'Violência policial não faz parte dos Jogos', diz Anistia
O diretor da Anistia Brasil, Átila Roque, denunciou as "verdadeiras operações de guerra nas favelas e na periferia desde o início do ano"
Em uma calçadão em frente à sede do Comitê Organizador dos Jogos no Rio, quinze militantes da Anistia Internacional estenderam 40 sacos pretos, simbolizando as pessoas assassinadas pela polícia em maio, a maioria nas favelas da cidade.
"Houve 40 mortos em maio na cidade do Rio (mais de 80 em todo o estado) e isso representa um aumento de 135% em relação a maio de 2015. É inadmissível", afirmou Renata Neder, especialista em segurança da Anistia Internacional. "Nossa principal preocupação é o aumento da violência policial com a proximidade dos Jogos", que começam no dia 5 de agosto, destacou.
Neder explicou que antes de cada grande evento esportivo a violência aumenta: em 2007, antes dos Jogos Pan-Americanos, a polícia executou 19 pessoas durante uma operação no Complexo do Alemão, e em 2014, ano da Copa do Mundo, a violência aumentou 40% em relação a 2013.
"Constatamos um grande aumento da violência policial nos anos de grandes eventos", lamentou esta porta-voz da Anistia, que também lançou nesta quarta-feira a campanha "A violência não faz parte destes Jogos".
O diretor da Anistia Brasil, Átila Roque, denunciou as "verdadeiras operações de guerra nas favelas e na periferia desde o início do ano". "É uma declaração de guerra às favelas, aos jovens e sobretudo aos negros, a uma imensa parte da população que perde a vida pelas mãos do Estado", afirmou.
Roque lamentou igualmente "a oportunidade perdida" do legado dos Jogos, que deveria servir para melhorar a segurança pública e diminuir os riscos de violação dos direitos humanos na cidade de seis milhões de habitantes, um terço dos quais vive nas favelas.
No final da manifestação, os ativistas entregaram uma petição ao Comitê Rio-2016 com mais de 120.000 assinaturas de 15 países para exigir "uma política de segurança que respeite os direitos humanos", assim como uma coroa de flores que levava escrito: "In memoriam, mais de 2.600 vítimas da polícia desde 2009 na cidade do Rio".
Para Neder, a responsabilidade recai tanto nas autoridades brasileiras como no Comitê Organizador dos Jogos: é "crucial" tomar medidas preventivas para formar melhor os policiais, investigar e "punir os responsáveis pela violação dos direitos humanos, já que a impunidade alimenta esta violência", afirmou.