Gogo dancers: sensualidade, exibição e preconceitos

O Portal LeiaJá entrevistou um profissional especializado em tirar a roupa em apresentações de dança. Entenda os desafios da profissão

por Camilla de Assis sex, 07/08/2015 - 16:01

Adorada por uns, vista com maus olhos por outros, a profissão de gogo dancer, às vezes conhecida como gogoboy, ainda gera muita dúvida no imaginário da população. Muitos questionam se o trabalho está necessariamente relacionado a atividades sexuais. Outras pessoas acham que é apenas mais uma forma de emprego em tempos de mercado de trabalho acirrado. Mas, o que ninguém pode negar é que ser dançarino em boates e fazer as performances de tirar a roupa nos palcos causa, no mínimo, curiosidade. 

Mesmo sendo visto com muitos olhares negativos, o trabalho de gogo dancer vem ganhando a preferência de jovens que desejam ganhar dinheiro e dançar ao mesmo tempo. O dançarino Fellipe Pedrosa, de 24 anos, é gogo dancer há três anos e meio. O jovem entrou na profissão após participar do concurso “Coelho Boy”, da boate Club Metrópole, e conseguir o segundo lugar na disputa. “Uma amiga me disse que eu tinha perfil para entrar nesse concurso, então eu resolvi arriscar e alcancei a segunda colocação. Eu chamei a atenção de promoters e da ‘galera’ e continuei dançando e conseguindo meu prestígio”, conta Fellipe.

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Muito mais do que apenas dançar, Fellipe explica que o trabalho do gogo dancer está associado à sensualidade masculina e à liberdade. “Dançando, eu mostro o lado sensual do corpo masculino, ainda pouco explorado. Eu tento também combater a discriminação que existe com quem é gogo dancer. Eu, que danço em boates LGBT, vejo que as pessoas que frequentam o local são estudiosas, bem-sucedidas e, sobretudo, humanas”, relata. 

Embora ele tente combater todas as críticas, Fellipe confessa que a repressão que sofre é constante. “Eu sofro homofobia mesmo sem ser homossexual e isso é muito comum nesse meio. Às vezes também sou taxado como garoto de programa. Eu sofro, sofri e sempre sofrerei preconceitos enquanto pessoas mal informadas e ignorantes ainda existirem”, comenta.

 

Em relação ao glamour da profissão, Fellipe se considera sortudo no ramo. “Eu tive muita sorte porque nem todos conseguem sucesso. O meu profissionalismo, com uma dose de sorte, conseguiu fazer com que eu viaje, tenha veículo próprio e consiga me manter”, conta. O dançarino mora no bairro de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife, e afirma viajar para vários estados brasileiros para dançar. “Eu vim de origem humilde, sou do subúrbio e conheci lugares como São Paulo, tudo por conta da dança. De outra forma, nunca imaginaria chegar onde cheguei”, diz o dançarino. Ele conta também que as apresentações duram, em média, de 15 a 20 minutos e que o salário depende de quantas apresentações são realizadas. A remuneração de praxe chega a um salário mínimo por mês. “Esse mês eu vou ganhar R$ 2 mil reais, o que é um dinheiro muito bom. Se eu trabalhei muito, foi uma hora nesse mês”, relata. 

O jovem ainda revela que o assédio é muito grande. “As mulheres, geralmente, ficam enlouquecidas, querem arrancar minha roupa. Muitas pessoas perguntam para mim se faço ‘algo a mais’, mas sempre separo o pessoal e sou extremamente profissional”, explica. Fellipe, além de dançar em boates, também faz suas apresentações em ‘clubes das mulheres’, despedidas de solteiros e casas de swing. 

Apesar do sucesso na profissão, Fellipe pretende se ‘aposentar’ da vida de gogo dancer mais ou menos aos 27 anos. “Tudo o que tem a ver com beleza é temporário. Eu não vou ficar até os 65 anos no palco, não é? (risos). Então, por isso, estou seguindo outra área que amo, que é a de segurança do trabalho. Já estou, inclusive, estagiando em uma construtora”, explica.

 

Fora da vida agitada e assediada de gogo dancer, Fellipe Pedrosa torna-se Thailson Fellipe Lourenço Pedrosa da Silva, estudante e noivo. Apesar da vida cercada de pessoas que o desejam, o relacionamento dele dura há cerca de um ano e meio com a empresária Driele Oliveira. Os dois se conheceram em uma balada e ele, a princípio, não quis misturar as coisas. “Ela veio falar comigo, mas eu não quis. Eu só percebi que ela estava investindo quando ela veio falar comigo no Facebook, no outro dia. Eu fiquei pensando: ‘o que essa mulher quer comigo?’ (risos)”. Já Driele comenta que o ciúme que sente do noivo é saudável. “Sinto ciúmes, lógico, mas nossa relação é baseada no respeito e confiança. E eu vejo que quando ele está no palco ele é outra pessoa, um personagem.”, comenta.

O mercado 

O promoter Fellipe Bambam é conhecido no meio do agenciamento de gogo dancers. Ele conta que para entrar no ramo, o interessado tem que ter o perfil e saber dançar. “Isso é o básico, mas também depende muito da ocasião. Dependendo do evento, do público que vai participar, da natureza da festa, tudo isso é avaliado pelo contratante e eu ofereço nosso arsenal de opções.”, explica. 

O produtor ainda conta que a diferença de gogo dancer para striper está na dança. “Gogo dancer sabe dançar todos os estilos. Já stripper é aquele especializado em danças sensuais e números de tirar a roupa apenas. Mas, não basta saber dançar, tem que ter beleza completa, rosto, corpo, ser carismático”, explana Bambam. 

A proprietária da Club Metrópole, Maria do Céu, conta que o mercado de gogo dancers em Pernambuco é repleto de bons profissionais e que o perfil é formado por pessoas que já têm algo paralelo. “Geralmente os jovens que nos procuram gostam de dançar, têm um corpo bonito e querem uma renda extra”, explica. A empresária ainda relata como foi primeiro gogo dancer selecionado para dançar na boate. “Um dia eu estava andando pela rua e vi um rapaz lindíssimo que trabalhava numa empresa de gelo. Aí eu perguntei ‘você gosta de dançar?’, ele respondeu que sim e depois eu perguntei se ele ‘topava’ se apresentar. Ele disse ‘topo’ e eu não acreditei, ele era incrível!”, detalha Maria do Céu. 

A empresária ainda afirma que ser gogo dancer é um trabalho muito bonito e que os jovens que se interessam têm que ter o perfil físico e já dançar alguma coisa. “É importante que eles já saibam algum tipo de dança para não ficar travados no momento da apresentação”. 

 

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