Clima ameaça combate à pandemia nas Américas
O início do inverno no hemisfério sul aumentará a incidência de doenças respiratórias na América do Sul
O frio austral e os furacões no Atlântico ameaçam o combate ao novo coronavírus no continente americano, atual epicentro da pandemia, advertiu nesta terça-feira (9) a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), enquanto na Europa avança a reabertura econômica.
O início do inverno no hemisfério sul aumentará a incidência de doenças respiratórias na América do Sul e a intensa temporada de furacões, esperada para os próximos meses no Atlântico, também complicará a resposta à pandemia na América do Norte e Central, e especialmente no Caribe, disse a diretora da OPAS, Carissa Etienne.
O novo coronavírus continua se espalhando com força em Brasil, Peru e Chile, e na Venezuela os contágios aceleraram. Também houve um aumento de casos em México, Panamá e Costa Rica, sobretudo na fronteira com a Nicarágua, assim como no Haiti e no Suriname.
Na Amazônia brasileira, castigada pelo vírus, especialmente entre as populações indígenas, outro problema espreita: a temporada de incêndios florestais, cuja fumaça pode agravar a já complexa situação sanitária.
No Peru, onde nesta terça-feira foram superados os 200.000 contágios em meio a estritas medidas de contenção, o surto gerou escassez de oxigênio para pacientes graves em Lima e poderia levar ao colapso o sistema hospitalar da capital.
Com mais de 111.000 mortes nos Estados Unidos, país mais afetado do mundo pela pandemia, e mais de 38.000 óbitos no Brasil, a região das Américas concentra metade dos 7,1 milhões de casos e das quase 408.000 mortes registradas no planeta desde que a Covid-19 surgiu na China no fim do ano passado, antes de se espalhar pelo mundo, forçando bilhões de pessoas a manter algum tipo de confinamento e provocando a pior recessão global em 80 anos.
- "Abordagem comum europeia" -
Após o embate do vírus na Europa, o continente mais afetado até agora, com 184.000 mortes, líderes de França, Alemanha, Espanha e outros três países da União Europeia (UE) exortaram o bloco a superar a falta de coordenação que marcou sua resposta à pandemia, especialmente ante uma possível segunda onda do coronavírus.
Deve haver uma "abordagem europeia comum" para estes desafios no futuro, disseram em uma carta antes de uma reunião de cúpula virtual dos 27 líderes da UE em 19 de junho sobre as consequências da crise.
O Banco Mundial informou que o crescimento econômico mundial poderia se recuperar no ano que vem, mas espera-se que a quantidade de pessoas que vivem na pobreza extrema se manterá.
O mundo enfrenta uma "crise alimentar mundial iminente", que poderia afetar centenas de milhões de pessoas, em vista do impacto nas cadeias de abastecimento, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, pedindo proteção sobretudo às crianças, sem acesso a alimento nas escolas.
- Máscaras na Espanha -
Na Espanha, o governo anunciou que o uso de máscaras será obrigatório até que o novo coronavírus seja derrotado "definitivamente". Uma multa de 100 euros (112 dólares) será cobrada em caso de descumprimento.
O uso das máscaras também será obrigatório em Moscou, onde as autoridades suspenderam as restrições vigentes desde 30 de março, apesar do registro, nesta terça, de 8.595 novos casos no país e do número de mortos ter superado os 6.000.
No sofisticado bairro de Patriarshiy Prudy, os salões de beleza recebiam as primeiras clientes. "É um dia lindo em todos os sentidos", disse Olga Ivanova, gerente de marketing de 33 anos.
A Rússia é o terceiro país com o maior número de infecções confirmadas, depois dos Estados Unidos e do Brasil. Mas as autoridades dizem que isto se deve a uma grande campanha de testes e apontam a uma taxa de mortalidade relativamente baixa. Os críticos, no entanto, acusam os funcionários de se apressar a suspender as restrições por razões políticas.
Não só a Rússia avançou para a "nova normalidade". Em Paris, anunciou-se a reabertura da Torre Eiffel em 25 de junho.
No Uruguai - com 3,4 milhões de habitantes, dois dias seguidos sem registro de casos novos e apenas 84 pessoas com a doença - a maioria dos shopping centers voltaram a receber clientes sob um estrito protocolo sanitário: quem estiver com temperatura corporal acima de 37ºC não poderá entrar.
- Covid-19 e protestos antirracistas -
Nos Estados Unidos, efetivos da Guarda Nacional testaram positivo para a Covid-19 após terem sido mobilizados para conter as manifestações multitudinárias contra o racismo em Washington após a morte de um homem negro por um policial branco, aumentando o medo de um ressurgimento da epidemia.
No país, onde há dois meses a curva de contágios está em um "platô", o vírus a princípio castigou com força a região do litoral e agora circula mais nas áreas menos urbanizadas do Meio Oeste e do sul, onde o confinamento foi determinado mais tarde e suspenso antes.
Nas últimas 24 horas, o país registrou 819 mortes pela Covid-19, segundo cifras atualizadas pela Universidade Johns Hopkins.
Com estes óbitos, o total de mortes chegou a 111.751, com 1.973.803 casos, de acordo com o balanço divulgado às 20h30 locais (21h30 de Brasília) pela instituição, sediada em Baltimore.