Para Michel Temer, impeachment de Bolsonaro é inadequado
Apesar da posição, o antecessor da Presidência prevê que o relatório da CPI da Covid deve apontar que Bolsonaro agiu com descaso no enfrentamento à pandemia
Pacificador da crise entre o Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) após declarações inconstitucionais do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos atos de 7 de setembro, o ex-presidente Michel Temer (MDB) entende que o processo de impeachment é inadequado. Contudo, em entrevista ao Roda Vida nessa segunda-feira (27), concluiu que o relatório final da CPI da Covid pode indicar que o gestor teve "incúria" no enfrentamento à pandemia.
Embora considere que o resultado da Comissão no Senado deva apontar que Bolsonaro agiu com descaso no controle e na proteção dos brasileiros contra a Covid-19, Temer destacou que o impedimento do presidente depende de uma maior mobilização popular. Ainda assim, o material apresentado pela CPI deve dar margem para que o Ministério Público Federal peça seu afastamento.
"Se você me perguntasse um ano atrás, eu diria que talvez fosse o caso de começar um impedimento. Nesse momento, eu não acho adequado", comentou.
Alçado à Presidência após o impeachment da companheira de chapa, a ex-presidente Dilma Roussef (PT), o emedebista classificou o processo legislativo como "traumático" e, realizá-lo no ano das eleições pode ser ainda pior. "Não há condições para avaliar sobre o foco jurídico, porque o foco é sempre político", analisou.
"Não tocante à senhora ex-presidente, houve como tais pedaladas, e convenhamos, havia muito povo na rua. E se me permite, quem decreta impeachment não é o Congresso Nacional, é o povo na rua. Eu sofri duas tentativas de impedimento. Por que não deu certo? Porque não havia povo na rua", complementou.
Ainda que contrário à abertura do processo, Temer disse que "não seria inútil" apontar um prazo para que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), analise o impeachment e ponha em debate. Ele mesmo lembrou dos tempos como gestor da Casa e arquivou diversos de pedidos contra o então chefe do Executivo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).