No entanto, o grito de guerra da campanha presidencial do PSB, “Eduardo guerreiro do povo brasileiro” foi mais uma vez entoado com intensidade. Neste momento até Lula também empunhou o braço e referendou as palavras.
Apesar do clima de desconforto entre a população e os líderes petistas, podia-se ver o contrário quanto a relação amistosa entre a família de Campos e o ex-presidente. Lula e Renata chegaram a trocar conversar por um bom tempo, ele pegou no colo o filho caçula do casal, Miguel, de sete meses, e recebeu o carinho da mãe de Campos, a ministra Ana Arraes, e dos outros quatro filhos do ex-governador.
Alguns políticos comentaram entre si que a presença de Lula no velório significava o “arrependimento” de um pai que não chegou a se reconciliar com o filho. De acordo com o coordenador do programa de governo do PSB, Maurício Rands, a relação de amizade entre o petista e Campos nunca foi destruída. “Nesses dias perto de Eduardo constantemente ele nunca faltou com respeito a Lula. Sempre manteve a amizade e o carinho, mesmo sem se falarem”, disse.
Assim que soube da morte do presidenciável, a quem considerava um “filho político”, Lula não escondeu tristeza e pesar. Ele telefonou para Ana Arraes e ao conversar com ela não conteve as lágrimas. Em nota à imprensa o ex-presidente contou que conheceu Eduardo por intermédio do avô, Miguel Arraes.
“O país perde um homem público de rara e extraordinária qualidade. Ao longo de toda sua vida, Eduardo lutou para tornar o Brasil um país mais justo e digno. O carinho, o respeito e a admiração mútua sempre estiveram presentes em nossa convivência”, diz um trecho do texto, no qual o petista considera o ex-governador como um “grande amigo e companheiro”.
A relação entre os dois começou a ficar estremecida quando Eduardo assumiu posturas críticas a Dilma e desembarcou do governo dela, setembro do ano passado. A partir dali as esperanças de Lula em ter Campos na chapa petista este ano definhava.
Nos bastidores, conta-se que o ex-presidente queria substituir a vaga de vice na disputa presidencial deste ano, colocando Eduardo Campos no lugar de Michel Temer (PMDB). Outros até conjecturavam o desejo de em 2018 o pernambucano ser o candidato do PT ao Palácio do Planalto.