'VI Janela de Cinema' estreia mostra competitiva de longas

Festival pela 1ª premia filmes do formato entre brasileiros e estrangeiros

por Priscila Urpia ter, 01/10/2013 - 15:38

O VI Janela Internacional de Cinema do Recife inaugura a mostra competitiva de longas-metragens, entre nove títulos nacionais e estrangeiros. O festival acontece de 11 a 20 de outubro, com programação dividida entre o Cinema São Luiz e o Cinema da Fundação, com as mostras de curtas, programa de clássicos e seleções especiais, projetados em 2 e 4K, DCP (Digital Cinema Package), 35mm e 3D digital. Aproximadamente 110 filmes participam da programação.

Na mostra competitiva de longas, disputam os filmes Tatuagem (Hilton Lacerda), Depois da Chuva (Cláudio Marques e Marília Hughes), O Lobo Atrás da Porta (Fernando Coimbra), Avanti Popolo (Michael Wahrmann), Gatinha Estranha (Ramon Zürcher), O Ato de Matar (Joshua Oppenheimer), Quando a noite cai em Bucareste ou metabolismo (Corneliu Porumboiu), Metalhead (Ragnar Bragason) e Um Estranho no Lago (Alain Guiraudie). Sessões especiais de longas metragens também compõem a grade. A competição não terá divisões entre brasileiros e estrangeiros.O Lobo Atrás da Porta

A abertura do Janela, às 21h30 do dia 11 no Cinema São Luiz, traz o esperado longa pernambucano Tatuagem (Hilton Lacerda) e o curta Censura Livre (Ivan Cordeiro, 1979), fruto do ciclo pernambucano de Cinema Super 8. O filme foi escaneado com resolução 2K e passado para DCP com o apoio do festival. " Passei por uma ditadura, mas o título não foi por causa da repressão e sim pela impossibilidade do cinema. A história não teve roteiro, queria que tivesse uma coisa poética", destacou Ivan.

O tema central de Tatuagem é o afeto, o amor e a amizade, segundo o diretor Hilton Lacerda, roteirista de filmes como Amarelo Manga e A Febre do Rato, que dirigiu seu primeiro longa-metragem de ficção. O filme terá um debate especial depois da reprise, com a mediação de Ângela Pryston e a participação de Alexandre Figueiroa e Benedito Meldrado. O tema demolição também marca forte presença na Sessão Especial de O Homem das Multidões, de Marcelo Gomes e Cao Guimarães, que terá o curta Pausas Silenciosas (2013, PE, 18', cor, DCP), de Mariana Lacerda, que observa o trabalho de documentação fotográfica de Alcir Lacerda para a cidade do Recife nos anos 70 e lugares que não existem mais.

Amor, plástico e barulhoAlém da competição, Amor, Plástico e Barulho, premiado no Festival de Brasília, faz sua estreia no Recife, assim como Uma Passagem para Mário marca a primeira exibição pública de um longa do cineasta pernambucano Eric Laurence. Os filmes serão exibidos em Sessões Especiais no Janela. Amor, Plástico e Barulho, ganhou em setembro os prêmios de Melhor Atriz (Maeve Jinkings), Melhor Atriz Coadjuvante (Nash Laila) e Direção de Arte (Dani Vilela) no Festival de Brasília. Com trilha sonora do DJ Dolores, o filme entra no universo do brega do Recife e o embate de duas cantoras, vividas pelas atrizes premiadas.

Este ano, mais de mil curtas filmes foram inscritos, batendo recorde do festival, um crescimento de cerca de 20% em relação a outras edições.  Foram selecionados 21 curtas brasileiros e 19 estrangeiros. Além de Emilie Lesclaux, produtora executiva do Janela, participaram do processo de seleção o roteirista Luiz Otávio Pereira, os jornalistas Luís Fernando Moura e Rodrigo Almeida, o ator Fabio Leal e o designer e crítico Fernando Vasconcelos.

Os curtas vão competir na seleção de nacionais e internacionais nas categorias melhor som, montagem, imagem e melhor filme. Na lista dos nacionais, produções de oito estados brasileiros. Entre os pernambucanos, estão Em Trânsito (Marcelo Pedroso), Deixem Diana em Paz (Júlio Cavani) e Au Revoir (Milena Times). Metade das inscrições vieram de fora do Brasil, com filmes da Espanha, Alemanha, Portugal, Estados Unidos, França, Canadá e Inglaterra. Entre os destaques, os curtas portugueses Gambozinos (João Nicolau) e O Corpo de Afonso (João Pedro Rodrigues) e o belga Plot Point Trilogy - Part Three (Nicolas Provost).

Nesta edição, os programas convidados via instituições e festivais parceiros trazem uma sessão da USC (University of Southern California), em Los Angeles, uma das escolas de cinema mais respeitadas do mundo, no coração da indústria. O programa é composto por filmes de formação raros, feitos na faculdade por alunos hoje ilustres como George Lucas (Guerra nas Estrelas) e Matthew Weiner (criador da série Mad Men), Walter Murch (designer de som em Apolalypse Now), Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro) e James Gray (Os Donos da Noite, Amantes).

O festival internacional convidado para intercâmbio nesta edição é o IndieLisboa, que criteriosamente aponta caminhos consagrados e a cinematografia recente da mais relevante produção portuguesa, com curtas de autores como João Cesar Monteiro, Miguel Gomes e Manoel de Oliveira. Também merece destaque a seleção Tomada Única - Cinema de Desbunde, outra aparição do formato Super8 no Janela esse ano, com novos realizadores em filmes especialmente dedicados ao Cinema do Desbunde.

Sob o tema Manifestações, o Janela 2013 traz uma seleção de produções questionadoras,  políticas e polêmicas, que refletem no programa de todo o festival, desde a escolha dos clássicos, até a seletiva de curtas e longas e de mostras especiais. Inclusive a imagem escolhida para ilustrar o Janela 2013 tem a ver com o tema - uma foto do clássico mudo Metropolis, que receberá sessão histórica em cópia restaurada com execução de trilha sonora ao vivo pelo trio argentino Mudos por el Celulóide.

Juri

O Júri da competitiva de longas é composto pelos brasileiros João Luiz Vieira (professor e acadêmico) e Gabriel Martins (roteirista e cineasta de Minas Gerais), além do britânico Mark Peploe, roteirista de O Passageiro, de Michelangelo Antonioni, e vencedor, junto com Bernardo Bertolucci, do Oscar de 1988 de melhor roteiro adaptado O Último Imperador. Peploe também irá apresentar e conversar com o público na sessão da versão restaurada de O Último Imperador, exibida no último Festival de Cannes, uma experiência em 3D.

Oficinas

O  Centro Cultural Brasil-Alemanha, parceiro importante do Janela, promove a oficina Documentário Sociocultural, coordenada por Juan Sarmiento G., premiado cinegrafista colombiano radicado na Alemanha desde 2003. Estudou câmera em Potsdam/Babelsberg entre 2005 e 2011. O seu primeiro documentário La Tierra se Quedó foi apresentado em 35 Festivais rendendo prêmios no Panamá. Trabalhou como cameraman em 3 longas e entre os seus prêmios destaca-se ainda o Prêmio do Novo Cinema Alemão concedido no Festival de Cinema de Hof em 2012.

Além disso, o Janela promove, desde o primeiro ano, o Janela Crítica, que seleciona sete interessados em crítica de cinema. Selecionados entre 45 inscritos, os participantes desta sexta edição serão acompanhados pelo jornalista e crítico Luís Fernando Moura. Eles terão passe livre no evento, cobrirão as diversas mostras e programas para um blog oficial e, ao final do festival, farão suas apostas também em um júri especial.

Encontros do Janela

Este ano, o Janela promove, de segunda a sexta, todas as manhãs, às 10h30, no Cinema da Fundação, encontros com mesas, seminários e debates de temas importantes para o festival. Na segunda e terça (14 e 15), o seminário Kinepolitiks, promovido pela ABD/APECI e coordenado por Mariana Porto e Pedro Severien, faz uma grande discussão com o tema cinema e política.

Na quarta (16), o pesquisador, curador e crítico João Luiz Vieira faz uma aula de cinema intitulada O Espetáculo Começa na Calçada. Quinta (17) é a vez de uma interessante discussão com Mathilde Henrot e Alessandro Raja (do site FestivalScope, plataforma digital de distribuição de filmes inéditos para festivais de cinema do mundo inteiro), que unem-se a Paula Gastaud (Itunes Brasil) e Fernando Mendonça (Making Off) na mesa Pirataria ou Compartilhamento, coisa boa ou encrenca? Sexta (18), mesa com os realizadores presentes no Janela.

Além disso, no domingo 20, será lançado O Cinema Sonhado, livro biográfico sobre o cineasta e aviador Pedro Teófilo Batista escrito por seu neto, Josias Teófilo, um estudo poético sobre Pedro Teófilo Batista, aviador de formação, repórter cinematográfico, arquiteto autodidata, inventor e cineasta. O livro é uma mistura de biografia com autobiografia, onde aquele que escreve trata do outro e de si mesmo, guiado pela pergunta: “Como a memória interfere no destino?”

Clássicos do Janela

A seção Clássicos do Janela tornou-se uma das marcas do festival, utilizando o porte e a historia do Cinema São Luiz como elemento essencial para o sucesso desse conceito. O São Luiz interage lindamente com filmes do passado que fazem parte da historia do cinema, das pessoas e, muitas vezes, dessa própria grande sala. Sessões inesquecíveis que têm colaborado para estabelecer um aspecto forte da personalidade do Janela: a alegria do cinema e o respeito pela historia. O público nesta edição vai contar com reprises dos clássicos.

Compõem a programação O Bebê de Rosemary (Roman Polanski, ele faz 80 anos esse ano), A Mosca (David Cronenberg), Os Embalos de Sábado à Noite (John Badham), Um Tiro na Noite (Brian de Palma), o clássico western Era uma Vez no Oeste (Sergio Leone), O Sentido da Vida – Monty Python ( Terry Jones) e o controvertidos Faça a Coisa Certa (Spike Lee), além do vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1968 Se…(If), de Lindsay Anderson, primeiro filme do ator Malcolm McDowell (Laranja Mecânica -  que teve sessão no Janela de 2011).

A sessão de O Último Imperador terá a presença do roteirista britânico Mark Peploe, roteirista de O Passageiro, de Michelangelo Antonioni, e vencedor, junto com Bernardo Bertolucci, do Oscar de 1988 de melhor roteiro adaptado por esse filme. Mark chega ao Recife pela primeira vez e irá compor o júri do Janela 2013.

Metrópolis será exibido na tela do São Luiz em cópia restaurada e com música ao vivo, acompanhado pelo trio argentino Mudos por el Celulóide. Liderado pelo pianista Marcelo Katz, o grupo tem uma ampla experiência em apresentações musicais simultâneas à exibição de filmes mudos. O violinista Demian Luaces e a multi-instrumentista Eliana Liuni completam a formação. 

O  festival tem patrocínio do Funcultura/Governo de Pernambuco e da Petrobrás. Diferente do ano passado, a Prefeitura do Recife está se movimentando para apoiar o festival, segundo Kléber Mendonça. "Estivemos ontem reunidos, fomos recebidos e estamos negociando a questão da prefeitura apoiar o festival com passagens", contou ele. Os ingressos para os longas e clássicos no VI Janela de Cinema terão o mesmo valor tanto para o Cinema São Luiz quanto para o Cinema da Fundação ( R$ 4 inteira e R$ 2 meia entrada), e serão vendidos antecipadamente nas bilheterias dos cinemas a partir do dia 8 de outubro. Os ingressos para os curtas metragens custam R$ 1.

Confira a programação completa do Janela aqui.

Kléber Mendonça, realizador do festival, conta como foi a escolha dos clássicos do Janela para esta edição:

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