"Há interesses poderosos por trás do crime de Marielle"
O ex-ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que a não elucidação do assassinato da vereadora representará "algo muito negativo para a nossa imagem"
O pernambucano Raul Jungmann, que comandava o ministério da Segurança Pública na época do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e foi o primeiro grande responsável pela apuração do caso, afirmou acreditar que há “interesses poderosos” por trás da não elucidação do crime.
Além de mencionar a atual crise de segurança vivida no Rio de Janeiro, em conversa com o LeiaJa.com Jungmann disse que trabalhou com afinco à investigação da morte da psolista. “Eu me dediquei muito a esse caso e, desde o primeiro momento, a Procuradora Geral da República [Raquel Dodge] e nós queríamos federalizar. Nós achamos que era um crime de ampla repercussão nacional referente aos direitos humanos. Então caberia exatamente um deslocamento de competência”, argumentou.
O ministro, que também falou sobre a atual relação entre o Governo Federal e o Nordeste, alertou que o comando do Rio de Janeiro impediu a federalização do caso de Marielle. Jungmann ainda comentou que o fato de ainda não se saber quem são os executores da vereadora o incomoda até hoje em dia.
“Por duas vezes tentamos fazer isso e o Rio de Janeiro, por meio do Ministério Público, impediu isso. Mesmo assim, a Procuradora Geral da República, com o nosso total apoio, decidiu promover uma investigação da investigação que estava sendo feito. Se chegou aos executores, mas não aos mandantes e isso nos incomoda muitíssimo. Por isso, eu continuo defendendo a federalização da apuração do crime da Marielle pela Polícia Federal”, destacou.
Questionado sobre a possibilidade do caso não ser solucionado, o pernambucano disse que é “algo muito negativo para a nossa imagem. É um crime contra a democracia porque a Marielle era uma representante do povo do Rio de Janeiro. Defensora dos direitos humanos, das minorias e das comunidades. Então eu acho que isso atinge a todos nós, não só a Marielle”.
Jungmann pontuou que a não resolução do caso é um incentivo à impunidade e, por isso, voltou a cobrar que a investigação siga ativa para que os mandantes do crime sejam punidos, assim como já foram os executores.
“É um incentivo ao que não podemos admitir: a impunidade. Eu creio que existe um conjunto de interesses por trás de tudo isso. Interesses poderosos e que precisam ser desvendados e punidos para que fatos como esses não se repitam. O caso Marielle é algo que pesa a nós brasileiros e que é uma questão de honra ser elucidado e prender executores e mandantes. Acredite, no período que fui ministro da Segurança eu lutei todos os dias para que esse caso fosse esclarecido, inclusive com a grande parceira com a Procuradoria Geral da República”, lembrou.