Pequim fortalece quarentena para viajantes do exterior

Esse anúncio coincide com uma onda de críticas nas redes sociais contra os ocidentais, acusados de não fazer o suficiente na luta contra a epidemia

seg, 16/03/2020 - 13:00
NICOLAS ASFOURI Funcionário do aeroporto de Pequim com proteção para Covid-19 NICOLAS ASFOURI

A prefeitura de Pequim reforçou nesta segunda-feira as medidas de quarentena para pessoas vindas do exterior, a fim de evitar casos importados de coronavírus, que atualmente excedem as infecções de origem local.

Esse anúncio coincide com uma onda de críticas nas redes sociais contra os ocidentais, acusados de não fazer o suficiente na luta contra a epidemia.

A China, berço da pandemia de coronavírus, disse na semana passada que "praticamente conteve" a epidemia e que agora registra mais casos importados do que locais.

Portanto, a capital impôs a partir de hoje uma quarentena de 14 dias às pessoas vindas do exterior em hotéis designados pelas autoridades. Até agora, a quarentena era imposta apenas para domicílios.

Após a chegada a Pequim, os passageiros serão transferidos para um gigantesco parque de exposições transformado em um centro de exames médicos e depois direcionados para hotéis de quarentena.

Os viajantes terão que pagar os custos da quarentena. Jacob Gunter, um residente americano em Pequim, disse que demorou mais de seis horas entre sair do avião e chegar ao hotel de quarentena, onde terá que residir por duas semanas.

A passagem pelo parque de exposições "foi de longe" o momento mais caótico de sua "odisseia", mas a grande maioria dos passageiros teve "paciência". Uma equipe da AFP viu agentes com equipamento de proteção vigiando o centro de exames médicos ao lado de várias ambulâncias.

Apenas algumas pessoas, consideradas "casos particulares", serão autorizadas a passar a quarentena em casa, informou a prefeitura de Pequim. São mulheres com mais de 70 anos, gestantes, pessoas com doenças crônicas, menores isolados e pessoas que vivem sozinhas.

Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que a epidemia se transformou em uma pandemia, cerca de 20.000 pessoas, 10% estrangeiras, chegam à China todos os dias, segundo uma fonte do serviço de imigração.

Inquietos com a disseminação do vírus no resto do mundo, muitos chineses optaram por retornar ao seu país.

- Trump criticado -

Nesta segunda-feira, a China registrou 12 casos de infecção importada contra apenas quatro casos locais. Dos mais de 80.000 casos registrados na China, 123 se contaminaram fora do país.

Nesse contexto, os internautas chineses responsabilizam a Europa e os Estados Unidos pela rápida progressão do vírus em seus territórios.

Muitos desejam que o presidente americano Donald Trump seja contaminado, outros pedem controles mais rigorosos nas fronteiras para impedir que casos importados revivam a epidemia na China. "Não podemos desperdiçar nossos esforços", diz um internauta na rede Weibo.

Uma hashtag no Twitter, utilizada 820 milhões de vezes, condena o conceito de "imunidade coletiva", evocado por especialistas do Reino Unido e da França, que consistiria em permitir que o vírus se espalhasse lentamente na população.

O regime comunista defende a política radical que adotou no final de janeiro, quando estabeleceu quarentena em quase toda a província de Hubei (centro), berço do novo coronavírus, isolando 50 milhões de habitantes do mundo.

Mas o governo chinês foi criticado pela lentidão com que reagiu quando o vírus apareceu, a tal ponto que no final de dezembro, quando surgiram os primeiros casos, os médicos que alertaram as autoridades foram interrogados pela polícia.

A província de Hubei retorna gradualmente a um ritmo de vida normal. Nesta segunda, quatro cidades fretaram ônibus para trazer 1.600 trabalhadores migrantes de volta ao trabalho em fábricas fora da província.

Desde o início da epidemia, a China registrou 3.213 mortes em todo o país. Atualmente, menos de 10.000 pessoas são consideradas infectadas na China. Um número que deve ser comparado ao total de 24.747 casos anunciados no domingo na Itália, o país mais afetado depois da China.

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