Sem provas, Bolsonaro volta a questionar urna eletrônica
Presidente prometeu apresentar provas de fraudes nas eleições de 2014 e 2018, mas não apresentou
Em live prometida há semanas, e realizada nesta quinta-feira (29), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) apareceu ao lado de um suposto analista de inteligência chamado Eduardo, para apresentar provas de que houve fraudes nas eleições presidenciais de 2014 e 2018, apesar de ambas já terem sido negadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por mais de dez vezes. "Quero eleição no ano que vem, mas uma eleição limpa. Nossas urnas precisam de melhorias", afirmou Bolsonaro.
Apesar da apresentação de provas ter sido a principal chamada para o encontro ao vivo, se aproximando de uma hora de live, o chefe do Executivo admitiu "não possuir provas", mas "indícios fortes em aprofundamento de que houve fraude no sistema eleitoral". Bolsonaro também mostrou relatos de pessoas que tentaram votar em seu número na eleição presidencial de 2018 e foram impedidos pela urna, ao passo que pessoas que tentaram votar no então candidato do PT, Fernando Haddad, não enfrentaram problemas. "Ninguém falou que tentou votar no 13 e não conseguiu. Foi só no 17. Se fosse um erro, apareceria dos dois lados", continuou o presidente.
O TSE esclareceu que, neste caso, as pessoas estavam tentando votar em um candidato a governador e não a presidente - o que inviabiliza o número "17" na urna.
Em outro momento, o presidente disse que só três países no mundo usam a urna eletrônica, entre eles o Butão. Sobre isso, o TSE esclarece que 23 países usam urnas com tecnologia eletrônica em suas eleições gerais. Outras 18 nações usam a urna em pleitos regionais. "Entre os países estão o Canadá, a Índia e a França, além dos Estados Unidos, que têm urnas eletrônicas em alguns estados", diz um trecho da checagem do TSE.
Em vários momentos da live, Bolsonaro disse que a apuração dos votos será feita "pelos mesmos que tornaram o ex-presidente Lula (PT) elegível e que o tiraram da cadeia", associando conduta criminosa e com favoritismos por parte da Justiça, no caso da judicialização dos votos. No entanto, a apuração dos votos é feita de forma pública, como explica o TSE.
Ainda alfinetando Luis Roberto Barroso, presidente do TSE, Bolsonaro relembrou a prisão de um hacker de 24 anos em março deste ano. O homem foi preso em Uberlândia, Minas Gerais, durante a Operação Deepwater, suspeito do maior vazamento de dados do Brasil. O caso envolveu os sistemas do Senado, Exército e TSE. "Ele não diz que os computadores dele são invioláveis?", perguntou Bolsonaro, reafirmando fragilidade do sistema eleitoral.
No entanto, o presidente confundiu a base interna de dados, em computadores físicos comuns, com a urna eletrônica, que é um computador independente, com software personalizado, auditável, e que não possui conexão à internet (nem Wi-Fi, nem ethernet), e nem conexão bluetooth.
Código fonte das urnas é auditável
Ainda durante a live, o suposto analista, Eduardo, mostrou um vídeo explicativo, com origem no YouTube, por parte de um também suposto desenvolvedor de sistemas chamado Jenderson, que mostra "como é possível fraudar o código fonte de uma urna eletrônica". No entanto, além de ignorar que o código fonte das urnas é aberto seis meses antes das eleições e pode ser invadido para testagem de segurança com antecedência, o homem também afirma fraudes em 2018, informação já desmentida pela Justiça Eleitoral.
Outro erro de Jenderson é não mostrar o código fonte com o qual trabalha, exibindo na tela apenas uma animação para provar o próprio argumento, sem mostrar como conseguiu estabelecer uma simulação comparativa entre seu sistema e o utilizado pelo TSE.