Ex-gerente de banco é acusado pela PF de desvio milionário
Parte dos valores obtidos de forma fraudulenta deveria ser destinado para concessão de créditos a micro e pequenas empresas e microempreendedores individuais do Nordeste
A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (15) a Operação Escaparate, que investiga crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, de lavagem de dinheiro e de organização criminosa. Essa é a terceira fase da Operação Impunitas, que mira organização criminosa instalada na agência do Banco do Nordeste de Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco. Um ex-gerente da instituição é apontado como líder da organização cujas fraudes resultaram em prejuízos aos cofres públicos superiores a R$ 10 milhões.
Nesta manhã, a operação teve finalidade de cumprir um mandado de prisão preventiva, um mandado de busca e apreensão, bloqueios de contas bancárias de 11 pessoas físicas e jurídicas, sequestro de bens e afastamento de sigilo fiscal de nove pessoas físicas e jurídicas, além da intimação de oito pessoas identificadas como supostos "laranjas". Os mandados estão sendo cumpridos em Surubim, no Agreste, e região.
O caso é investigado desde março de 2019. As duas primeiras fases da Operação impunitas resultaram no cumprimento de 15 mandados de busca e apreensão, dois de prisão preventiva, além do bloqueio de valores e sequestro de bens dos investigados. As ações culminaram na identificação do ex-gerente da agência do Banco do Nordeste em Santa Cruz do Capibaribe como líder e no indiciamento de 30 pessoas por envolvimento nas práticas criminosas.
Segundo a Polícia Federal, o ex-gerente foi responsável por atos de gestão fraudulenta que facilitaram o acesso dos demais integrantes da organização a altas somas de valores em espécie decorrentes de operações de créditos ilegítimas, subsidiadas por documentos produzidos com essa finalidade e sem qualquer relação com a realidade dos fatos. A maior parte dos valores disponibilizados pelo banco eram destinados ao líder do grupo e seus comparsas mais próximos.
As análises das quebras dos sigilos bancários dos investigados apontaram que, entre 2016 e 2020, eles movimentaram valores na ordem de R$ 379,4 milhões, o que, segundo a PF, demonstra a capacidade operacional dos investigados.
Do dinheiro obtido de forma fraudulenta, pelo menos R$ 19,9 milhões tiveram origem no Fundo Constitucional de Desenvolvimento ao Nordeste. Esse recurso deveria ser destinado ao desenvolvimento do Nordeste, por meio de concessão de créditos a micro e pequenas empresas e microempreendedores individuais. A investigação da PF constatou que o gerente, após ser denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), continuava a praticar os mesmos crimes, desta vez, na agência do Banco Itaú, também em Santa Cruz do Capibaribe.
Os novos delitos vieram à tona por meio do recebimento de dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Os dados apontam que de 1 de outubro de 2019 a 8 de abril de 2020, ou seja, após o término das duas primeiras fases, o suspeito movimentou R$ 4.012.208 com fracionamento de valores entre contas de sua titularidade e de novas empresas de fachada, com finalidade de dissimular a origem ilícita. As investigações continuam para apurar a participação de terceiros e práticas de outros crimes.