Imprensa, o 'Quarto Poder' que incomoda governos no Brasil

Ao longo da história brasileira, governos tiveram embates com a grande mídia e com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) a relação é tensa

por Pedro Bezerra Souza qui, 27/06/2019 - 13:30
Marcos Corrêa/PR Bolsonaro tem relação tensa com a grande mídia Marcos Corrêa/PR

No século 19, a imprensa começou a ser denominada por alguns autores como o Quarto Poder, ao lado do Executivo, Legislativo e Judiciário. Desta forma, já se entendia o poder que a mídia tinha diante de uma sociedade. A capacidade de formar opiniões era - e ainda é - uma das características mais fortes deste “Quarto Poder”.

A relação entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e a imprensa não é uma das mais amistosas. Mas isso também não é uma exclusividade do atual chefe de estado brasileiro. A história mostra que outros presidentes também tinham pouca afeição pelo trabalho desenvolvido pelos meios de comunicação.

“A imprensa atua como uma espécie de cão de guarda da sociedade. É um instrumento de fiscalização dos governantes, um filtro de intermediação entre população e governo. Além disso, hoje em dia ainda temos a internet com um poder gigante”, pontua o cientista político Thales Fernandes.

Cercado por dezenas de polêmicas internas e externas ao governo, o presidente Jair Bolsonaro tenta driblar desde o começo do seu mandato de perguntas mais delicadas vindas da imprensa. Algumas vezes, inclusive, já chegou a finalizar entrevistas coletivas por ter sido questionado sobre algum assunto que não queria responder.

O exemplo mais recente desse comportamento do presidente aconteceu nesta quarta-feira (26), no Japão, onde o presidente participa da cúpula do G20. Na ocasião, Bolsonaro foi perguntado sobre ao avião da FAB com 39kg de cocaína. Ao ouvir o questionamento, o presidente prontamente saiu do local.

“Quanto mais aberta é a maneira como o presidente lida com a imprensa, mais o seu caráter democrático se realça. Entretanto, nenhum presidente gosta da imprensa a não ser que a imprensa viva elogiando o seu trabalho, mas esse não é o papel da mídia. A imprensa precisa investigar e divulgar o que incomoda o governo”, explica Thales Fernandes.

Na história do Brasil, o primeiro presidente democraticamente eleito desde a Constituição de 1988, Fernando Collor, chegou a mandar a Polícia Federal invadir a redação da Folha de S. Paulo como forma de retaliação. Tempo depois, como se sabe, Collor sofreu um impeachment - processo este que teve participação ativa da imprensa.

Quando se fala em impeachment, pode-se relembrar de maneira mais fácil do processo passado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. “A grande imprensa era favorável à saída de Dilma e pode-se comprovar isso analisando as formas de manchetar as notícias. Com o poder de formação de opinião, a mídia conseguiu ter suas ideias abraçadas pela população e, no final das contas, a maioria dos brasileiros era favorável ao impeachment de Dilma”, lembra o cientista político Thales Fernandes.

Já Fernando Henrique Cardoso conseguiu manter boas relações com a grande mídia durante os seus dois mandatos à frente da Presidência da República. FHC tinha amizade próxima com os donos dos principais jornais do país e, por isso, as relações eram menos conflituosas.

Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva se torna o primeiro político de partido popular a assumir o comando do país. Nesta época, a internet começava a engatinhar e o presidente foi um dos pioneiros na atividade de lidar com notícias vindas por meio de blogs e sites. Com isso, houve embates entre Lula e jornalistas, até porque veículos de comunicação mais voltados à direita aprimoraram a forma de criticar e alfinetar o governo.

“A era de Lula foi um divisor de águas em dois sentidos: era o primeiro governo popular a tomar o poder do país e era justamente em uma época de mudança no modo de consumir informações. Lula teve alguns desafios por ser o primeiro a ter que lidar com essas questões, embora recebesse muitos blogueiros dentro do Palácio do Planalto”, explica Thales Fernandes.

Com Dilma Rousseff o país já vivia uma onda de fortes críticas ao governo do PT, principalmente no segundo mandato. É válido lembrar das manifestações de junho de 2013, que foram convocadas pelas redes sociais e, mais pra frente, do processo de impeachment de Dilma, que também teve forte influência da internet e da grande mídia.

O sucessor de Dilma, Michel Temer (MDB), foi, talvez, o precursor da era das Fake News. Notícias falsas (favoráveis e contrárias) começaram a ser divulgadas sem controle algum. A partir daí, a mídia de credibilidade passa a ter o trabalho de não apenas informar, mas também desmentir matérias falaciosas. 

“Neste momento, surge Jair Bolsonaro, que vai ganhando notoriedade na Câmara Federal e preparando o terreno para sua candidatura à Presidência da República. São inúmeros os casos de fake news divulgadas pelo atual presidente e seus apoiadores. As redes sociais foram um prato cheio para deliberar qualquer tipo de informação, sem compromisso com a veracidade. Sem querer mexer com o mérito da vitória de Bolsonaro, posso dizer que as notícias falsas facilitaram seu caminho até o Planalto”, pontua Thales Fernandes.

O atual presidente ganhou apoio popular e conseguiu reformular seu relacionamento com os brasileiros graças à atuação de seus apoiadores nas redes sociais. Porém, Jair Bolsonaro ainda enfrenta um grande entrave com a grande mídia. E essa “pedra no sapato” do presidente parece incomodar bastante o alto escalão do governo. Aparentemente eles ainda não sabem como lidar com o caso e, por isso, os embates seguem sendo fortes e polêmicos.

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