Bolsonaro faz vídeo sobre remédio em testes e é criticado

Segundo a Anvisa, “apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19”

sab, 21/03/2020 - 18:26
Isac Nóbrega/PR Isac Nóbrega/PR

Em meio à pandemia de coronavírus que já contaminou 904 pessoas e provocou mais de dez mortes no País, o presidente Jair Bolsonaro, aniversariante do dia, dedicou um pedaço da sua tarde à gravação de um vídeo com mensagem para dar esperanças ao tratamento da doença.

O presidente completa hoje 65 anos e passa o dia no Palácio do Planalto com Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e o deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PLS-SP).

No vídeo postado pelo presidente no Twitter e intitulado "Hospital Albert Einstein e a possível cura dos pacientes com o Covid-19", Jair Bolsonaro informou que o laboratório do Exército vai ampliar a produção de cloroquina.

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Esse medicamento tem apresentado alguns resultados positivos no tratamento de pacientes com coronavírus, de acordo com testes preliminares feitos ao redor do mundo. Esses resultados, porém, ainda não são conclusivos, dizem autoridades da área da saúde.

"Agora há pouco, me reuni com o senhor ministro da Defesa, onde decidimos que o laboratório químico e farmacêutico do Exército deve ampliar imediatamente a produção desse medicamento", afirmou o presidente Jair Bolsonaro, em vídeo publicado há instantes em sua conta no Twitter.

A cloroquina é usada por aqui no tratamento da malária e também para o tratamento de reumatismo, funcionando como um anti-inflamatório. O Hospital Albert Einstein e a operadora Prevent Senior já comunicaram ontem, 20, que conduzirão estudos clínicos para avaliar a eficácia da cloroquina no tratamento da infecção provocada pelo coronavírus.

"Agora há pouco, os profissionais do hospital Alberto Einstein (Sic) me informaram que iniciaram protoloco de pesquisa para avaliar a eficácia da cloroquina nos pacientes com Covid-19", disse Bolsonaro no vídeo.

O presidente também afirmou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), presidida pelo almirante Antônio Barra, vetou a venda de cloroquina para outros países. "Tenhamos fé que em breve ficaremos livres desse vírus", completou Bolsonaro na gravação.

Precipitação? - Na última quinta (19), no entanto, a Anvisa havia soltado uma nota em seu site esclarecendo o provável uso do medicamento citado por Bolsonaro para o combate do coronavírus. Segundo a órgão, “apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19”.

Ainda de acordo com a Anvisa, não há recomendação para a utilização da cloroquina em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus. “A automedicação pode representar um grave risco à sua saúde”, completa a nota.

O tuíte provocou algumas reações de internautas. O repórter João Paulo Charleaux, correspondente em Paris, onde a pandemia já está mais avançada, criticou a postagem. “Presidente, eu sofro de uma doença crônica cujo único remédio é a cloroquina. O uso desse medicamento nos casos de coronavírus ainda não tem eficácia comprovada. Ao especular, o sr. desata uma corrida irracional às farmácias e põe em risco a vida dos que hoje dependem deste remédio”, disse.

O deputado David Miranda (PSOL), desafeto da família Bolsonaro, foi na mesma linha. “A cloroquina ainda não é segura. Falando isso você começa um corrida desordenada na busca desse remédio, e pessoas que realmente precisam ficam sem. A vacina, no melhor dos cenários, levará 18 meses. A única saída é o isolamento, e você não disse uma única vez. Seja responsável”, disparou.

Com informações da Agência Estado

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