Operadores de som e DJs se tornam as vozes da torcida
Por causa da pandemia do novo coronavírus, estádios não estão recebendo torcedores
A ausência da torcida nos jogos de futebol no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus fez aumentar a importância de um profissional que atua nos bastidores e distante do campo do jogo. Os responsáveis pela operação do sistema de áudio dos estádios passaram a ter papel fundamental para colocar em todas as caixas de som os barulhos, os cantos e a vibração da torcida, para não deixar o ambiente ficar silencioso. Esses funcionários agora são as vozes e o apoio enquanto os demais têm de torcer pelo time à distância, pela televisão, e no máximo podem pendurar bandeiras nas arenas.
A iniciativa de colocar o som da torcida nos estádios vazios ganhou força principalmente na Inglaterra. Alguns times de lá até mesmo instalaram um sistema de telões em que por videoconferência, o torcedor aparecia bem perto do campo. No Brasil a ideia da gravação também já se popularizou e tem diferentes propostas. No Rio de Janeiro, o sistema de som do Maracanã chegou a reproduzir até uma vaia durante a final entre Flamengo e Fluminense.
No futebol paulista, as equipes não querem colocar nos alto-falantes vaias nem xingamentos ao árbitro, mas somente sons de apoio. Se o time mandante estiver melhor no jogo e próximo de marcar um gol, o volume aumenta. Caso a equipe esteja em momento ruim, é hora de escolher um outro tipo de canto para incentivar. Por isso, os operadores de som e DJs que têm trabalhado nesses jogos afirmam que para exercer a função é preciso ter sensibilidade e conhecer o comportamento da torcida.
No Allianz Parque o responsável pelo serviço nos jogos do Palmeiras é o operador de áudio Moacir de Lima Junior. Há três anos no cargo, ele disse que, com o estádio vazio, tem o papel de imaginar como a torcida reagiria a cada um dos momentos do jogo. "Agora tenho uma responsabilidade maior. Nossa função é incentivar o time também. Não basta só ter o barulho do público. Tem de colocar um tipo de canto quando o time está atacando e outro tipo se estiver atrás no placar", explicou ao Estadão.
Para municiar a operação durante o jogo, ele conta com cerca de dez diferentes cantos gravados. Um dos sons de execução mais difícil, segundo o operador, é a reação a lances de oportunidades perdidas. Essa ocasião exige uma sincronia exata entre o gol desperdiçado e o áudio arquivado. "O maior medo nosso é soltar errado o grito de o gol quando for na verdade gol do adversário", brincou.
No Palmeiras a operação de áudio com sons da torcida já havia sido utilizada em jogos das categorias de base e do time feminino. Antes de retomar a disputa do Campeonato Paulista, o clube realizou diversos testes no Allianz Parque para encontrar o volume ideal. A preocupação foi não interferir na transmissão da televisão.
O Atlético-MG foi atrás de um DJ profissional para garantir o ambiente do time nos jogos depois da retomada do calendário. Maurício Maoli costuma tocar em casamentos e festas, mas sentiu uma emoção diferente ao ter de operar os equipamentos no Mineirão. "O futebol é mais difícil de trabalhar do que eventos, porque é muito mais imprevisível. Fora que eu não tinha muito o modelo de como fazer", disse.
O DJ teve de montar um acervo próprio com os cantos da torcida alvinegra. "Eu procuro imaginar como a torcida se comportaria em cada um dos momento do jogo para poder soltar as gravações", contou. O som mais utilizado é o de aplausos. Há outros também como o de "olé". Cântico tradicional em vitórias da equipe, a música "Vou Festejar", da cantora Beth Carvalho, também está no arquivo dele, mas só é executado no fim das partidas.
A FOTO CORRETA - Junto com o áudio da torcida, o Corinthians tem uma outra campanha para compensar a falta de público. O projeto "O Timão é a Sua Casa" colocou à venda totens com fotos de torcedores para espalhar pelo estádio. Um dos compradores foi o goleiro Cássio, que destinou o espaço aos dois filhos: Felipe e Maria Luiza. "A gente sabe o quanto é forte a torcida do Corinthians e, infelizmente, não vai ter torcida no retorno do futebol. Então, comprei o totem para ajudar o clube e também para fazer parte desse momento", disse.
Segundo Luiz Fernando Ferreira, diretor executivo da empresa responsável pela campanha, a ESM Sports Business, é preciso ter cuidado para as fotos enviadas não terem alguma brincadeira. Na Inglaterra, por exemplo, a imagem do terrorista Osama Bin Laden ganhou espaço no estádio do Leeds United. "Nós possuímos uma equipe que aprova as fotos, além de termos tido o cuidado de imprimir totens que não refletem as luzes e que aguentam as intempéries climáticas", explicou.