Ramos descarta intervenção, mas manda recado para oposição
'Presidente nunca pregou o golpe', disse o ministro e acrescentou: 'agora o outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda'
O ministro chefe da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro (sem partido), general Luiz Eduardo Ramos, descartou a possibilidade de uma intervenção militar no país e criticou as acusações de que a gestão Bolsonaro seja fascista. Em entrevista a revista Veja, o general também deixou um alerta para a oposição: “não estica a corda”.
“Fui instrutor da academia por vários anos e vi várias turmas se formar lá, que me conhecem e eu os conheço até hoje. Esses ex-cadetes atualmente estão comandando unidades no Exército. Ou seja, eles têm tropas nas mãos. Para eles, é ultrajante e ofensivo dizer que as Forças Armadas, em particular o Exército, vão dar golpe, que as Forças Armadas vão quebrar o regime democrático”, declarou ao ser indagado se havia no país algum risco de golpe militar.
“O próprio presidente nunca pregou o golpe. Agora o outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda”, alertou logo em seguida. Apesar da afirmativa do ministro, Bolsonaro tem frequentado constantemente manifestações com o pedido antidemocrático e inconstitucional de intervenção.
Quando foi perguntado sobre o quê se referia exatamente com tal argumento, Ramos criticou as comparações de Bolsonaro ao líder nazista Adolf Hitler.
“O Hitler exterminou 6 milhões de judeus. Fora as outras desgraças. Comparar o presidente a Hitler é passar do ponto, e muito. Não contribui com nada para serenar os ânimos. Também não é plausível achar que um julgamento casuístico pode tirar um presidente que foi eleito com 57 milhões de votos”, argumentou.
Ramos chamou de “julgamento casuístico” o processo que a chapa de Bolsonaro enfrenta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pode levar a cassação do presidente e seu vice. O general foi perguntado sobre a possibilidade da destituição do mandato e se negou a considerar a hipótese.
“Acho que não vai acontecer, porque não é pertinente para o momento que estamos vivendo. O Rodrigo Maia já disse que não tem nenhuma ideia de pôr para votar os pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Se o Congresso, que historicamente já fez dois impeachments, da Dilma e do Collor, não cogita essa possibilidade, é o TSE que vai julgar a chapa irregular? Não é uma hipótese plausível”, observou.
Sem preocupação
O general Ramos também avaliou as manifestações contra o governo do presidente Jair Bolsonaro e disse que não se preocupa com tais atos. “A rua não tem dono. Também há manifestações em favor do Bolsonaro. Só há uma coisa que me incomoda e me desperta atenção. Um movimento democrático usando roupa preta. Isso me lembra muito autoritarismo e black blocs”, comparou.
“Quando falo em democracia, a primeira coisa que me vem à mente é usar as cores da minha bandeira, verde e amarelo. No domingo, fiquei disfarçado no gramado em frente ao Congresso observando o pessoal. Eles não usavam vermelho para não pegar mal. Mas me pareceu que eram petistas”, emendou.
O ministro também disse que não se sentiu bem ao receber críticas por ter ido ao protesto que atacava as instituições com Bolsonaro.
“Eu estava quietinho lá atrás, também apenas observando. Aí o presidente perguntou: “Cadê o Ramos?”. Fui muito criticado no dia seguinte, inclusive pelos meus companheiros de farda. Não me sinto bem. Não tenho direito de estar aqui como ministro e haver qualquer leitura equivocada de que estou aqui como Exército ou como general. Por isso, já conversei com o ministro da Defesa e com o comandante do Exército. Devo pedir para ir para a reserva. Estou tomando essa decisão porque acredito que o governo deu certo e vai dar certo. O meu coração e o sentimento querem que eu esteja aqui com o presidente”, disse.