No contexto dos protestos antidemocráticos organizados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nestas eleições, diversos profissionais de imprensa — entre repórteres, cinegrafistas e fotógrafos — têm denunciado hostilização e ataques que buscam impedir a cobertura da imprensa. Em diferentes pontos do país, manifestantes estão bloqueando rodovias desde a última segunda-feira (31) por não aceitarem o resultado das urnas.
Em Divinópolis, município da região Centro-Oeste de Minas Gerais, uma equipe de reportagem da TV Candidés foi agredida e hostilizada enquanto cobria o movimento em um trecho da rodovia MG-050. Cinegrafista e repórter foram expulsos do local com empurrões e em meio a ataques como os que diziam que a dupla deveria ir para Cuba, Venezuela e Nicarágua.
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No município de Limeira, localizado a 154 quilômetros da capital paulista, um fotógrafo freelancer e um repórter da Rádio Educadora de Limeira também foram expulsos à base de empurrões e xingamentos durante a cobertura dos bloqueios na cidade. Houve ainda tentativas de destruição de equipamentos, segundo relato do fotógrafo à Abraji.
Na região Sul do país, profissionais do Paraná também foram alvo de hostilização por parte dos manifestantes, que tentaram impedir o trabalho de duas equipes de reportagem da TVCI na cidade de Paranaguá, no litoral do estado.
Os três casos ocorreram na terça-feira (1).
Já nesta quarta-feira (2), quatro equipes de reportagem da Band relataram que foram atacadas em diferentes localidades – São Paulo, Recife e Porto Alegre. Ainda na terça-feira (1) um episódio de ataque contra outra equipe da Band também teria acontecido em Cascavel, no Paraná.
Dos cinco casos, dois aconteceram no Recife com a equipe da TV Tribuna, afiliada da emissora em Pernambuco. Além da hostilização contra os profissionais, os manifestantes tentaram impedir que eles realizassem as entradas ao vivo. Puxar o microfone do repórter e tapar a lente da câmera foram algumas das estratégias utilizadas.
A Abraji está recebendo diversos relatos e apurando as circunstâncias. Há vídeos de uma agressão física violenta em Araxá (MG). Em Porto Alegre, há informações de que equipes do SBT e da Record foram hostilizadas. Um profissional da Jovem Pan, que trajava uma camiseta vermelha que é o uniforme da emissora, teria sido expulso de uma manifestação. Também há relatos de ataques em Marechal Cândido Rondon (PR) e em Corbélia (PR).
Com a permanência das mobilizações e bloqueios das rodovias, a Abraji segue apurando e recebendo novos relatos de episódios de violação à liberdade de imprensa.
Ameaça pelo Twitter
O departamento jurídico da Rede Amazônica fez um boletim de ocorrência na Polícia Civil para que seja investigada a postagem no Twitter, com ameaça aos seus profissionais, e também em busca de identificar o autor do perfil. A emissora ainda irá tomar providências legais contra o autor da ameaça, além de denunciar ao Twitter o teor da postagem.
A mensagem incita à agressão física aos profissionais da emissora e também da CNN que estiverem na cobertura das manifestações antidemocráticas. Segundo a postagem, o objetivo é “quebrar” jornalistas: “Nada de morte ou algo que manche nosso ato, por favor. Apenas aleije(sic) invalide, no máximo.”
A denúncia sobre as ameaças chegou ao conhecimento do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas e da Federação Nacional dos Jornalistas. As entidades denunciaram o perfil e as postagens à plataforma, para que suspendesse a conta por incentivo à violência contra profissionais do jornalismo.
O sindicato encaminhará também o material para a polícia e para o Ministério Público do Amazonas. Para a presidente da Fenaj, Samira de Castro, é necessário investigar quem incentiva ataques aos jornalistas, sobretudo no contexto da cobertura das manifestações antidemocráticas.
“Temos observado, ao longo dos últimos quatro anos, um crescimento exorbitante desse tipo de violação à liberdade de imprensa. Esses ataques, que já extrapolam o ambiente online, são incentivados por quem deveria resguardar o direito que a sociedade tem de ser informada: o presidente da República e candidato derrotado à reeleição, Jair Bolsonaro (PL)”, afirmou a presidente da Fenaj.
O diretor de jornalismo da Rede Amazônica, Paulo Fernandes, informou que orientou seus profissionais a tomar cuidados durante o trabalho externo.
“Eles já adotam um protocolo de segurança. No entanto, é muito preocupante quando algumas pessoas veem os jornalistas como inimigos e não como pessoas essenciais para a democracia”, afirmou.
A ameaça acontece no Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes Contra Jornalistas. Para a presidente da Fenaj, “é necessário reforçar o direito ao exercício profissional livre e seguro de jornalistas e demais trabalhadores da mídia. Para isso, as autoridades brasileiras precisam agir. Ao mesmo tempo, as plataformas também precisam atuar para coibir a disseminação de discursos de ódio e violência contra quem quer que seja”, disse Samira de Castro.
Posicionamento
"É inaceitável o que está acontecendo. Profissionais que estão trabalhando, exercendo o dever de informar à população, estão sendo agredidos. Quando o jornalismo é cerceado toda a sociedade perde", comenta a presidente da Abraji, Katia Brembatti.
A Abraji condena as ações que buscam impedir a imprensa de exercer o seu trabalho de informar a população. Os episódios são um reflexo da escalada de violência contra jornalistas que tem sido estimulada pelo presidente desde o início de seu governo e configuram desrespeito aos direitos fundamentais de liberdade de expressão e de imprensa, garantidos pela Constituição Federal.
A Abraji exige que as autoridades públicas e agentes de segurança tomem ações urgentes para garantir condições seguras para o exercício do jornalismo, especialmente no contexto de tais manifestações e bloqueios antidemocráticos, identificando, investigando e tomando as medidas cabíveis contra os responsáveis. E pede aos manifestantes que respeitem o trabalho da imprensa no local. A hostilização a jornalistas gera graves consequências para a população em geral ao restringir direito de acesso à informação de interesse público.
Da Abraji