Hebert, o 'nobre guerreiro' de ouro se consagra em Tóquio
A canção do grupo baiano Olodum dedicada ao líder sul-africano mais uma vez inspirou o lutador de 23 anos ao entrar no ringue da arena Kokugikan, sede do boxe na capital japonesa
"Nobre guerreiro negro de alma leve, nobre guerreiro negro lutador". A letra e a melodia da música em homenagem a Nelson Mandela guiaram o boxeador Hebert Conceição pelo ringue de Tóquio rumo à medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.
A canção do grupo baiano Olodum dedicada ao líder sul-africano mais uma vez inspirou o lutador de 23 anos ao entrar no ringue da arena Kokugikan, sede do boxe na capital japonesa.
Diante de poucas pessoas presentes, e milhões assistindo pela televisão na madrugada brasileira, ele lutou corpo a corpo pela consagração na categoria de peso médio (até 75 quilos) contra o ucraniano Oleksandr Khyzhniak.
Ele chegou à decisão para definir sua medalha, que havia sido garantida com a vitória nas quartas de final sobre o cazaque Abiljan Amankul. Depois de conseguir aquele triunfo, ele bateu no peito e gritou: "Eu sou medalhista olímpico. Eu mereço pra caralho!".
Mas Luiz Dórea, renomado treinador de boxeadores e lutadores de artes marciais mistas que o guiou nos primeiros anos, o incentivou a não se contentar com o bronze que havia assegurado.
"Ainda não acabou: ainda falta transformar aquele bronze em ouro!", disse ele, em conversa telefônica em que tentou apaziguar a euforia para encorajar Hebert a seguir mais longe, segundo declarou ao portal UOL.
Hebert Conceição tomou suas palavras como incentivo e seguiu avançando e derrotou Gleb Bakshi nas semifinais, uma vitória com sabor de vingança: dois anos antes o adversário russo o havia derrotado na mesma fase no Mundial de boxe amador de Yekaterimburgo, na Rússia.
Naquela disputa, o brasileiro conseguiu obter um festejado bronze, uma das medalhas que ostenta em sua curta carreira desde que passou a fazer parte da seleção brasileira, em 2017. No ano seguinte, um metal da mesma cor foi conquistado nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia, e em 2019 ele levou a medalha de prata nos Jogos Pan-americanos de Lima.
Após a vitória que o colocou na final em Tóquio, ele olhou para a câmera e gritou o que parecia um mantra: "Brasil, acredite sempre no seu potencial e trabalhe. Não passe por cima de ninguém que as coisas acontecem". E essa crença também foi aplicada na final, em que Khyzhniak, campeão mundial em 2017, estava em vantagem após os dois primeiros rounds, mas o brasileiro derrubou o ucraniano no último assalto com um nocaute espetacular e garantiu o ouro.
- 'Moleque esportista' da Bahia -
Antes de colocar as luvas, Conceição se aventurou futebol, jiu-jitsu e capoeira. "Sempre fui um moleque esportista", contou ele. Foi talvez a sua terra natal que marcou o seu destino no ringue, onde se destaca assim como outros nascidos na Bahia, celerio do boxe brasileiro.
É o "dendê no sangue", brincou, azeite que também corre nas veias de Beatriz Ferreira, que vai lutar pelo ouro no domingo.
Outro de seus conterrâneos, Robson Conceição, conquistou a primeira medalha de ouro do boxe olímpico do Brasil na Rio-2016. Já profissional, Robson surgiu em São Caetano, mesmo bairro de Hebert em Salvador, onde se tornou seu companheiro de treinos e fonte de inspiração.
Hebert começou no ringue aos 12 anos, quando entrou na academia de Dórea com a ideia de se envolver com artes marciais mistas, mas o treinador o guiou aos primeiros títulos nacionais de boxe como cadete e juvenil.
O agora campeão olímpico foi um dos 8 mil meninos que passaram pelo 'Campeões da vida', projeto social que promove a integração de jovens de baixa renda por meio do esporte.
Já competindo no mais alto nível, o atleta busca agora ajudar meninos que, como ele, sonham em ser boxeadores. Neste sábado, Hebert alcançou mais uma conquista para continuar realizando seus próprios sonhos e inspirando seus seguidores.