Um marco para a história do Brasil: Lula se entrega à PF
Chamado de 'herói' dos trabalhadores e até de 'bandido' por outros grupos, o ex-presidente foi preso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acaba de se entregar, na noite deste sábado (7), à Polícia Federal para o cumprimento da pena de 12 anos e um mês de prisão. Manifestantes tentaram impedir que o ex-presidente se entregassem às autoridades, fato que gerou muito tumulto no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). Logo cedo, o petista esteve na missa em homenagem aos 68 anos de Marisa Letícia, falecida em fevereiro de 2017.
A prisão em São Bernardo do Campo traz para o petista a memória histórica de uma detenção em 1980, quando durante o regime militar, Lula esteve preso por 31 dias. Foi na cidade que ele foi detido por liderar uma greve dos trabalhadores do ABC Paulista em plena ditadura. Na época, Lula era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, local onde iniciou a vida política e viveu altos e baixos até chegar à Presidência da República.
Nos últimos dias, o sindicato virou asilo político do ex-presidente. Lá ele faz articulações com a defesa e recebeu apoio de políticos, como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, e os pré-candidatos a Presidência pelo PCdoB, deputada Manuela D’Ávila, e pelo PSOL, Guilherme Boulos. Além de senadores, deputados, prefeitos, lideranças nacionais do PT e de partidos de esquerda.
Militantes petistas também promoveram no local atos e homenagens. Nas redes sociais, a hashtags #OcupaSãoBernardo esteve diversas vezes entre os assuntos mais comentados. Na sexta, um grande ato reuniu milhares de apoiadores de Lula e neste sábado a multidão voltou à frente do Sindicato para expressar o carinho pelo ex-presidente.
A condenação e o cumprimento da pena
O declínio de Lula iniciava em 2016 quando foi levado coercitivamente para depor por determinação do juiz Sérgio Moro. Em setembro do mesmo ano, Moro torna o ex-presidente réu na Lava Jato. Apesar de Lula negar todas as acusações, uma derrota agrava sua situação: em julho de 2017, o magistrado condena Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva no caso do triplex do Guarujá, pena que foi aumentada durante a apreciação em segunda instância.
Até o último momento, na última quarta-feira (4), quando o Supremo Tribunal Federal (STF) negou o habeas corpus preventivo a Lula, o petista negou tudo que lhe foi atribuído. Após saber do mandado de prisão, o petista disse que esse era o “sonho de consumo” de Moro e definiu a prisão como “absurda”.
No documento em que determina o início da execução da pena de Lula, Moro deu até às 17h dessa sexta-feira (6) para que o ex-presidente se entregasse voluntariamente, entretanto, o líder-mor petista não firmou o acordo e, por meio da defesa, disse que a Polícia deveria buscá-lo em São Bernardo. O fato de ele não ter se apresentado não representou um desrespeito à decisão judicial e ele não foi considerado procurado pela PF.
Para evitar a prisão, a defesa de Lula impetrou um pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas foi negado. Também ingressou com um novo recurso no Supremo Tribunal Federal (STF), onde o relator é o ministro Edson Fachin, que ainda não deu uma decisão.
Histórico
Derrotas fizeram parte da vida pública do petista até chegar ao cargo de presidente. Na disputa presidencial de 89, ele perde no segundo turno para Fernando Collor. Ele não desistiu. Em 1994, concorre novamente à presidência e é derrotado novamente, desta vez, por Fernando Henrique Cardoso. Não dado por satisfeito, em 1998, tenta pela terceira vez o sonho de comandar o país, porém perde mais uma vez para FHC. Em 2002, finalmente, enfrenta José Serra e se torna presidente do país.
Em seu primeiro pronunciamento, após vencer a eleição, Lula fez um discurso destacando promessas. “Se no final de meu mandato cada brasileiro puder comer três vezes ao dia, terei cumprido a missão da minha vida”, ressaltou. Na ocasião, ele também disse que “o brasileiro votou sem medo de ser feliz e que a esperança venceu o medo”.
Três anos depois, mais exatamente em 2005, o escândalo do Mensalão vem à tona, o que não o impediu de ser reeleito, em 2006, vencendo o então candidato Geraldo Alckmin. Deixou o governo, depois de oito anos, com uma alta aprovação e elege a sua sucessora: Dilma Rousseff.
A condenação de Lula divide opiniões. Chamado de “herói dos trabalhadores" e até de “bandido”, uma coisa é certa: o ex-presidente entrou para a história política do Brasil seja pela idolatria por uma grande parte dos brasileiros ou por ser o quinto presidente do país a ser preso.
Com Giselly Santos