Refrigerante? 'Tubaína' era jargão de tortura na ditadura

Vítima de torturadores e presidente da Comissão da Verdade de São Paulo confirma que Bolsonaro se referia a um tipo de afogamento ao qual eram submetidos os presos pelo regime

qui, 21/05/2020 - 14:25
Carolina Antunes/PR Presidente não brincou com rima e nem com refrigerante Carolina Antunes/PR

Na última terça-feira (19), o presidente Jair Bolsonaro fez o que seria uma piada envolvendo a defesa do uso da cloroquina por pacientes com Covid-19. Mas a “Tubaína” que o mandatário citou em entrevista como se fosse a opção para a “esquerda” não se tratava do refrigerante famoso. É o que garante o ex-deputado Adriano Diogo, que presidiu a Comissão da Verdade em São Paulo. Segundo ele, a “Tubaína” era um apelido dado a um tipo de tortura usado por militares durante a ditadura no Brasil.

Originária da idade média, a “tortura d´água” – apelidada por torturadores em São Paulo de “Tubaína” – consiste em colocar um funil na garganta da vítima e provocar a ingestão de grande quantidade de líquido.

“Esse jargão de chamar o afogamento de tubaína era comum entre os militares. Ouvimos isso várias vezes. O torturador falava: ‘quer tomar uma tubaína filho da p...’ e introduzia o funil na boca (dos torturados) por onde colocava água e até líquidos mais complicados, como o óleo de rícino”, conta Adriano Diogo, que foi torturado durante o regime militar.

Histórico de apologia - Não é a primeira vez que Bolsonaro usa expressões que fazem apologia aos crimes cometidos durante o regime militar. Em uma transmissão ao vivo em outubro de 2019, Bolsonaro ameaçou enviar funcionários do Ministério do Meio Ambiente para a “ponta de praia”, porque estavam dificultando uma licença ambiental para a construção de uma loja Havan, do seu apoiador Luciano Hang.

Na ditadura, militares usavam o termo “ponta de praia” para se referir à base da Marinha na Restinga de Marambaia (RJ), para onde eram encaminhados opositores do regime marcados para morrer. “Era um centro de tortura de onde dificilmente se saía vivo. Muitos dos ‘desaparecidos’ da ditadura militar passaram por aquelas instalações”, disse a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista de Meio Ambiente (Ascema Nacional) na época.

Vale lembrar ainda que durante a votação do Impeachment da presidenta Dilma Roussef, o então deputado federal Jair Bolsonaro dedicou seu voto a Brilhante Ustra, conhecido torturador que tinha tido como uma das vítimas a petista.

A apologia à ditadura militar é crime no Brasil, previsto na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), na Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50) e no próprio Código Penal (artigo 287). 

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