Bolsonaro coloca soberania em risco, diz bispo católico
Dom Evaristo Spengler é um dos integrantes da comitiva brasileira que viaja ao Vaticano na próxima semana
O bispo da prelazia do Marajó (PA), dom Evaristo Spengler, rebateu nesta terça-feira, dia 1º, a tese de integrantes do governo Jair Bolsonaro segundo os quais o Sínodo da Amazônia, assembleia especial convocada pelo papa Francisco, pode ameaçar a soberania nacional. Para o bispo, a Igreja e o governo falam "em campos opostos", e as iniciativas de Bolsonaro é que deixam "em risco" a soberania do País.
Um dos integrantes da comitiva brasileira que viaja ao Vaticano na próxima semana, o bispo Spengler criticou o acordo entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos para exploração comercial da base de lançamentos espaciais de Alcântara (MA) e a procura do presidente por parceiros internacionais "do primeiro mundo" para explorar riquezas minerais em terras indígenas.
"Levanta-se uma suspeita: se o sínodo ameaça a soberania nacional. Minha pergunta: quem é que está entregando a base de Alcântara? Quem é que está chamando mineradoras norte-americanas e estrangeiras para vir explorar a Amazônia? Não é a Igreja. Então quem está colocando a soberania em risco não é a Igreja. Talvez seja esse governo que está colocando a soberania do Brasil em risco", afirmou d. Evaristo Spengler, durante audiência na Câmara dos Deputados.
"A Igreja, pelo contrário, defende os povos que vivem na Amazônia, defende os povos indígenas, e quer a relação do ser humano com o meio ambiente seja de harmonia, não de destruição. Então, estamos falando em campos opostos. E a Igreja mantém e reafirma a sua decisão de dizer que a soberania é brasileira, mas nós queremos defender o meio ambiente, porque isso foi criado por Deus e nós somos corresponsáveis por tudo que Deus criou."
O clérigo reconheceu que, apesar de não ser um fórum internacional de governantes, mas uma assembleia interna, o sínodo terá repercussões "para fora". Atualmente, a maior preocupação do governo, sobretudo de diplomatas e militares, são com as resoluções do pontífice após o sínodo. O presidente já disse que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitora a preparação do encontro, que, para ele "tem muita influência política".
O secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cleber César Buzatto, disse que o papa Francisco sugere, com o sínodo, a criação de uma alternativa à sociedade do consumo capitalista e também criticou o governo Bolsonaro.
"O papa Francisco nos propõe que construamos um novo modelo de sociedade, onde a sobriedade feliz seja a razão de existência e do futuro, uma sociedade do bem viver como alternativa à sociedade do consumo, do acúmulo sem fim, da desigualdade absoluta, sociedade esta produzida pelo sistema capitalista e seu modelo neoliberal, ao qual o governo Bolsonaro é subserviente. Por isso que o governo discursa e age com essa intencionalidade de destruir a vida e os projetos de futuro dos povos da Amazônia, a fim de atender a interesses financeiros de corporações empresariais internacionais da mineração, do agronegócio e outros setores financistas."
Martha Bispo, secretária executiva da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Nordeste 5, no Maranhão, fez críticas a um sistema "que destrói e mata a Amazônia" e defendeu que as comunidades locais sejam ouvidas pelo governo para "administrar melhor o Brasil". Ela rejeitou interferências estrangeiras na floresta.
"Não queremos uma Amazônia dos Estados Unidos, não queremos uma Amazônia europeia. Queremos uma Amazônia brasileira, território brasileiro, gestado a partir de nossas vidas", disse a leiga católica. "Nós apelamos para um jeito de governar e de fazer política dos povos indígenas, dos quilombolas, das quebradeiras de coco. Por que não vamos atrás de outro modelo?", questionou.