Michelle Bolsonaro diz que sofre assassinato de reputação
Ela se apresentou como uma força política aos seus correligionários
Em um evento do PL Mulher fechado de última hora para jornalistas, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) se apresentou, neste sábado, 2, como uma força política aos seus correligionários e disse que ela e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são alvos de difamação e de uma tentativa de "assassinato de reputação". Ambos são investigados pela Polícia Federal (PF) por supostamente estarem envolvidos em um esquema de venda de joias ilegais recebidas pela Presidência da República.
O evento foi organizado para empossar representantes do PL no Distrito Federal, mas teve a maior parte da sua programação voltada para discursos da ex-primeira-dama. Jornalistas que tinham credenciamento prévio foram colocados para fora, sob a alegação de que o Hípica Hall, espaço onde foi feito o encontro partidário na capital federal, não tinha um espaço para a acomodação da imprensa.
Além da ex-primeira-dama, o encontro contou com a participação das deputadas federais Bia Kicis (PL-DF), Amália Barros (PL-MT) e da governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP-DF). Bolsonaro apareceu no fim do evento, onde fez um rápido discurso para os seus apoiadores.
Ao discursar, Michelle se apresentou como uma mulher "simples" e que tem uma longa trajetória "semeando o bem" para pessoas com deficiência, através de serviços comunitários feitos antes e depois de ocupar o cargo de primeira-dama.
Michelle chama governo Lula de 'desgoverno' e diz que Bolsonaro 'descobriu o Brasil'
Ressaltando a posição oposicionista do PL, a ex-primeira-dama também fez críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em que classificou como "desgoverno" e um "campo minado", citando um provérbio bíblico para comparar a gestão do petista com a do marido: "Quando o justo governa, o povo se alegra, mas o ímpio governa, o povo não chora não, o povo geme".
"Aquele presidente que não perdeu as eleições, aquele que elegeu a maior bancada conservadora do Congresso, aquele presidente que colocou o nome do Deus acima de tudo, aquele presidente que resgatou o amor, o patriotismo e plantou uma semente que deixou um legado patriótico. E isso ninguém vai apagar", afirmou a ex-primeira-dama ao falar sobre o marido.
Ao falar sobre políticas para pessoas com deficiência (PCDs), Michelle disse que o Brasil foi descoberto em janeiro de 2019, quando o marido assumiu a Presidência. Bolsonaro chegou no evento pelo fim, interrompendo o discurso de uma correligionária e recebendo um "puxão de orelha" da ex-primeira-dama por ter chegado " um pouco antes da hora". Em um rápido pronunciamento, Bolsonaro não fez as costumeiras críticas ácidas a Lula, e afirmou que as eleições do ano passado devem ser consideradas como uma "página virada".
"À vocês, eu só tenho o que agradecer o apoio ao longo dos quatro anos. Dei tudo de mim nestes quatro anos. Consideremos o ano passado uma página virada e vamos em frente, porque o nosso Brasil mais que pressa, ele tem a necessidade de mudar", disse o ex-presidente.
Estão querendo apagar o nosso legado, diz Michelle
Sem citar o caso das joias, onde é investigada junto ao marido por conta da descoberta de que aliados do ex-presidente teriam vendido joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais, Michelle afirmou que está sendo alvo de difamação e de uma tentativa de assassinato de reputação, e pontuou que o apoio das correligionárias do PL se mostra importante para enfrentar a situação.
"Não liguem para as narrativas que estão construindo para nos difamar, para assassinar a nossa reputação. Estão querendo apagar o nosso legado", disse.
O evento em Brasília ocorre dois dias depois do casal presidencial optar pelo silêncio em um depoimento simultâneo da PF que, além de Bolsonaro e Michelle, intimou outras seis pessoas. Em uma nota publicada nas redes sociais, a ex-primeira-dama justificou que preferiu ficar em silêncio durante a oitiva porque o Supremo Tribunal Federal (STF), que acompanha as investigações policiais e autoriza operações, quebras de sigilo e buscas, não seria competente para o caso.
Conversas entre investigados aponta que uma joia 'sumiu com Dona Michelle'
Deflagrada em 11 de agosto, a Operação Lucas 12:2 da PF revelou que aliados do ex-presidente teriam vendido joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República. Segundo a PF, essas peças, que deveriam ser incorporados ao acervo da União, foram omitidas dos órgãos públicos, incorporadas ao estoque pessoal de Bolsonaro e negociadas no exterior para fins de enriquecimento ilícito.
As tentativas de vender as joias só foram paralisadas após o Estadão revelar, em março, que auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no Brasil com um kit composto por colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes entregues pelo governo da Arábia Saudita, que seriam posteriormente entregues para Bolsonaro e Michelle.
Em uma troca de mensagens entre Mauro Cid e Marcelo Câmara, dois auxiliares de Bolsonaro que também foram intimados a prestar o depoimento simultâneo, é discutida a legalidade da venda das joias e Marcelo cita que um item teria "desaparecido" com a ex-primeira-dama. "O que já foi, já foi. Mas se esse aqui tiver ainda a gente certinho pra não dar problema. Porque já sumiu um que foi com a dona Michelle; então pra não ter problema", disse.
Para a PF, a troca de mensagens pode indicar que outros objetos podem ter sido desviados pelo grupo. "As mensagens revelam que, apesar das restrições, possivelmente, outros presentes recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro podem ter sido desviados e vendidos sem respeitar as restrições legais, ressaltando inclusive que sumiu um que foi com a dona Michelle", afirmou a PF.
Longe da imprensa e da PF, Michelle ironizou a situação que ameaça afetar o capital eleitoral e a situação jurídica de Bolsonaro. Antes de ir ao depoimento simultâneo, ela postou um vídeo treinando MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas) com a legenda: "Das porradas da vida, essas são as melhores".
No último sábado, 26, em um outro evento do PL Mulher, dessa vez em Pernambuco, ela disse que ia criar uma linha de produtos chamada "Mijoias", por ser questionada sobre o destino dos objetos.