PF levanta suspeita sobre ex-deputado do PC do B

seg, 05/01/2015 - 10:06

A Polícia Federal encontrou por acaso indícios que podem ligar o ex-deputado estadual da Bahia Javier Alfaya (PCdoB), aliado e homem de confiança do ex-governador e novo ministro da Defesa, Jaques Wagner (PT), ao esquema de lavagem de dinheiro investigado na Operação Lava Jato.

Em um caderno de anotações apreendido nas buscas relacionadas ao doleiro Carlos Habib Chater, dono do Posto da Torre, em Brasília, agentes da polícia identificaram o nome do ex-parlamentar baiano e valores relacionados.

"Na segunda parte do caderno constam várias páginas de anotações de valores para diversas pessoas", assinala relatório da PF. Entre essas pessoas estão cinco doleiros e agiotas ligados ao dono do Posto da Torre, que funcionava como "delivery da propina" a políticos que lá compareciam para saques em espécie.

"Consta também anotação em nome de 'Dep. Javier'", destaca a PF, referindo-se a um trecho manuscrito do caderno em que o nome do ex-parlamentar aparece grafado ao lado da expressão "2.250 ou 2.350".

Na mesma página, outras três referências a Javier, uma ao lado do registro "20 até 30 SEP", outra com o valor "2.200" e três pontos de interrogação e mais uma ao lado do apontamento "20 até 30".

"Trata-se de Javier Alfaya, deputado estadual da Bahia", informa o relatório que faz parte dos autos da Lava Jato. Arquiteto de profissão, nascido em Redondela (Espanha), Alfaya não é mais deputado. Em janeiro de 2013 ele foi nomeado para assumir um cargo de confiança no governo Wagner, na chefia do Escritório de Projetos da Secretaria para Assuntos da Copa (Secopa).

Suplente de deputado federal, de 1999 a 2003, efetivou-se na vaga de Jaques Wagner - em janeiro de 2003 - para logo depois assumir seu posto como deputado estadual, sempre pelo PC do B. Ele cumpriu dois mandatos na Assembleia Legislativa da Bahia, de 2003 a 2007 e de 2007 a 2010, sendo vice-líder do governo Wagner.

Caderno

O documento apreendido no dia 17 de março pela PF, em que aparece o nome do ex-parlamentar, é um caderno com anotações manuscritas de um dos réus da Lava Jato, Francisco Angelo da Silva.

O acusado é apontado como antigo "sócio" do doleiro dono do Posto da Torre e um dos supostos braços do esquema nos órgãos públicos. No ano passado, Silva ocupou cargo de assessor especial no governo do Distrito Federal, entre janeiro e outubro.

Conhecido como Chicote, e tratado por Chater como "Chico", Silva é réu acusado de integrar organização criminosa, comandada pelo dono do Posto da Torre, que movimentou R$ 124 milhões, segundo dados do Coaf, citados na denúncia do Ministério Público Federal.

O grupo comandado por Chater valeu-se de diversas empresas, "que tiveram suas contas bancárias utilzadas para operações do grupo e movimentação de valores provenientes dos mais vários crimes".

Segundo o MPF, além de ser um dos membros do grupo criminoso de Chater, Silva é acusado por operação não autorizada de instituição financeira (de janeiro de 2009 a março de 2014) e evasão de divisas.

Na ação penal, eles são acusados de promoverem transações de câmbio negro junto a outros doleiros réus da Lava Jato, entre eles o delator Alberto Youssef. Tanto Youssef como Chater confessaram ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato, que movimentavam dinheiro para políticos, entre eles o ex-deputado federal José Janene (PP-PR) - morto em 2010 - e para o ex-presidente do PP Pedro Corrêa.

Silva foi sócio de uma empresa de fachada criada por Chater em 1991, a Fly Turismo e Câmbio Ltda. Atualmente é "sócio oculto" ao lado da irmã do dono do Posto da Torre na Valotur Câmbio e Turismo.

A Valotur, que funciona no Posto da Torre, foi aberta em 2012 e segundo a Lava Jato era usada "no setor de câmbio turismo, expediente usualmente utilizado para ocultar a prática de operações no mercado de câmbio negro".

Em 2014, Silva exerceu a função de assessor especial da Subsecretaria de Planejamento e Gestão da Informação, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Região Metropolitana do DF. Silva foi exonerado do cargo de "natureza especial" no fim do ano.

"Francisco não seria mero laranja do esquema criminoso. Além de sócio da Valotur, demonstrou nos diálogos interceptados relacionamento bastante próximo a Habib, tendo ciência de sua participação no grupo", sustentam os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, no processo.

O ex-deputado estadual do PC do B citado no caderno do posto foi procurado pelo Estado desde sexta-feira, mas não respondeu aos pedidos de entrevista. Silva, réu da Lava Jato, não foi localizado.

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