O peso político do Carnaval de Olinda e Recife nas urnas
Entenda como o planejamento e realização de grandes eventos, como o carnaval, podem impactar na aceitação (ou rejeição) das gestões municipais pela população
Recife e Olinda, além de cidades-irmãs, são polos centrais de grandes comemorações na Região Metropolitana (RMR), como o carnaval, e reúnem juntas mais de 6 milhões de foliões, cerca de três vezes mais do que o número de habitantes de toda a RMR. O planejamento massivo, além dos investimentos feitos pelo poder público nas cidades, durante o reinado de Momo, pode servir como um termômetro para compreender a aceitação da população em relação à gestão atual.
As datas comemorativas têm um peso relativo para medir os níveis de aprovação e rejeição, mas certamente não são os únicos fatores que definem o que pode ser esperado para o período eleitoral. Em outubro deste ano, eleitores de todo o país vão às urnas para escolher os prefeitos e vereadores de cada um dos mais de 5 mil municípios do território nacional.
Segundo a cientista política, Priscila Lapa, os critérios de avaliação da população não se baseiam unicamente nas festas organizadas pelas cidades, tendo em vista que a política concentra uma série de fatores, mas pode ser determinante em algumas situações. “As pessoas não querem saber muito disso quando elas estão focadas numa comemoração, numa celebração. Agora, sem sombra de dúvida, quando as pessoas se sentem recompensadas, felizes, elas se sentem à vontade e elas recompensam em avaliação positiva”, ponderou a especialista.
“Talvez não o suficiente para impactar, decidir um processo eleitoral, porque um processo eleitoral é formado por um conjunto de variáveis mais amplas, que também envolve a racionalidade, digamos assim, do eleitor, mas de uma maneira geral cria uma maré positiva que pode ajudar a criar um sentimento positivo na população em relação ao governante direto. A população tende a identificar como responsável por essa realização, da mesma forma o aceite negativo, quando algo é malsucedido, quando você tem um sentimento de frustração em relação a esse momento”, continuou.
Para João Campos, vantagem; para Lupércio, desafio
Diante dos cenários criados, algumas previsões são levantadas por Lapa. A prefeitura do Recife, que espera circular cerca de R$ 2,4 bilhões na economia local, aproveitou a onda da popularidade do prefeito João Campos (PSB) nas redes sociais para ter uma maior aceitação do público em relação às atrações e festas programadas. “No caso do prefeito João Campos, uma visão majoritariamente positiva de aprovação à sua gestão já está difundida na sociedade da cidade do Recife e uma boa festa de Carnaval acaba corroborando um sentimento que já estava presente”, pontuo.
Por outro lado, as mesmas oportunidades são vistas com outros olhos quando se trata do carnaval de Olinda, tendo em vista a percepção do público diante da gestão do prefeito Professor Lupércio (PSD). Mesmo com investimento total de R$ 8 milhões, e uma alta expectativa de público, o chefe do Executivo municipal não é visto com bons olhos pelos olindenses. “Da mesma forma que apenas uma festividade carnavalesca pode não ser suficiente para criar o mesmo efeito positivo, no caso do gestor de Olinda, que encontra algumas dificuldades em fazer entregas em seu mandato. Ele não performa tão bem quanto, neste momento, o prefeito de Recife performa”, observou Lapa.
Papel do estado
Já em relação ao governo estadual, que fornece estruturas mais amplas, mas igualmente cruciais, como segurança pública, a cientista política afirma que a situação se torna mais desafiadora, justamente porque a população pode não identificar, não responsabilizar diretamente a gestão pelo sucesso ou insucesso de uma festa de Carnaval. “Então é possível que a Governadora não seja de forma direta, tão afetada a sua imagem em decorrência das festividades de Carnaval”, avaliou Lapa em relação ao trabalho da governadora Raquel Lyra (PSDB).
No entanto, a gestão Lyra ainda pode ser avaliada na organização do carnaval no estado, tendo em vista o poder que ela representa para os municípios. De maneira prática, o estado de Pernambuco enfrenta uma situação de segurança pública com as manifestações da Polícia Civil, que instituiu operação padrão como forma de reivindicar melhores condições de trabalho e reajuste salarial.
“Por exemplo, você pode criar uma narrativa dos aliados de que não receberam a atenção suficiente, não receberam os recursos suficientes pra fazer uma boa festividade e isso pode afetar essa relação a partir de uma narrativa que pode ser construída de que a governadora não cuidou devidamente”, concluiu.