Exílio: a lembrança mais marcante do avô

O neto de Arraes Antônio Campos conta que conheceu o avô quando estava no exílio e que viu a emoção de sua mãe, Ana Arraes, após anos sem ver o pai

por Taciana Carvalho qui, 15/12/2016 - 08:07
Brenda Alcântara/LeiaJáImagens “Meu avô nunca contou uma vantagem na vida e se comunicava com o olhar", disse Antônio Brenda Alcântara/LeiaJáImagens

Entre as principais recordações que um dos netos de Arraes, o advogado Antônio Campos, tem do avô é quando na época do exílio, na Argélia. Ele tinha cerca de nove anos e o irmão, Eduardo Campos, 11, quando viajaram ao lado da mãe Ana Arraes e de sua avó dona Benigna, mãe de Arraes. Uma visita difícil já que, naquele tempo, as exigências eram muitas para conseguir um visto.

Apesar da pouca idade à época, Antônio Campos recorda do acontecimento. “Foi marcante porque quando descemos na Argélia, demorou um pouco a nossa liberação na alfândega e eu me lembro muito bem da cena da minha mãe porque meu avô avistava a gente ser liberado na alfândega e demorou cerca de 50 minutos. Eu via a emoção da minha mãe ao ver o seu pai alguns anos depois e me lembro, fortemente, a volta em um avião da TAP onde minha mãe chorava muito. Ela achava que nunca mais viria o pai novamente, mas, quis o destino e Deus que ela voltasse a ver o pai, em 79, quando ele retornou e teve um dos maiores comícios da história de Pernambuco”.

                                                                                                                                                                  

“Meu avô foi um homem que dava um profundo valor à família, que teve 10 filhos e sempre teve uma ligação com todos, mas, teve uma ligação muito forte com a minha mãe Ana Arraes. Quando voltou do exílio, ele morou seis meses na casa de minha mãe e do meu pai Maximiano e depois foi morar na Rua do Santana, em Casa forte, onde residiu um tempo e depois foi morar na Rua do Chacon”, contou. 

Para o neto de Arraes, uma das grandes características de Arraes era sua humildade, apesar da força de seu nome. “Meu avô nunca contou uma vantagem na vida e se comunicava com o olhar. Essa era uma característica muito interessante de Arraes. Um homem de uma grande sensibilidade humana e marcado pelo sentimento de justiça, que deixou um legado político para o Brasil”. 

“Era uma pessoa de muita leitura e que teve uma experiência de vida muito grande. Conheceu da China a outros lugares do mundo. Conheceu profundamente o mundo árabe, inclusive, falava árabe, não profundamente, mas conhecia os problemas do mundo árabe por ter vivido um no Norte da África e que também pôde ajudar às lutas pela libertação de países como Moçambique, Cabo Verde e outros. Conviveu com pessoas interessantes, intelectuais, políticos, mas o meu avô era um homem muito simples”.

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O LEGADO DE ARRAES

Para Antônio, o grande legado de Arraes é a atualidade do seu pensamento e da sua ação política trabalhando os principais temas da atualidade como a educação e a questão da seca. “Ele criou o Movimento de Cultura Popular com Germano Coelho e Paulo Freire onde surgiu um método de alfabetização reconhecido pela Unesco, pelos pedagogos e educadores de todo o mundo. Foi um revolucionário, que trabalhou profundamente a democratização da água. Eu lembro dele dizendo uma vez que se elegeu três vezes governador de Pernambuco trabalhando o tema água, além de ter trabalhado a questão da reforma agrária não por uma questão ideológica, mas política importante presente em qualquer país do mundo. Arraes mostra, na sua ação política e no seu pensamento estratégico, uma grande atualidade. Ele tinha um projeto de nação como tinha um projeto para o Nordeste”.

                                                                            

 



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