Ópera rock paraense expõe realidade da violência no campo
Inspirado em álbum da banda Álibi de Orfeu, espetáculo "Desterro" discute conflitos agrários e o contexto social e político na Amazônia
O espetáculo "Desterro" é a primeira ópera rock autoral brasileira a ser encenado na região Norte do país. Inspirado no álbum da banda de rock paraense Álibi de Orfeu, estará em cartaz nos dias 13, 14 e 15 de março, às 19h30, no palco do Teatro Margarida Schivasappa, no Centur, no bairro da Batista Campos, em Belém do Pará.
A obra conta a história de Dira (Carol Maia), uma mulher do interior do Pará que sai da terra natal, Terra do Meio, após o assassinato da avó, Doroteia do Carmo (Graciane Gonçalves), uma ativista que lutava contra a grilagem de terras e a violência no campo. Em Belém, Dira encontra “refúgio” no bar e prostíbulo do seu Raul (Matheus Lensi), e vive situações que jamais imaginava.
Segundo Sidney Klautau, baixista da banda Álibi de Orfeu, que propôs o enredo inicial, o álbum foi concebido para ser um espetáculo de ópera rock. “A meta não era fazer um show de lançamento como todo mundo faz. Tanto que, em 2018, disponibilizamos o álbum com 14 músicas no Spotify. Nós combinamos que só iríamos lançar quando conseguíssemos fazer o espetáculo, o que vai acontecer agora”, diz Sidney.
“A história central passa por questões de conflitos agrários e violência no campo. Fronteiras econômicas que criam conflitos de terras, que geram ganância de grileiros e madeireiros, que querem explorar e expulsam os menos favorecidos. Por isso se chama ‘Desterro’, eles são obrigados a sair da região e procurar obrigo em outros lugares. Todo esse contexto econômico e político pode ser encontrado nas músicas, que também falem de amor e questões existenciais. Uma obra rica e que merece ser vista e escutada”, reitera o baixista.
De acordo com Rui Paiva, baterista da banda, as temáticas da obra vão provocar um choque de realidade nos paraenses. A pessoa que assistir à ópera poderá formar o ponto de vista acerca do assunto. “O público pode esperar uma discussão do tema da realidade brasileira, da Amazônia, da realidade de Belém que está pertinho de todos. O público vai se encontrar lá dentro do palco”, afirma.
Personalidades e mitos
Para o dramartugo Danilo Monteiro, o maior desafio foi criar um universo que se encaixasse na história que já existia e fazê-la crescer. Na construção dos personagens misturam-se as personalidades, que vão entrar na vida da Dira com mitos amazônicos. Por exemplo, o Jonathan (Igor Ibiapina), que é garoto de programa e tem traços do boto. “Queria sensibilizar as pessoas com coisas que normalmente elas não veem no dia a dia. No Ver-o-Peso, tem mulheres, homens, crianças que são traficadas para vir se prostituir. Isso não é ficção, isso é uma realidade. Quero que as pessoas se impactem com o desfecho da história que é bem emblemático”, completa.
“O ‘Desterro’ representa um momento de exaltação da cena regional. Acreditamos que ele irá alavancar muitas coisas boas não só para Belém como para o Estado”, afirma Bel Lobato, diretora geral e coreógrafa.
“É uma fórmula brasileira inédita e foi um desafio enorme fazer com que 21 pessoas cantassem de maneira dinâmica, e que se integrassem com aquele estilo novo, pois nem todos estão acostumados com uma instrumentação ao vivo e que seja com a pegada de rock. Além do rock, o público poderá encontrar musicalidade paraense, nortista com a presença de tambores e do olodum”, complementa Lídia Marçal, diretora musical.
“Meu maior desafio foi conseguir trazer tantas emoções para a personagem. O público pode esperar cenas fortes e muita emoção”, afirma Carol Maia, atriz que interpreta a protagonista Dira.
“Eu quero que as pessoas que me veem em cena sintam-se tocadas por essa história. O meu maior desafio é fazer que Dorotéia seja real, pois ela existe no interior do Estado", afirma Graciane Gonçalves, que interpreta Dorotéia e usou as avós como inspiração. “A maior mensagem é que as pessoas não deixem de lutar por aquilo que acreditam e defendem, é o momento de se unir e não se desesperar, correr atrás dos ideais e lutar por eles”, completa
“Interpretar o Raul me tirou totalmente da minha zona de conforto. Ele é um personagem para ser odiado, ele é para ser aquela pessoa que vão olhar e sentir nojo da cara dele. Fazer uma pessoa fora da minha realidade foi um grande desafio, mas foi um desafio incrível”, afirma Matheus Lensi, ator que dar a vida ao vilão Raul.
“A última música da ópera pergunta ‘E de que lado você está?’; não queremos tentar dizer para as pessoas na ópera o que é certo ou o que é errado, iremos contar uma história e deixamos que tomem as suas decisões. A história está contada, os fatos estão aí. O que a ópera faz, o que as letras fazem é colocar as pessoas para pensar”, afirma Sidney.
A obra conta com o apoio da Fundação Cultural e da Escola Mirai de Dança. Os ingressos do evento estão sendo vendidos na Escola Mirai, na Bejamin Constant, 1536, entre Gentil e Braz de Aguiar. Ou no site do Sympla, a R$ 60,00 (no dia do evento) e R$ 30,00 (meia e antecipada). A censura é de 16 anos. Segundo a assessora Emanuele Corrêa, no dia do espetáculo, se ainda tiver ingresso, estará sendo vendido na bilheteria do Schivassapa (Centur).
Por Amanda Martins.