Clã Bolsonaro é responsável por 40% dos ataques à imprensa
Em 2022 houve uma alta de 23% desse tipo de ataque, em relação a 2021, segundo a Abraji
O número de ataques a jornalistas e a veículos de comunicação cresceu pelo quarto ano consecutivo e registrou alta de 23% em 2022, segundo relatório divulgado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) nesta quarta-feira, 29. As ocorrências de destruição de equipamentos e agressão física contra profissionais da imprensa mais do que dobraram em relação a 2021. A maior parte dos registros se refere a xingamentos e desqualificação do trabalho dos repórteres. Quatro em cada dez casos envolveram de alguma forma os membros da família Bolsonaro.
Segundo o relatório, os principais agressores em 2022 foram agentes estatais, como membros do governo ou do Legislativo. A família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece em 41,6% dos casos. Segundo a presidente da Abraji, Kátia Brembatti, isso ocorre porque os ataques proferidos por um dos integrantes do clã Bolsonaro reverberam entre seus aliados e seguidores nas redes sociais.
O documento registra 557 episódios de ataques à imprensa em 2022. O pico ocorreu entre agosto e outubro, no período da campanha eleitoral. Os principais alvos de ataques foram repórteres e comentaristas, com 276 casos (49,4%); veículos específicos, com 118 registros (21%) e a "imprensa" no geral, com 179 (32%). Do total de ocorrências, 91 partiram do ex-presidente.
Segundo Brembatti, ataques vindos de políticos buscam desqualificar o trabalho da imprensa para que a sociedade passe a enxergar o jornalismo como inimigo e, assim, pare de acreditar em reportagens com denúncias ao poder público. "A partir daí, as pessoas ditas 'comuns', que não têm um cargo público, também se julgam na condição de atacar, muitas vezes fisicamente, um jornalista que está trabalhando. Acreditamos que os números vão diminuir com um processo longo de reconstrução da imagem da imprensa e de entendimento que a imprensa tem um papel positivo", afirma.
O relatório identificou os casos por meio de relatos nas redes sociais, denúncias recebidas pela Abraji e notícias publicadas na própria imprensa.
Veja os números levantados pelo relatório:
2019: 130 casos
2020: 367 casos
2021: 453 casos
2022: 557 casos
Os principais tipos de agressão levantados pela Abraji em 2022 foram envolveram discursos estigmatizantes (xingamentos e tentativas de desqualificar o trabalho); agressões e ataques (agressão física, destruição de equipamentos, ameaças e hostilizações); restrições na internet (hackeamentos, por exemplo); processos civis e penais; restrições no acesso à informação; violência sexual; uso abusivo do poder estatal e assassinatos.