Crítica: Assassinos da Lua das Flores (2023)
Épico de Scorsese estreia nesta quinta-feira, 19
Por Geraldo de Fraga
Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon, 2023) nos leva até o estado americano de Oklahoma. Lá, em 1897, foram encontradas várias reservas de petróleo nas terras pertencentes ao povo indígena Osage. A descoberta deixou os membros da tribo milionários e transformou a cidade de Fairfax numa espécie de 'meca do óleo', atraindo centenas de trabalhadores (alguns honestos e outros não).
Na década de 1920, o ex-combatente da I Guerra Mundial Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio) chega ao local para morar e trabalhar com seu tio, William Hale (Robert De Niro), um fazendeiro e líder querido da comunidade. Ele incentiva seu sobrinho a se casar com a herdeira Osage Mollie Burkhart (Lily Gladstone), prática comum dos homens brancos em Fairfax, o popular 'golpe do baú'.
Estabelecido esse cenário, Assassinos da Lua das Flores envereda pelo suspense, contando sobre várias mortes suspeitas de indígenas endinheirados, fato apontado como uma das conspirações mais assombrosas da história dos Estados Unidos. O roteiro foi baseado no livro de David Grann e também aborda a criação do FBI.
O filme é mais uma aula de Martin Scorsese de como se fazer um épico. Em suas quase 3h30, o longa não desperdiça um minuto de tela e não cai de ritmo hora nenhuma. Tudo que o veterano diretor nos apresenta tem importância para a trama, algo pouco comum em tempos em que até adaptações de super-herói extrapolam a duração padrão do gênero sem cerimônia.
Mas mesmo com a mão segura de Scorsese, isso não seria possível sem as grandes atuações do elenco. Em um certo momento do filme, Mollie se refere ao personagem de Leonardo DiCaprio como alguém "não muito inteligente, mas bonitão". A dualidade de Ernest Burkhart, hora bem intencionado, hora envolvido em merda até o pescoço, faz dele o protagonista perfeito, e muito graças à interpretação de DiCaprio.
Falando em Mollie Burkhart, Lily Gladstone crava aqui seu lugar em Hollywood. A atriz carrega com maestria todo o drama do seu povo, intercalando falas em inglês e na língua nativa Osage e, às vezes, apenas em olhares e expressões. Bom também ver Robert De Niro saindo do modo automático, aos 80 anos, e entregando algo inovador.
Assassinos da Lua das Flores dosa na medida certa as relações pessoais entre os personagens e a trama maior. O longa ainda aborda de maneira eficiente a questão do racismo, mostrando que um grupo de índios milionários incomodava muita gente já no início do século passado. Tudo isso com uma incrível direção de arte e outros detalhes técnicos impecáveis (como fotografia e som). Filmaço em todos os sentidos.
Nota: ★★★★★