Campeões de voto reforçam bancada evangélica no Congresso
Levantamento feito com base no resultado das eleições deste ano mostra que, dos 203 integrantes da Frente Parlamentar Evangélica na Câmara dos Deputados, 177 foram candidatos a novo mandato
A bancada evangélica será reforçada por campeões de voto e pelo aumento do poder das grandes igrejas do segmento no Congresso, ganhando evidência na defesa da pauta de costumes, a partir de 2023. Levantamento feito com base no resultado das eleições deste ano mostra que, dos 203 integrantes da Frente Parlamentar Evangélica na Câmara dos Deputados, 177 foram candidatos a novo mandato. Deste total, 109 tiveram sucesso, uma taxa superior a 60%.
Além da reeleição de deputados que já ocupam uma vaga na Casa, a bancada será reforçada por novatos e campeões de voto nos Estados. Apoiador do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), Nikolas Ferreira (PL-MG), integrante da Comunidade Evangélica Graça e Paz, foi o deputado mais votado do Brasil, com 1,492 milhão de votos. Na outra ponta, o deputado André Janones (Avante-MG), da Igreja Batista da Lagoinha e aliado do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, foi reeleito com votação expressiva (238.967 votos). Janones conquistou o segundo lugar em Minas Gerais.
No Paraná, o ex-procurador Deltan Dallagnol, que comandou a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba - foi o mais votado e deve engrossar a bancada da Bíblia em Brasília. Dallagnol pertence à Igreja Batista do Bacacheri, na capital paranaense, e costuma fazer palestras e pregações nos púlpitos evangélicos. Ele se juntará a Filipe Barros (PL), da Igreja Presbiteriana Central de Londrina, reeleito no Paraná.
Pauta
Em Pernambuco, o candidato campeão de votos foi André Ferreira (PL), oriundo da Assembleia de Deus e filho do pastor e deputado estadual Manoel Ferreira. No Ceará, o deputado mais votado, André Fernandes (PL), também é da Assembleia de Deus e promete reforçar a pauta conservadora de costumes defendida por evangélicos no Congresso.
A bancada da Bíblia ainda não fez um levantamento final sobre o número de evangélicos eleitos no dia 2, mas calcula que vai aumentar com os novos parlamentares, a maioria deles aliada de Bolsonaro. "Vai ter um grupo mais coeso agora porque os novos deputados eleitos são evangélicos e é gente bem mais aguerrida. Isso vai ficar muito bom para a bancada", disse o deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP), um dos principais articuladores do grupo e reeleito para o quarto mandato na Câmara.
Crescimento
Pastores de grandes igrejas mantiveram e até ampliaram seu poder na Câmara. Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo no Rio, conseguiu reeleger o deputado Sóstenes Cavalcante (PL), presidente da Frente Parlamentar Evangélica. Em São Paulo, o deputado Paulo Freire Costa (PL) ganhou mais um mandato. Ele é pastor da Assembleia de Deus do Belém em Campinas e filho de José Wellington Bezerra da Costa, o patriarca da igreja, a maior do segmento no País.
Influência
O deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), também líder da bancada evangélica, conseguiu novo mandato e ainda ajudou a eleger sua mulher, Antônia Lucia (Republicanos), pelo Acre. O deputado é irmão do pastor Samuel Câmara, presidente da Assembleia de Deus em Belém, onde nasceu a denominação. A família é dona de uma rede de TV e domina a segunda maior convenção da igreja no País.
Outro assembleiano reeleito foi o deputado Cezinha Madureira (PSD-SP), porta-voz do bispo Samuel Ferreira e expoente da Assembleia de Deus de Madureira no Congresso. "Nós somos pobres, nós não temos dinheiro. Deus deu a vitória", disse Ferreira, líder da igreja que tem templos espalhados pelo País e no exterior.
Neste ano, as igrejas evangélicas adotaram estratégia diferente e, em vez de dividir votos entre candidatos, ungiram nomes competitivos em cada Estado. Em Alagoas, por exemplo, a Madureira abriu mão de lançar um integrante da denominação para apoiar a reeleição do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas), o mais votado no Estado.
Assembleia de Deus deve manter domínio
Com o resultado das urnas, a tendência é de que a Assembleia de Deus continue com a maior parte da bancada evangélica no Congresso. A instituição é dividida em diferentes alas, mas se une em temas de interesse comum no Congresso, como isenção de impostos a igrejas e pautas de costume.
O missionário R.R. Soares, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus, já tem um filho deputado federal e agora terá dois: David Soares (União), reeleito em São Paulo, e Marcos Soares (União-Brasil), estreante na Câmara pelo Rio. Na Universal do Reino de Deus, o bispo Edir Macedo emplacou os deputados Marcos Pereira e Celso Russomanno, os dois do Republicanos de São Paulo.
Esquerda
Os evangélicos de esquerda continuam sendo minoria no Congresso, mas ganharam nomes com votações expressivas nesta eleição. Marina Silva (Rede), da Assembleia de Deus, foi eleita para a Câmara por São Paulo. No Rio, o grupo elegeu Henrique Vieira (PSOL), pastor da Igreja Batista do Caminho, além de Benedita da Silva (PT), da Assembleia de Deus, e Chico Alencar (PSOL), da Igreja Anglicana, que retornará ao Congresso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.