Histórias de quem busca uma vaga durante a pandemia

O LeiaJá entrevistou profissionais que seguem na tentativa de recolocação profissional no período de quarentena

por Alex Dinarte ter, 30/06/2020 - 16:29
Arquivo pessoal A luta de quem está à procura de um emprego em meio à crise provocada pela pandemia de coronavírus Arquivo pessoal

A rotina de quem está desempregado, que já não é fácil em situações normais, ficou ainda pior por causa da pandemia de coronavírus. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta terça-feira (30), mostram que até o mês de maio cerca de 7,8 milhões postos de trabalho foram extintos devido à crise. 

Na contramão do momento desfavorável, muitos brasileiros batalham para conseguir uma vaga e se recolocar no mercado de trabalho. A recepcionista Mariane Gonçalves, 22 anos, está há 11 meses desempregada. Segundo ela, apesar das inúmeras tentativas na busca por emprego por meio de recrutadoras virtuais, ela ainda não conseguiu uma vaga.

"Entro na Internet todos os dias, redes como o LinkedIn, outros sites que sempre consulto, me inscrevo mas na maioria é sem sucesso", conta.

Mariane Gonçalves, que já buscava emprego antes da quarentena, afirma que a pandemia dificultou a situação. Foto: arquivo pessoal

Para Mariane, o decreto de pandemia, feito no último mês de março pela Organização Mundial da Saúde (OMS), complicou ainda mais o caminho rumo à conquista profissional. "A pandemia tem deixado muitas pessoas sem emprego e quem já estava desempregado encontra maior dificuldade para conseguir algo", considera.

A procura, que antes era de acordo com sua área de atuação, passou a ser menos seletiva e mais abrangente. "A princípio procurei mediante experiência, mas agora estou enviando para todo e qualquer lugar que anuncie vagas", afirma a recepcionista, que mesmo correndo alguns riscos, segue distribuindo currículos pelas firmas que encontra funcionando.

"Procuro trabalho desde a primeira semana que fiquei desempregada, parei no início da pandemia e mesmo que nem todas as empresas estejam abertas, já voltei a entregar", conta.

Nenhuma entrevista

Com experiência no setor comercial, a operadora de caixa Daiana dos Santos, 31 anos, foi dispensada em novembro do ano de 2019. A vontade e a necessidade de estar empregada a fez buscar recolocação mesmo tendo direito a receber o seguro-desemprego.

"Procuro emprego desde que saí da empresa, mesmo recebendo o seguro-desemprego, mas atualmente não recebo mais o benefício", lamenta a profissional, que já teve experiências em funções como vendedora e atendente.

Daiana dos Santos está disposta a trabalhar em outras áreas mas não teve nenhum retorno das vagas às quais se candidatou. Foto: arquivo pessoal 

De acordo com Daiana, ela ainda não foi escolhida para participar dos processos seletivos em que se inscreveu desde que voltou à procura de trabalho. "Ainda não fiz nenhuma entrevista e nem recebi resposta dos aplicativos do qual enviei o currículo. Sempre envio pela plataforma e para o e-mail das empresas, mas ainda não tive retorno", relata.

Daiana diz que gostaria de trabalhar nas áreas em que já tem prática, mas afirma que está aberta a oportunidades em outras áreas. "Procuro trabalho no segmento que já possuo experiência, porque o mercado de trabalho pede de seis meses a um ano de experiência na função, mas se pintar alguma outra vaga eu aceito", enfatiza.

Demitido na quarentena

Já o jornalista Vinicius Lecci, 36 anos, foi alvo da demissão em meio à crise propiciada pelo novo coronavírus, no último dia do mês de março. O comunicador, que optou por procurar trabalho pela internet, chegou a participar de um tipo de entrevista de emprego por telefone.

O jornalista Vinicius Lecci foi demitido bem no início da quarentena e tem buscado recolocação pela internet. Foto: arquivo pessoal

"Foi um bate-papo bem informal para uma das vagas, onde o recrutador tirou algumas dúvidas sobre minha carreira, meu currículo e me passou informações sobre o trabalho", lembra.

Além das suas especialidades, que são a redação e a produção de conteúdo, Lecci conta que tem explorado novas possibilidades na tentativa de recolocação. "Quando vejo algo relacionado, como vagas de social media que tenha foco em conteúdo, me inscrevo também", relata o profissional.

"Em tempos de crise econômica e de pandemia, me mostro bem aberto a aceitar algo que vier", completa.

Mesmo com a crise que também atingiu algumas redações jornalísticas em todo o país, Lecci acredita que o mercado deve voltar se movimentar quando o período de recessão acabar, mas teme pela redução nos rendimentos mensais da categoria.

"Como demitiram, vão precisar recontratar. Porém, vejo que empresas dispensaram  profissionais com salários maiores do que pretendem oferecer, mesmo que para a mesma função", projeta o jornalista, que aguarda o fim da pandemia para dar sequência em alguns processos seletivos em que se inscreveu.

Dicas 

A analista e consultora de Recursos Humanos Priscila Siciliano alerta os candidatos a recolocação profissional a se manter sempre preparados e aproveitar o potencial sem temer.

"Existem várias pessoas com potencial gigantesco mas que se limitam por medo. O medo não pode ser inimigo e sim um aliado. Indico sempre a  ampliação da rede de contatos, currículo sempre atualizado para que possa desfrutar das oportunidades", pontua.

Para ela, em tempo de pandemia, as próprias contratantes tomaram a frente e alteraram o modelo de diversos processos seletivos. "As conferências se tornaram tendência e nossas dinâmicas de grupo estão sendo abolidas. Hoje o pessoal se ajusta rápido ao que a empresa necessita", explica a especialista.

Segundo ela, o processo que envolvia muitos profissionais em um ambiente está sendo substituído por um diálogo junto aos postulantes às vagas. "Quando necessário, há a substituição por conversas com psicólogos, que realizam a interlocução com os candidatos direcionando ao cargo que irá desempenhar e suas peculiaridades", realça.

A especialista ainda recomenda pontos que podem ser diferenciais no momento de procurar emprego no período de crise sanitária. "A escolha de um local menos conturbado da casa, a pontualidade e a opção pelo uso de trajes adequados em uma entrevista remota são fundamentais", aponta.

Segundo Priscila, além de se preocupar com os detalhes que podem fazer a diferença na seleção, é importante ser claro com o recrutador nos aspectos profissionais e até mesmo se houve interferências externas durante o tempo de entrevista.

"Caso algum ruído externo ocorra, peça um instante ao interlocutor e continue a conversa. Durante a conferência, procure olhar sempre para câmera e deixe um copo com água próximo para que, nos intervalos das considerações dele, você possa recuperar o fôlego e se sentir mais confortável com a explanação", complementa.

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