CEMVDHC reúne depoimentos de vítimas da ditadura

Profissionais de comunicação de Pernambuco relataram a repressão sofrida na época, em audiência pública realizada na Fundaj

por Elaine Ventura qua, 17/12/2014 - 16:11

Jornalistas pernambucanos que vivenciaram o período da ditadura no Brasil participaram de audiência pública promovida pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC). Durante o evento realizado nos dias 16 e 17 de dezembro, na Fundação Joaquim Nabuco, sete profissionais de comunicação relataram experiências de retaliação sofridas durante o período militar (1964-1985). De acordo com o cientista político e integrante da Comissão, Manoel Moraes, a ideia é levar à discussão a violação de direitos humanos praticadas contra os profissionais de jornalismo, no respectivo período, apresentando experiências das próprias vítimas, seja referente a qualquer tipo de ‘agressão’ sofrida ou presenciada e ainda abordar como essa repressão afeta os dias atuais.

“Nessa relatoria temática, trouxemos profissionais de épocas distintas que puderam apresentar experiências em cada período da ditadura militar. Uma das principais formas de repressão foi a censura e ela ainda tem forte influência nos dias atuais. Quando você tem uma imprensa garroteada, que não pode escrever sobre políticos do contexto, acaba empobrecendo a democracia.O que está em jogo é a liberdade do profissional, que na sua natureza quanto jornalista tem direitos, os quais precisam ser preservados para garantir que não tenhamos uma ditadura, seja qual for a forma dela, militar ou comercial”, pontuou Manoel Moraes, ressaltando que muitas empresas de comunicação censuram os profissionais para atender interesses comerciais. “O Noblat apresentou na mesa de ontem dados sobre a industrialização da informação, onde se manipulam dados e produzem profissionais que são reprimidos pela lógica do mercado”, concluiu. 

Participaram dos debates desta quarta (17), a jornalista Helena Beltrão, o cartunista  Laílson de Holanda e o secretário de imprensa do Governo de Pernambuco, Ivan Maurício. Ao relatar as experiências vividas, o secretário afirmou que conseguiu burlar a ditadura com a forma de escrever. “Escrevi durante 10 anos sem ser censurado. Por exemplo, às vezes escrevia uma matéria sobre o palhaço e em meados do texto contava a realidade brasileira. Desta forma consegui com que meus artigos fossem aprovados”. Mas Ivan Maurício também relembrou a pressão que sofreu na época, quando recebia no meio do dia uma ligação em tom de ameaça, ao ser informado dos passos dos filhos por desconhecidos. 

A censura na atualidade também foi abordada pelo secretário de imprensa. De acordo com Ivan, a ditadura ainda deixa suas marcas, pois através de ferramentas tecnológicas, como Google maps a privacidade alheia acaba sofrendo intervenção. “A censura nos dias atuais é mais complexas, mais sutil. Ela é mais tecnológica, mais completa e mais rápido”, pontuou. 

De acordo com cartunista Laílson Holanda, a censura se faz presente nos dias atuais, pois através da pressão exercida pelo meio econômico e político, a democracia pode ser afetada e transformada em tirania. “A democracia leva a vontade da maioria. Mas para conquistar o desejo da maioria, algumas pessoas se utilizam do velho expediente do pão e do circo, onde oferecem benefícios em trocas dos seus interesses. Com isso a qualidade da administração da democracia vai se deteriorando e pode surgir, de repente, um grupo ou individuou que assume o poder e transforma aquilo numa tirania”, afirmou, declarando que para manter a democracia é necessário que a população tenha consciência dela e lute para manter a igualdade. 

 

COMENTÁRIOS dos leitores